Obituário

Locutor da rádio Atividade FM morre aos 38 anos, por complicações da covid-19

Bruno Morett morreu na tarde desta sexta-feira (23/4), após duas paradas cardiorrespiratórias. O radialista estava internado em estado gravíssimo, mas só dois dias depois conseguiu um leito de UTI

Ana Isabel Mansur
postado em 23/04/2021 23:13 / atualizado em 26/04/2021 16:52
O radialista deixa dois filhos, de 11 e 8 anos -  (crédito: Redes sociais)
O radialista deixa dois filhos, de 11 e 8 anos - (crédito: Redes sociais)

Morreu, na tarde desta sexta-feira (23/4), o locutor da rádio Atividade FM Bruno Morett, 38 anos, devido a complicações pela covid-19. Na madrugada de terça (20/4) para quarta-feira (21/4), o radialista foi internado em estado gravíssimo, no Hospital Regional da Ceilândia (HRC). Em seguida, precisou ser intubado. Bruno sofreu duas paradas cardiorrespiratórias e não resistiu.

O radialista chegou ao HRC com saturação entre 60% e 62% — o nível normal é de 95% a 100%. Em casa, antes de ser socorrido, Bruno estava com a oxigenação em 48%, taxa que só aumentou depois de o paciente receber oxigênio dentro da ambulância, a caminho do hospital.

Bruno só conseguiu um leito de unidade de terapia intensiva (UTI) na manhã desta sexta-feira (23/4), no Hospital Regional de Santa Maria (HRSM), porém a transferência ocorreu por volta das 16h. No caminho para a unidade de saúde, o locutor acabou morrendo. Ele deixa dois filhos: Pedro, 11 anos, e Alice, 8.

Sem atendimento

Nas redes sociais, amigos lamentaram a morte de Bruno. Ele apresentava os programas Coração Sertanejo e Show da Tarde na emissora de rádio, onde trabalhava de segunda a sexta-feira, das 13h às 16h. Antes, Bruno havia sido locutor na Clube FM, na JK FM, na OK FM, na Supra FM e na Sara Brasil.

Ex-mulher de Bruno, com quem teve dois filhos, a auxilir de biblioteca Tatyanne Silva de Souza, 35, conta que ele ligou a ela para pedir ajuda. "Foi de madrugada, ele apresentava falta de ar. Antes de ir à casa dele, liguei para o Samu, para adiantar o atendimento, mas não aceitaram minha ligação. Alegaram que apenas o paciente poderia pedir atendimento. Falaram 'Como vamos saber se não é trote?'", relata.

Tatyanne ligou para Bruno e explicou a situação. "O coitado teve de ligar para o Samu, na condição horrível em que estava. Muito ruim essa situação toda", lamenta. "Meus filhos não querem ir ao enterro, não querem ver o pai morto. Isso de não podermos nos despedir de verdade de quem morre de covid-19 interfere muito. O ciclo do luto não é fechado", completa.

Procurada pela reportagem para se explicar o motivo de o Samu não ter atendido o pedido de socorro, a Secretaria de Saúde do Distrito Federal afirmou que "toda a atuação da equipe ocorreu conforme determina a legislação e que está à disposição para esclarecimentos que se fizerem necessários."

Leia a nota na íntegra:

O Samu-DF 192 informa que P.B.R.A.F. solicitou e foi atendido pelo serviço móvel, sendo removido ao Hospital Regional de Ceilândia (HRC).

O Samu esclarece que recebeu um chamado de um amigo (Igor) de Pedro Bruno às 03h12 do dia 21/04. O amigo informou que não estava no local e que Pedro Bruno sentia falta de ar. O médico regulador solicitou mais informações sobre o quadro clínico para que pudesse classificar a gravidade e identificar se havia necessidade de viatura e o tipo mais adequada, porém o solicitante não possuía informações suficientes. O médico regulador orientou , então, que se o próprio paciente conseguisse ligar seria possível uma melhor avaliação e classificação de gravidade.

O processo de trabalho do Samu envolve uma central de Regulação Médica definida e regulamentada por portarias do Ministério da Saúde. Ao médico regulador compete julgar e decidir sobre a gravidade de um caso, estabelecendo uma gravidade presumida e julgando a necessidade ou não do envio de meios móveis de atenção. Além disso, de posse das informações, pode definir o envio de motolância, unidade de suporte básico, unidade de suporte avançado ou serviço aeromédico.

Quando o solicitante não está no local, a informação sobre o caso é limitada e isso prejudica a tomada de decisão pelo regulador.

Na nota técnica do Samu-DF já publicada no site da SES/DF, nos casos de falta de ar, a orientação é que o regulador deve sempre pedir para falar com o paciente para melhor avaliação da situação. Na ocorrência em questão, médico regulador atuou conforme determina a nota técnica.

Além disso, quando o solicitante está no local, o médico regulador tem a possibilidade de orientar medidas de reanimação cardiopulmonar, manobras de desengasgo e outras medidas como contenção de sangramentos e proteção de vias aéreas quando indicado. Estando o solicitante no local, o SAMU-DF também evita o envio de viatura para endereços errados (quando o solicitante informa um endereço diferente de onde o paciente está), reduz a chance de trotes e evita o envio de viaturas em situações em que o paciente já foi removido para o hospital por outro parente ou vizinho.

Neste caso, o solicitante foi devidamente orientado para que o paciente ou alguém próximo a ele retornasse a ligação ao SAMU. Logo em seguida o próprio paciente Pedro Bruno ligou foi atendido pelo médico regulador que, prontamente, enviou equipe às 3h20 do dia 21/04. O paciente foi imediatamente encaminhado e atendido no HRC.

O Samu-DF 192 esclarece que toda a atuação da equipe ocorreu conforme determina a legislação e que está à disposição para esclarecimentos que se fizerem necessários.

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