Retomar os eventos no Distrito Federal representa risco de crescimento de diagnósticos da covid-19. Essa é a avaliação de especialistas, que consideram a medida precipitada. “Estão diminuindo os casos, mas isso é um retrato de duas ou três semanas atrás, não é de agora. Se você reabre, daqui a duas semanas, você vai ver o efeito disso”, pondera o epidemiologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Diego Xavier. A taxa de transmissão do novo coronavírus no DF está em 0,93, segundo o último boletim epidemiológico da Secretaria de Saúde — quando 100 pacientes passam a doença para 93 pessoas.
No fim de semana, o governador Ibaneis Rocha (MDB) declarou que pretende liberar a realização de eventos com 25% da capacidade de público. “Inevitavelmente vai ter aumento de ocorrências graves e número de óbitos, não tem mágica ou solução fácil”, alerta Diego Xavier. “É um momento de cautela em que se precisa retomar atividades, mas precisa tomar cuidado ao reabrir para eventos, porque é uma situação que faz com que as pessoas saiam de casa para entrar em contato com várias outras pessoas, não é razoável fazer isso”, ressalta o pesquisador.
“Se não tiver fiscalização, vai ter lotação superior (aos 25%), e precisa punir quem está fazendo esse tipo de evento”, o epidemiologista. Xavier ressalta que medidas de flexibilização só devem ser aplicadas em cenários em que haja o controle das transmissões e a capacidade da rede hospitalar de receber os casos mais graves. No DF, a taxa de ocupação dos leitos públicos de unidades de terapia intensiva (UTIs) adulto para pacientes com covid-19 está em 94,12%.
O microbiologista Bergman Ribeiro, da Universidade de Brasília (UnB) avalia, ainda, que, com a circulação de variantes, o novo coronavírus se tornou mais transmissível. “As pessoas, saindo mais, vão se infectar mais. Vai aumentar o número de jovens internados com a nova abertura”, afirma o professor.
Entre os 7.978 casos ativos da doença no DF, 3.950 são pacientes com até 39 anos, o que corresponde a 49,5% dos casos. “A transmissão está alta, tem muita gente se infectando, tem muita gente na UTI, e essa doença não é brincadeira”, acrescentou.
Na semana passada, o governo amenizou as restrições ao funcionamento do comércio: shoppings podem abrir das 10h às 22h, os bares e restaurantes podem funcionar das 11h às 23h, e o toque de recolher ficou para mais tarde, das 0h às 5h.
Justiça
Tramita, no Superior Tribunal de Justiça (STJ), um recurso do Ministério Público Federal (MPF) que pede a restituição da decisão do Tribunal Regional da 1ª Região (TRF-1) que determinou a retomada das restrições a atividades não essenciais no DF. Em abril, o presidente da Corte, Humberto Martins, decidiu pela suspensão da medida tomada na primeira instância por considerar que a definição sobre lockdown caberia ao Executivo. Agora, a Corte Especial do STJ vai avaliar o recurso do MPF contra a decisão monocrática do ministro. Procurado, o GDF não se manifestou.
No recurso, o subprocurador geral da República Nicolao Dino, que pede a manutenção de medidas restritivas à mobilidade urbana, argumentou que “é legítimo ao Judiciário verificar se as medidas adotadas pelo governo promovem eficaz, adequada e suficiente proteção da coletividade, no tocante ao direito à vida e à saúde pública”. Para ele, “há uma escalada no risco de iminente colapso do serviço de saúde público e privado no Distrito Federal, não se justificando, dessa maneira, o relaxamento de tais medidas”.
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