Saúde

Brasilienses com fenda labial ou palatina têm vida transformadas

Atuação do Hospital Regional da Asa Norte transforma a vida de crianças e adultos que sofrem com a alteração que acontece durante os três primeiros meses de gestação

Rafaela Martins
Juliana Pimentel
postado em 19/06/2021 12:50 / atualizado em 21/06/2021 15:13
Alexia Fiori tem uma vida confiante devido à correção de uma fenda labial -  (crédito: Arquivo Pessoal)
Alexia Fiori tem uma vida confiante devido à correção de uma fenda labial - (crédito: Arquivo Pessoal)

Alexia Fiori é apaixonada pela área da saúde. Aos 24 anos, a jovem é enfermeira e sabe, como ninguém, o devido valor do amparo médico adequado. Com um ano e seis meses de vida, ela conseguiu ser operada para a correção de uma fenda que dividia o lábio superior em dois.

“Qualquer pessoa que tem anomalia facial precisa lidar com o jeito que as pessoas te olham, você não consegue passar despercebido, nem disfarçar, pois é algo que está no rosto”, reflete.

O procedimento não foi o único a que Alexia precisou se submeter. No ano passado, corrigiu um desvio de septo, o que lhe garantiu melhor respiração, já que é asmática. “Tive que fazer uma cirurgia plástica funcional. Nasci com desvio de septo, minha concha nasal era muito baixa. Para isso, tive que usar aparelho para consertar a arcada dentária antes. Minha cirurgia demorou 9 horas, meu nariz foi quebrado em seis partes e precisou de enxerto ósseo para ser remodelado”.

Moradora de Taguatinga Norte, a jovem enfermeira está satisfeita com o resultado das intervenções, um desenlace feliz.

Em meio à pandemia de covid-19, o Hospital Regional da Asa Norte (Hran) tornou-se referência no combate à doença, mas é a expertise em outros atendimentos, como o ligado à deformidade congênita de fissura labiopalatina, que garante mais finais felizes como o de Alexia.

Esse tipo de alteração acontece ainda na vida intrauterina, pois o lábio e o céu da boca desenvolvem-se separadamente durante os três primeiros meses de gestação. Entretanto, em alguns casos, essa separação não acontece como o esperado. A fenda labial e a fenda de palato podem acontecer de modo separado (só labial ou só palato) ou associado (labiopalatal).

 

No DF, esses casos totalizaram mais de 60 cirurgias realizadas no Hospital da Criança (HCB), por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), entre dezembro de 2019 e maio de 2020, já que, com o avanço da covid-19, o atendimento do Hran, que fazia o encaminhamento dessas cirurgias, ficou exclusivo para os doentes da pandemia. Em 2021, as cirurgias eletivas voltaram a acontecer, mas ainda não recuperaram o ritmo anterior.

O serviço existe há décadas, mas a criação da unidade de atendimento, com uma equipe de profissionais exclusiva, foi oficializada em 5 março de 2013, de acordo com o Diário Oficial do Distrito Federal (DODF). Médicos, psicólogos, dentistas, assistentes sociais, enfermeiros, fonoaudiólogos e outros participam no processo de intervenção e recuperação dos pacientes. A ocorrência de fenda labial e fissura de palato é a segunda maior causa de má formação no mundo, atrás apenas dos casos de pé torto congênito.

Operações na infância

A avó de Lucas Alves Maria Da Conceição Silva, 49 anos, passou por um processo delicado com o neto, ao descobrir que ele tinha nascido com a fenda labiopalatal. “Durante o pré-natal do Lucas, que foi feito pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o médico pediu um ultrassom para ver como estava o bebê. Assim, descobrimos que ele tinha a fissura de lábio, mas não conseguimos ver a de palato”, contou.

Somente quando Lucas nasceu, o médico pôde observar a fenda do palato, e logo encaminhou o menino para um cirurgião plástico. “Foi um diagnóstico precoce, graças a Deus. O Lucas foi bem atendido pela equipe do hospital, que ficou aguardando ele ganhar peso para fazer a cirurgia do lábio primeiro, para ele ter uma melhora na deglutição”, relata a avó. A cirurgia foi realizada aos seis meses de vida.

O médico e cirurgião plástico Marconi Delmiro, contou que, a cada três minutos, nasce uma criança com fissura no mundo. Ele foi médico do neto da Maria Conceição, no Hran, onde coordena a equipe de cirurgiões da ala de fissuras labiopalatais. O doutor explicou que existe um protocolo vigente para que as cirurgias ocorram de acordo com a faixa etária.

Para fissuras labiais, é necessário que o bebê tenha pelo menos seis meses de vida. Já para fissuras de palato, é necessário que a criança tenha pelo menos um ano.

“Com um aninho, Lucas fez a cirurgia do palato. O processo é longo né, mas posso falar que a vida do Lucas mudou. Ele tem qualidade de vida, não usa mais sonda, não se engasga com frequência e esteticamente mudou muito, posso dizer que da água para o vinho. Hoje, com três anos, ele se alimenta bem, come tudo bem amassadinho, mas nada de coisa sólida ainda. E isso tudo eu devo ao doutor Marconi, ele é um cirurgião excelente, um anjo na vida dessas crianças” falou a avó.

O cirurgião plástico contou que, antes da pandemia da covid-19, quatro crianças eram operadas por semana no Hran. Hoje, somente duas cirurgias são realizadas. Ou seja, o atendimento caiu pela metade. Além disso, fala-se muito de crianças com fissuras, mas 25% dos adultos também são acometidos por esse problema e podem procurar o hospital para agendar consulta. Primeiro, os médicos encaminham, depois agendam o paciente. Assim, ele passará por atendimento, e o caso será avaliado.

Como Lucas, a Maria Beatriz Neves nasceu com fissura labiopalatal. Hoje, com 10 anos, a menina possui uma vida tranquila. “A Maria, com três meses, fez a primeira cirurgia dela, a do lábio, com seis meses ela fez o palato duro, e com um ano, ela já fez o palato mole. Foi tudo muito rápido”, afirmou a mãe, Elivania Ribeiro, 44 anos.

Maria foi diagnosticada durante a gravidez, o que facilitou no processo de buscas por informações e tratamentos. Quanto antes a criança operar, mais chances tem de obter um resultado positivo em relação a fala, deglutição e outros aspectos.

“A Maria Beatriz tá muito bem, tá ótima. A cicatrização também foi perfeita, não tenho do que reclamar da voz dela também. A fala tá muito boa, ela melhorou muito. Depois dessas três cirurgias, né? Ela já tava com um aninho quando começou o tratamento com uma fonoaudióloga do Hospital Universitário de Brasília (HUB), e aí, desde então, ela faz acompanhamento”, disse Elivânia.

Outros serviços de referência

A Unidade de Queimados, do Hospital Regional da Asa Norte (Hran), é referência no DF e no Entorno desde 1988. Mesmo com a pandemia, a ala não parou de receber pacientes. Somente em 2020, foram realizados 9.644 atendimentos.

Atualmente, os que chegam para tratar queimaduras precisam fazer primeiro o teste para a detecção da covid-19. Somente após o resultado negativo é que são encaminhados para a Ala dos Queimados. A média de internação anual é de 270 pacientes.

Desde o início da pandemia, em março de 2019, o Hospital Regional da Asa Norte (Hran) tornou-se referência no tratamento de pacientes infectados pela covid-19. Houve uma mudança estrutural no hospital como as reformas de box de emergência, ampliação da Unidade de Terapia Intensiva (UTI), otimização da Central de Material e Esterilização (CME) e a criação de uma triagem específica para identificar pacientes suspeitos e confirmados.

Além disso, o hospital criou um Ambulatório de Egressos, para prestar assistência aos pacientes recuperados, onde são feitos exames pulmonares e motores para avaliar a real situação dos pacientes.

* Estagiária sob a supervisão de Juliana Oliveira

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    Após o diagnóstico, a família do pequeno Lucas viveu momentos de angústia Foto: Arquivo Pessoal
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    Operada aos três meses, Maria Beatriz se desenvolve plenamente e recebe acompanhamento  Foto: Arquivo Pessoal
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    Arquivo Pessoal Foto: Arquivo Pessoal
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