CASO LÁZARO

Para investigadores, suspeita de que Lázaro não agia sozinho ganha mais força

Com fim do inquérito policial focado em Elmi Caetano Evangelista, preso na última quinta-feira, Ministério Público de Goiás formalizou acusação contra ele. Moradores de imóveis próximos às áreas das buscas temem pelo desdobramento das investigações

Ana Isabel Mansur; Darcianne Diogo; Jéssica Moura; Luana Patriolino
postado em 01/07/2021 06:00 / atualizado em 02/07/2021 11:22
O fazendeiro Elmi Caetano Evangelista, 74 anos, preso na quinta-feira passada (24/6) -  (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)
O fazendeiro Elmi Caetano Evangelista, 74 anos, preso na quinta-feira passada (24/6) - (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

A morte de Lázaro Barbosa de Sousa, 32 anos, em confronto com a polícia de Goiás na segunda-feira (28/6), está longe de encerrar o ciclo de terror e mistérios sobre os 20 dias de buscas ao foragido. Com pelo menos oito inquéritos abertos por homicídio e latrocínio, além de condenações por estupro, roubo e porte de armas, o criminoso tem rendido à polícia suspeitas cada dia mais robustas de que não agia sozinho. A caçada contra ele começou após o assassinato da família Marques Vidal, em Ceilândia Norte, em 9 de junho.

Na quarta-feira (30/6), Elmi Caetano Evangelista, 74, foi indiciado pela Polícia Civil de Goiás por posse ou porte ilegal de arma de fogo e favorecimento pessoal — quando alguém atua para impedir que as autoridades alcancem um acusado de cometer crimes. O fazendeiro estava preso desde a última quinta-feira no presídio de Águas Lindas (GO). Com o fim do inquérito, o Ministério Público de Goiás (MPGO) o denunciou à Justiça por auxiliar na fuga de Lázaro e por ter armamento com identificação apagada ou adulterada — uma espingarda de ar comprimido modificada para disparar munição de calibre 22, portanto, sem registro —, além de 49 balas do tipo. Somadas, as penas podem chegar a, no mínimo, nove anos de prisão.

Na denúncia, a promotora de Justiça Gabriela Starling alega que Elmi Caetano acobertou Lázaro por, ao menos, seis dias, apesar dos esforços policiais para encontrar o criminoso. O fazendeiro ofereceu repouso, comida e o escondeu na propriedade, de maneira a atrasar e dificultar o trabalho dos agentes. O acusado teria despertado a atenção das equipes da força-tarefa por ter trancado com cadeado todos os acessos ao imóvel, enquanto outros moradores da região deixavam as porteiras abertas, para facilitar as investigações.

O documento do MPGO detalha que a polícia apreendeu, por meio de ordem judicial, armas, munição e o celular de Elmi Caetano. O aparelho teria mensagens que confirmariam a ajuda recebida por Lázaro — cujo cheiro havia sido identificado por cães farejadores no endereço. Por fim, a promotora pediu que a polícia investigue o filho do acusado, diante da existência de indícios da participação dele no crime de favorecimento pessoal. À Justiça, cabe aceitar ou rejeitar a denúncia.

Funcionário de Elmi Caetano havia menos de um mês, o caseiro Alain Reis, 34, foi detido com o patrão, mas liberado no dia seguinte. A polícia não o indiciou e, para o MPGO, ele não teve “domínio ou conhecimento” sobre as ações do fazendeiro. Sobre o indiciamento, o delegado Rafhael Neris Barboza, titular da Subdelegacia de Polícia de Cocalzinho de Goiás, considerou que Elmi Caetano dificultou o trabalho da polícia “de todas as formas” possíveis. A defesa do acusado informou que, por enquanto, não se manifestará sobre o assunto.

  • Maria Marques (E) e Maria do Carmo sentiram alívio com o fim das buscas, mas demonstram preocupação com possíveis comparsas de Lázaro
    Maria Marques (E) e Maria do Carmo sentiram alívio com o fim das buscas, mas demonstram preocupação com possíveis comparsas de Lázaro Minervino Júnior/CB/D.A Press

Ligações

Os chacareiros da região viveram momentos de tensão durante as quase três semanas em que Lázaro ficou foragido. Uma moradora do setor de chácaras de Águas Lindas (GO) disse que ainda não conseguiu se livrar do medo. “Como passamos 20 dias com muito trauma, estamos inseguros, sim. Evitamos sair (durante as buscas) e, agora, continuamos a vida com muito medo, porque minha chácara é afastada das outras casas. Estamos com tudo trancado”, relatou a aposentada de 68 anos, que preferiu não se identificar.

Diante da ameaça e da possibilidade de que Lázaro entrasse nas propriedades, alguns donos de chácaras reforçaram a segurança. Além de manter os portões fechados com correntes e cadeados, cães de guarda se tornaram aliados. “Mudou muito a segurança. Temos mais cachorros, agora. São três. Posso dormir direito, mas (a situação) ainda preocupa”, comentou a produtora rural Divina Lima, 24 anos. Durante a investigação, policiais encontraram um pano sujo de terra e um serrote na propriedade dela. Os itens, que passaram por perícia, haviam sido associados a Lázaro. “Eu não estava nem dormindo aqui (na chácara). Fui para a casa da minha sogra, porque meu marido trabalha à noite e fiquei com medo de ficar só (no imóvel)”, desabafou a jovem.

O fim da megaoperação de buscas pelo fugitivo, que envolveu mais de 270 policiais militares, civis e federais do Distrito Federal e de Goiás, gerou um pouco de alívio entre trabalhadores rurais da região. “Minha chácara é aberta, não é murada, mas me controlei (quanto ao medo)”, relatou Maria do Carmo, 60. “Foi muito difícil, mas Deus estava na frente e nos livrou.”

No entanto, a continuação das investigações para apurar a existência de comparsas de Lázaro tira o sossego da população. A auxiliar de higiene e alimentação Maria Marques, 43, ficou uma semana sem deixar a chácara. “É muito estranho uma pessoa ter andado tanto. Não tem condição. Quem é, quem são (os colaboradores)? Será que é só aquele que foi preso (Elmi Caetano)? Falam que tem mais gente, e ficamos meio aflitos. Será que é de perto, de longe, será que a gente conhece?”, questionou.

O corpo de Lázaro foi retirado do Instituto Médico Legal (IML) de Goiânia nessa quarta-feira (30/6), dois dias após a morte, e seguiu para o Distrito Federal para ser preparado para o enterro. A família não divulgou a data nem o local do sepultamento, para garantir a segurança e a privacidade dos parentes do acusado, que temem ataques.

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