Entrevista Jonas Brant

Para coordenador da sala de situação da UnB, momento é de cautela em relação à covid-19

Em entrevista ao CB.Saúde, Jonas Brant, coordenador da sala de situação da UnB, falou sobre o contexto da pandemia e o aumento de internações entre não vacinados

Jéssica Gotlib
postado em 01/10/2021 06:00
Professor e pesquisador Jonas Brant reiterou a necessidade de a população receber a imunização -  (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
Professor e pesquisador Jonas Brant reiterou a necessidade de a população receber a imunização - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

O aumento da cobertura vacinal e o relaxamento das medidas de restrição à circulação de pessoas podem dar a falsa sensação de segurança e colocar em risco os avanços conquistados no combate ao coronavírus. Foi o que afirmou o sanitarista, professor e coordenador da sala de situação da Universidade de Brasília (UnB), Jonas Brant. Ontem, em entrevista ao CB.Saúde — parceria do Correio com a TV Brasília —, ele alertou que, pelo mundo, as UTIs estão sobrecarregados com pessoas que não receberam vacinação ou não completaram o esquema vacinal e abandonaram os protocolos de segurança acreditando estarem imunes, um cenário que inspira cautela. Respondendo à jornalista Carmen Souza, o sanitarista explicou que nos últimos 14 dias, a reprodução do vírus aumentou entre 20% e 30%, e foi categórico ao afirmar que “não é possível imunidade de rebanho” para o vírus do tipo Sars Cov 2, causador da covid-19, e que a população precisa completar o ciclo vacinal, com duas doses no caso da Coronavac, Astrazeneca e Pfizer, e dose única para a Jansen, além das doses de reforço para o público de risco. Confira alguns trechos da entrevista.


Quais são os sinais deixados por setembro para a população do DF com relação à covid-19?
Olha, a gente pode destacar alguns sinais positivos: nós reduzimos o número de casos, a população vem retornando às suas atividades rotineiras, as atividades escolares voltaram. Mas a gente também pode apontar algum cenário de preocupação. Nós não tivemos a variante delta subindo como se esperava no mês de setembro. Ao mesmo tempo, a gente vê, nas últimas duas ou três semanas, um aumento importante do número de casos em Brasília. Nos últimos 14 dias, o “R”, que é a taxa de reprodução da epidemia, teve de 20% a 30% por cento mais casos a cada semana. É muito preocupante, porque, por enquanto, o número de casos está relativamente baixo, mas com essa proporção de crescimento podemos atingir níveis preocupantes no futuro. Então, esse também é um mês de alerta para que a gente possa retornar as atividades sem esquecer que o cenário não é confortável.

As pessoas esperavam uma nova explosão de casos com a chegada da variante Delta e têm a impressão de que isso não ocorreu. Esse aumento das transmissões em setembro é um indicativo da força da variante delta?
O aumento é sim um indicativo da força da variante delta. A gente esperava que ele ocorresse há algumas semanas, mas não ocorreu, mesmo com as pessoas convivendo mais na sociedade. Nós ainda não temos clareza exata dos motivos, mas a preocupação é que se a gente não estiver atento nesse momento, com o aumento da atividade das pessoas, a delta pode ganhar velocidade. A gente viu um R de 1.3, é muito alto para o cenário atual. Por enquanto, nós estamos muito longe de chegar ao cenário que tivermos em outras fases da epidemia, mas não devemos descuidar porque é nesse momento que podemos conter esse crescimento. Quando a transmissão ganha velocidade, é muito difícil conseguir reverter a situação.

Teoricamente, a gente está se aproximando da chamada imunidade de rebanho, isso realmente vai acontecer?
É importante a gente entender que cada vírus tem uma característica. Os coronavírus, nós já sabíamos antes da covid, que a imunidade, depois de algum tempo, começa a cair. Por isso, nós estamos agora trabalhando com a dose de reforço. Essa imunidade de rebanho que alguns chegaram a cogitar não é possível com os coronavírus. Nós vamos ter que pensar em uma vacinação de reforço agora, como a terceira dose, vamos ter que pensar em reforços futuros e não vamos poder descuidar da vigilância. É um novo vírus que vem para conviver com a nossa sociedade da mesma forma que nós temos os vírus respiratórios, como influenza.

Esta semana tem um número que é um alerta nesse sentido, né? A média móvel de mortes subiu 67% em relação a 14 dias atrás. Quais seriam as razões?
São vários fatores somados. Nós temos uma variante nova que a população ainda não tem imunidade, temos uma população que volta a ter suas atividades rotineiras e temos pessoas que não receberam imunidade. No mundo inteiro, as UTIs estão sendo sobrecarregados com pessoas que não receberam vacinação ou não estão com a vacinação completa. Temos visto muitos casos em que as pessoas recebem uma dose e acham que estão imunizadas. Não. A primeira dose tem um efeito do organismo conhecer o vírus e gerar os primeiros anticorpos. Mas é a segunda dose da vacina que vai garantir que o nível de anticorpos fique alto por um bom tempo. Outro fator que começa a aparecer nas hospitalizações são pessoas que estão há mais de seis meses com a segunda dose. A gente começa a ver agora uma queda da imunidade e, daí, a necessidade dessa terceira dose de reforço.

A entrevista completa pode ser vista no site ou nas redes sociais do Correio.

 

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