Pandemia

Alta taxa de transmissão e flurona motivam cancelamento do carnaval

Governo do Distrito Federal cancela desfiles, blocos, bailes e todo tipo de manifestação que provoque aglomeração. Decreto com novas regras deve ser publicado nos próximos dias. Nessa quinta-feira (6/1), a capital do país registrou taxa de transmissão de 1,45

Samara Schiwngel
postado em 07/01/2022 06:00
 (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)
(crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

A menos de dois meses do carnaval, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), informou que vai publicar um decreto nos próximos dias determinando a proibição dos eventos de comemoração da festa do Rei Momo na capital do país, entre outras regras para o período, no entanto, não avalia voltar com a obrigatoriedade de máscaras em ambientes públicos abertos. O secretário de Cultura, Bartolomeu Rodrigues, confirmou o cancelamento da folia e taxou: "O martelo está batido". A decisão ocorre em meio a casos de flurona (dupla infecção) e ao aumento da taxa de transmissão da covid-19. Entre os blocos tradicionais de rua, a medida repercutiu sem contestação. Já empresários que programam eventos pretendem argumentar com o Executivo local.

Em nota oficial, o Governo do Distrito Federal (GDF) afirma que optou por cancelar desfiles, bailes e todo tipo de manifestação que provoque aglomeração, para a "redução dos riscos de contágio." De acordo com o texto, o aumento da infecção pela covid-19 agregado à nova variante da influenza pesaram para o veredito. Ontem, a taxa de transmissão do novo coronavírus estava em 1,45 — quando 100 infectados passam o vírus para 145 pessoas —, acima do considerado seguro pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Foram 1.451 casos e uma morte registrada entre quarta-feira e ontem. Até o momento, o DF identificou 89 casos de flurona — infecção dupla por influenza e novo coronavírus.

Para Paulo Henrique de Oliveira, presidente da Liga dos Blocos Tradicionais de Brasília — que reúne algumas das entidades mais célebres da capital como Galinho, Raparigueiros e Baratona —, a decisão do governo foi correta, apesar de impactar o planejamento dos blocos. "Com a nova variante da covid-19 e os casos de influenza, entendemos que é melhor não termos festas", avalia Paulo. Sobre o futuro, ele adianta que não há muita animação na Liga. "Será um ano muito difícil, de trabalho triplicado para fazer a festa acontecer com força", diz.

Rony Neolly, 38 anos, está à frente do bloco Eduardo e Mônica há cinco anos. Ele afirma que os colegas receberam a notícia com tristeza, mas que não pretendem contestar a decisão. "A ciência tem prioridade. Estamos vendo o cenário da pandemia e entendemos e respeitamos", diz. Sobre tudo o que havia sido planejado até agora, Rony considera que será possível reaproveitar. "A partir do momento que a gente puder realizar algum evento e se ainda for em uma data próxima ao carnaval, podemos fazer uma comemoração simbólica. Se não, deixamos para o ano que vem", frisa. Para ele, o prejuízo deste ano só não será maior que o de 2021 devido aos eventos de pré-carnaval realizados no último mês.

Expectativa abalada

Desde dezembro de 2021, depois que shows e festas foram liberados na capital, era possível ver divulgação de venda de ingressos para celebrações privadas de carnaval. Com o cancelamento, o Sindicato de Eventos do DF (Sindieventos) ressalta que muitos empresários serão prejudicados. O presidente da entidade, Luis Otávio Rocha, explica que a decisão pegou o setor de surpresa. "Recebemos a notícia com muita preocupação, porque, agora, com a vacinação, é possível que eventos particulares possam acontecer. O comum é que a maioria siga os protocolos de prevenção", defende. Luis Otávio revela que a categoria pediu uma audiência com o GDF para reavaliar a decisão.

O presidente da Associação Recreativa Cultural Unidos do Cruzeiro (Aruc), Rafael Souza, diz que a medida foi uma surpresa, mas que será respeitada. "(O cancelamento) era uma possibilidade, mas esperava não ser necessário. De todo modo, ainda temos a alternativa de atividades on-line", considera. Ele vai aguardar a publicação do decreto para tomar decisões. Segundo ele, 2022 será para focar nos preparativos para a retomada dos desfiles. "Para este ano, teremos algumas ações como cursos de capacitação e apoio para atividades permanentes, com recursos da Secretaria de Cultura", frisa. 

 

Covid-19 em números

75,72%
da população total com a primeira dose


71,65%
da população total com ciclo vacinal completo


495.461
doses de reforço aplicadas


11.116
mortes devido à complicações da doença


523.351
casos de infecções


*População total do DF: 3.052.546

 


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Atendimento na rede pública

A Secretaria de Saúde conta com 177 leitos para atender pacientes com covid-19 ou síndrome respiratória, sendo 100 exclusivos para o novo coronavírus. Do total, 38 estão ocupados. Nos últimos dias, o atendimento na rede pública enfrentou problemas e superlotação. Procurada, a pasta informou que não tem um levantamento sobre quantos servidores estariam afastados por covid-19 ou gripe nem se isso estaria afetando o atendimento.

Altas vão continuar

“Não é novidade que a gente ia ter esse aumento, era só observar o que aconteceu em outros países, ainda mais depois de todas as flexibilizações. O problema, agora, é que lidamos com duas doenças de alta circulação que são a influenza e a covid-19, e isso fez com que as pessoas se preocupassem mais em procurar o diagnóstico. Este cenário se torna mais preocupante para quem não se vacinou e para os imunossuprimidos que são pessoas de risco em geral. Para a população vacinada, é menos preocupante, mas não deixa de ser um alerta para voltarmos a utilizar as medidas preventivas não-farmacológicas como distanciamento e uso de máscaras em todos os locais. Autorizar o carnaval em um período de aumento tão grande de casos é no mínimo impensável. E os números devem continuar aumentando ao longo do mês.”

Ana Helena Germoglio, infectologista

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