Saúde

Avanço da dengue deixa DF em alerta. Hora de reforçar os cuidados

Época de chuvas é propícia para a proliferação do mosquito transmissor da doença. Ano passado, 12 pessoas morreram pela doença

Edis Henrique Peres
Júlia Eleutério
postado em 15/01/2022 06:00 / atualizado em 18/01/2022 14:23
A prefeita da SQS 213, Valquíria Souza Teixeira troca informações de prevenção pelo WhatsApp -  (crédito:  Carlos Vieira/CB)
A prefeita da SQS 213, Valquíria Souza Teixeira troca informações de prevenção pelo WhatsApp - (crédito: Carlos Vieira/CB)

O período de oscilação entre chuvas e calor no Distrito Federal acende o alerta para o aumento dos casos de dengue no início deste ano. De acordo com o último relatório da Secretaria de Saúde do DF (SES-DF), emitido em dezembro, ao menos seis Regiões Administrativas estão classificadas como em risco para a infestação do mosquito Aedes aegypti, Planaltina, Sobradinho II, Parque Way, Lago Sul, Itapoã e Lago Norte. A medição é feita para auxiliar na elaboração de estratégias de controle da doença e é dividida nos níveis satisfatório, alerta e risco. Em alerta estão outras 14 regiões.

O professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília Rodrigo Gurgel Gonçalves explica que o aumento dos casos de dengue está associado à proliferação dos criadouros do mosquito transmissor. "Nesta época do ano há mais locais disponíveis para eles, pois o aumento das chuvas e temperaturas favorece o desenvolvimento do ciclo de vida do Aedes aegypti. A fase de vida deles é de ovo, larva, pupa e adulto, e a fase de larva e pupa acontecem na água, ou seja, se tem mais água, maior a chance do ciclo de vida do mosquito se completar", esclarece.

Rodrigo orienta que quando o carro do fumacê estiver passando, o recomendando é que os moradores abram as janelas e portas para que o inseticida posso chegar aos focos do mosquito. "A dengue tem quatro sorotipos diferentes e elas podem causar a doença mais branda, grave ou até fatal. Por enquanto, alguns estudos indicam que a segunda infecção costuma ser mais grave que a primeira. Outras pesquisas apontam que os sorotipos 2 e 3 são mais virulentos, por isso é importante fazer a caracterização do vírus que circula na população", detalha.

Sintomas

O servidor público Marcos Vinicius Souza, 29 anos, integra a estatística dos que contraíram dengue. Em dezembro do ano passado ele apresentou os sintomas da doença. "Eu viajei para uma fazenda no entorno de Brasília e, quando voltei, comecei a sentir febre e moleza no corpo. A princípio, achei que fosse só uma gripe mesmo e fiz até teste para covid-19", conta o morador de Taguatinga Sul. Marcos disse que foi ao médico duas vezes e, após a aparição de manchas pelo corpo, a suspeita de dengue ficou mais evidente. A comprovação veio através de um exame solicitado pelo médico. "Fiquei de cama cerca de quatro dias, depois fui melhorando. Graças a Deus, deu tudo certo", afirma.

A prevenção contra o Aedes aegypti também preveni contra o Zika e a Chikungunya, que são transmitidas pelo mesmo mosquito. Na capital do país, de acordo com a SES-DF, a dengue apresenta um comportamento sazonal, e tem maior incidência entre os meses de outubro a maio. 

O infectologista do Hospital Anchieta de Brasília César Carranza avalia que o cenário atual do DF pode trazer um provável crescimento dos casos. "Existe sim essa possibilidade de aumento, e não só no DF, mas em qualquer localidade, visto que estamos em época chuvosa e quente, condições que favorecem a disseminação dos mosquitos transmissores da dengue", destaca. O especialista salienta que a pandemia de covid-19 pode ter ocultado alguns casos positivos de dengue. "Durante os dois últimos anos, com a pandemia da covid, acredito que muitos pacientes com dengue tiveram seus diagnósticos registrados como covid visto que são duas doenças virais que compartilham algumas características clínicas como febre, dores no corpo, fadiga, entre outros", analisa.

Propagação

Durante o ano passado, de acordo com o Boletim Epidemiológico da Secretaria de Saúde(SES-DF), a capital Federal registrou 12 mortes pela doença. Ao todo, o ano de 2021 registrou 18.453 casos prováveis, uma redução de 61,08% se comparado ao mesmo período de 2020, quando a capital notificou 47.422 casos prováveis. Apesar da menor incidência de casos, especialistas alertam que alguns infectados podem não ter procurado o sistema de saúde para receber o diagnóstico devido à pandemia do novo coronavírus.

O Diretor de Vigilância Ambiental da Secretaria de Saúde, Jadir Costa Filho, destaca que as ações dos agentes da Vigilância Ambiental contra o mosquito acontecem durante todo o ano. "Em alguns locais com maior incidência de casos há uma maior intervenção dos profissionais. A população deve ficar atenta aos frascos com água, bebedouros, fontes ornamentais e tampinhas, pois no DF esses são grandes focos do mosquito", pontua. Jadir orienta: "se cada morador destinar 10 minutos por semana para realizar uma limpeza em casa e no quintal e conferir os possíveis locais que possam acumular água, o combate será eficaz. Não é muito tempo necessário, mas que faz diferença".

Jadir explica que quando a Vigilância Ambiental detecta regiões com surtos de dengue, rapidamente destinam a dedetização para o local. "Conhecido como fumacê, a pulverização realizada serve para interromper o ciclo de transmissão do mosquito. No entanto, apenas o adulto vai morrer. Por isso, é necessário que os moradores recebam a visita dos agentes, que estarão identificados com crachá e colete, para as ações contra os estágios iniciais do mosquito. Outro ponto importante é que as questões climáticas para este ano, com chuvas acima do esperado, propiciam a possibilidade de crescimento no número de casos", alerta.

Combate

Com os casos anuais, alguns moradores do DF apreenderam a se mobilizar no combate à dengue. Cléa Torres, 70 anos e prefeita da SQN 411, na Asa Norte, é um exemplo de liderança contra o Aedes aegypti. "No meu bloco todo mundo é muito apaixonado por plantas. Então, usamos a cartilha da dengue e a recomendação para as pessoas não usarem pratinho, ou se tiverem, não esquecer a areia. Nossa caixa d'água também é super vedada. Todos nós somos muito vigilantes", assegura. A moradora alerta: "a dengue atinge crianças e idosos. Para mim, é tão grave como outras doenças, porque as dores que a pessoa sente no corpo são horrorosas e impedem que ela trabalhe e estude".

A tecnologia é uma forte aliada nesse enfrentamento. A prefeita da SQS 213, na Asa Sul, Valquíria Souza Teixeira, 60 anos, conta que, pelo grupo de WhatsApp de moradores e síndicos, as pessoas compartilham orientações contra a dengue. "Colocamos as informações necessárias para combater o mosquito. E também contamos com os moradores na vigilância, caso eles percebam algum foco ou algum ponto de atenção, eles acionam os síndicos ou a prefeitura. Essa colaboração de todos é importantíssima e fundamental", afirma.

Infectados

Moradora do Riacho Fundo 1, a estudante Eduarda Ribeiro, 20 anos, conta que se infectou com a dengue em março do ano passado. "Foi a primeira vez que tive, e meus maiores sintomas foram a dor no corpo. Para melhorar, fiquei tomando muito líquido e água de coco", detalha. Já Hanan Ghani, 26 anos, bancária e moradora de Samambaia Norte, pegou não apenas uma, mas duas vezes no ano passado. "Tive primeiro em agosto, mas no Natal peguei de novo. Em agosto foi o pior período, pois senti muitas dores musculares e nas juntas, com muito cansaço e dor de cabeça", conta.

Durante as festas de Natal, Hanan teve sintomas mais amenos, parecidos com gripe. "Ainda tive dor no corpo, mas parecia uma gripe, com coriza e febre. Nesses dias fiquei tomando paracetamol para baixar a febre e diminuir a dor. Aqui em casa, como moro em apartamento, não tem nada que possa criar focos, no entanto, tem um lote abandonado do lado do residencial onde moro, com um matagal muito alto", conta.

 

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Saiba Mais

Sintomas: febre alta, dor de cabeça e no corpo, dor atrás dos olhos, fraqueza, falta de apetite, náuseas/vômitos, manchas pelo corpo e coceira. Sinais de gravidade: dor abdominal intensa e contínua, tonturas e desmaios, sangramentos de gengiva, nariz ou outras hemorragias.

Tratamento: Como a dengue é uma doença viral, o tratamento é feito para aliviar os sintomas, por meio da prescrição de antitérmicos, ingestão de líquidos e repouso. Portanto, ao primeiro sinal dos sintomas, procure um médico ou o serviço de saúde mais próximo de você.

Prevenção: não existem medicamentos contra o vírus da dengue nem uma vacina preventiva. A medida mais efetiva é a eliminação das condições de reprodução do mosquito, mantendo o espaço sempre limpo e eliminando os possíveis acúmulos de água.

Fique atento:
Retire galhos e folhas das calhas, garrafas devem estar guardadas e viradas com a boca para baixo, guarde os pneus em locais cobertos, mantenha em dia a manutenção das piscinas, mantenha lajes sempre limpas, tampe os tonéis e caixa d’água, os ralos sempre limpos e com telas de proteção, preencha pratinhos de plantas com areia e lave-os uma vez por semana, estique bem as lonas de proteção para evitar acúmulo de água, feche bem os sacos de lixo e coloque-os longe do alcance de animais, mantenha latinhas com a boca para baixo, limpe a bandeja do ar-condicionado.

 

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