Pandemia

Com a maior taxa de transmissão do ano, GDF vai proibir pistas de dança

Índice chegou a 2,15, quando 100 pessoas com covid-19 passam a doença para outras 215. Nessa segunda-feira (17/1), GDF adiantou que um decreto proibindo pistas de dança será publicado. Mais de 5 mil crianças começaram a imunização

O avanço da pandemia de covid-19 fez com que o Governo do Distrito Federal (GDF) voltasse com mais uma medida restritiva na cidade. O governador Ibaneis Rocha (MDB) adiantou que o Executivo local prepara um decreto para suspender o uso de pistas de dança. "São pequenos ajustes. Vamos proibir pistas de dança. Estão preparando o decreto", informou ao Correio. Enquanto o GDF tenta combater a doença, a taxa de transmissão chegou a 2,15, a maior deste ano, que teve o ápice na última semana, com o índice a 2,12. O recorde desde o início da pandemia é de 2,61, registrado em março de 2020.

Segundo fontes do GDF ouvidas pela reportagem, serão consideradas as pistas de dança, principalmente, de bares. Seria uma forma de evitar e diminuir as aglomerações registradas em locais que contam com apresentações musicais, por exemplo. A infectologista Ana Helena Germoglio explica que, neste momento da pandemia, a volta das restrições é válida, mas é preciso focar em todas as atividades de risco e não apenas em um segmento. "Qualquer atividade que envolva muitas pessoas sem máscara e sem distância mínima, independentemente se for dança, jogo ou qualquer atividade. O importante não é a dança em si, mas o uso de máscara", destaca.

Entre a última sexta-feira (14/1) e segunda (17/1), o DF registrou 5.648 casos e duas mortes pela covid-19. O total de notificações chegou a 546.900 infecções e 11.128 óbitos. Com a atualização dos dados, a média móvel de ocorrências dos últimos sete dias está em 3.841,80, valor 1.238,61% maior do que o registrado há duas semanas. A mediana de vítimas diminuiu 20% em relação ao mesmo período e está em 1,60.

Ômicron

O avanço da taxa de transmissão (RT) da covid-19 é um alerta constante para os moradores do DF. De acordo com dados do boletim epidemiológico da Secretaria de Saúde (SES-DF), o RT está em 2,15, o que significa que um grupo de 100 pessoas é capaz de infectar outras 215. Breno Adaid, pesquisador do Centro Universitário Iesb e doutor em administração e pós-doutor pela Universidade de Brasília (UnB) em ciência do comportamento, acompanha o índice desde o começo da pandemia e destaca que a perspectiva é de que o número de casos aumente ainda mais nesta semana.

"Embora essa variante (ômicron) pareça menos agressiva do ponto de vista dos casos graves, se houver um acúmulo de casos em um curto período de tempo, o risco é que uma parcela desse público vai precisar de atendimento hospitalar, e o que pode acontecer é não termos capacidade de atender a todos", argumenta. Na avaliação de Breno, o modo mais eficaz de conter o avanço dos casos é um modelo de restrição moderada. "Vários estudos foram publicados de contenção de contágio, e os modelos de restrições moderadas são eficazes, pois as pessoas mantêm a vida semi-normal com algumas reduções, sem sofrerem tantas alterações em seus comportamentos", explica.

Campanha

Em meio ao perigo de infecção, Elon Rufino da Silveira, 43 anos, morador do Jardim Mangueiral, não perdeu a chance de imunizar o filho Rafael Silveira, 8 anos, no unidade básica de saúde (UBS) 1 do Cruzeiro, nessa segunda-feira. O menino estava ansioso. "A expectativa é alta pela vacinação, com ela, ele poderá voltar para as aulas de forma apropriada e mais segura", aponta Elon. Rafael é diabético, e os pais preferiram mantê-lo no ensino a distância devido ao risco dele contrair a covid-19.

Manoela Bartos, 43, servidora pública e moradora de Águas Claras, também garantiu a imunização da filha Yara, 11. "A ansiedade é enorme, e a pandemia tem sido muito difícil, como foi para todo mundo. Perdi dois tios que moravam aqui, no DF. E fizemos um isolamento a rigor, mas isso causou um quadro de ansiedade nas crianças", lamenta. Após tirar as dúvidas com os especialistas, a mãe confessa que está segura. "A gente fica com medo, porque tem muitas informações desencontradas, mas a cardiologista da gente falou que podia ficar tranquila com a vacinação", ressalta.

Marcelo Ferreira/CB/D.A Press - Pietro Barbosa com a mãe Isleidy Barbosa. Os dois foram à UBS 1 do Cruzeiro. Preocupação era levar o vírus para casa

A psicóloga Isleidy Barbosa, 42, moradora do Cruzeiro Velho, levou o filho Pietro Barbosa, 11 anos, para se imunizar. "Alguns coleguinhas dele, de 12 anos, já se vacinaram, então ele estava bem ansioso", conta. A preocupação de Isleidy era levar o vírus para casa, devido a rotina de trabalho. "Tomamos todos os cuidados para não deixá-lo vulnerável, mas era um medo. A vacinação é super necessária", frisa. No DF, até segund-feira, 5.044 crianças de 11 anos ou com comorbidades foram vacinadas. A campanha de imunização dos adultos continua na capital, ao todo, 2.321.708 pessoas tomaram a primeira dose; e 2.210.439 estão com o ciclo completo. O reforço foi aplicado em 617.959 moradores do DF. Da população geral (3.052.546), 76% tomou uma dose e 72,41% está com o ciclo de imunização concluído.

Saiba Mais

Vacinação infantil

 

Qual é o benefício da vacinação das crianças para conter a disseminação da covid-19?

O primeiro é diminuir o risco de a criança ficar doente e desenvolver casos graves. Depois, como a imunização reduz a carga viral, portanto, a capacidade de transmitir, mesmo que ela tenha uma doença branda, vamos diminuir a “cadeia de transmissão”.

A respeito dos possíveis efeitos colaterais da vacina, são realmente um risco?

A vacina tem os mesmos efeitos adversos de qualquer outra vacina. Os quadros mais graves, como a falada miocardite e outros são muito raros, na proporção deum em vários milhões de doses aplicadas e, quando foram observados, não levaram o paciente à morte.

Se a criança estiver com sintomas ou suspeita de covid-19, ela pode se vacinar?

Pode. Mas deve aguardar pelo menosoito dias após o fim das manifestações.

Para as crianças com deficiência ou comorbidade, há algum cuidado especial na vacinação?

A princípio não, mas, vai depender da comorbidade, que são muitas e é difícil generalizar. O responsável, se tiver dúvidas, deve consultar o médico assistente da criança e pedir uma orientação.

Qual é a diferença da dose aplicada em adultos para a aplicada em crianças?

É uma quantidade menor, principalmente.

Na hora da vacinação das crianças, elas podem tomar doses de outras vacinas simultaneamente a da covid-19 ou há contraindicação?

Sim, pode tomar, aliás, devem. Aproveite a ida à UBS para colocar o Cartão de Vacinas em dia.

Por que não tem vacina para menor de cinco anos?

Porque os estudos estão sendo feitos, agora, nessa faixa etária. Primeiro, a vacina chega para os adultos, que é uma população muito maior e muito mais fácil de ser testada. Aos poucos, ela vai chegando na população pediátrica. E isso vai acontecendo naturalmente, depois vai reduzindo pras crianças menores e até chegar nos recém-nascidos.

Fontes: Felipe Teixeira, infectologista da Maternidade Brasília; e Dalcy Albuquerque, infectologista da Sociedade Brasileira de Infectologia

Passaporte da vacina

Julival Ribeiro, infectologista da Sociedade de Infectologia do DF

Neste momento da pandemia, com o surgimento da variante ômicron, vem se observando uma explosão do números de casos mundialmente, devido a alta transmissibilidade, como estamos vendo, também, no Brasil e no DF. Ela vem causando maior número de infecções em pessoas não vacinadas e menos casos em pessoas totalmente vacinadas. Vale lembrar que nenhuma vacina disponível tem 100 % de eficácia.

As pessoas totalmente vacinadas, segundo estudos publicados, têm alto impacto na redução de hospitalizações, casos graves e óbitos. Isso é o que se espera da vacina. Não podendo se esquecer das medidas preventivas como uso de máscara, distanciamento físico, higienização das mãos, evitar aglomerações, locais fechados e pouca ventilação.

Outro fator importante é que, com a alta transmissibilidade da ômicron, muitas pessoas precisam ser atendidas nas unidades de saúde, sem falar nas outras doenças que requerem atendimento e hospitalizações, podendo levar a uma sobrecarga do sistema de saúde como um todo. O Brasil está indo muito bem na estratégia de vacinação, quase 70% com a vacinação completa (apesar dos entraves no ano passado) , tendo impacto no número de casos novos, hospitalizações e mortalidade. Precisamos ampliar o número de vacinados, incluindo crianças de 5 a 11 anos.

Dessa forma, a exigência do passaporte da vacina, para impedir que não vacinados tenham acesso a espaços coletivos, é uma estratégia fundamental, pois convivemos em sociedade, e a vacinação não é apenas uma proteção pessoal e, sim, para toda a coletividade. Eu lhe projeto e você me protege! A França acabou de aprovar o passaporte da vacina e, na minha opinião, outros países o farão pelo bem da coletividade.