Pandemia

Vida pós-ômicron: pesquisadores acreditam que haverá estabilidade de casos

Especialistas avaliam que, depois de a cepa ômicron, crise sanitária pode recuar, mas que os cuidados exigidos covid-19 sigam incorporados a rotina da população

Ana Isabel Mansur
postado em 01/02/2022 05:51 / atualizado em 01/02/2022 05:53
Apesar da expectativa de abrandamento da pandemia, rotina sem máscaras e cuidados contra a covid-19 ainda não se avizinha -  (crédito: Minervino J?nior/CB/D.A Press)
Apesar da expectativa de abrandamento da pandemia, rotina sem máscaras e cuidados contra a covid-19 ainda não se avizinha - (crédito: Minervino J?nior/CB/D.A Press)

Com a expectativa de que a alta de casos de covid-19 perdure por mais alguns dias no Distrito Federal, pesquisadores e médicos destacaram ao Correio o que é possível esperar depois dos elevados números de infecções diárias causadas, principalmente, pela variante ômicron, de alta transmissibilidade.

Integrante de um grupo de pesquisadores que acompanha a evolução da pandemia no país, o professor Tarcísio Marciano, da Universidade de Brasília (UnB), crê que a redução substancial de casos de covid-19 acontecerá em até três meses. A perspectiva é baseada na análise do cenário nacional, mas também pelo acompanhamento do que tem acontecido em outros países. Ele ressalta, porém, que o vírus não deixará de existir. "Ele continuará presente e vamos ter de continuar com os cuidados, como máscara, álcool em gel e distanciamento social, por um bom tempo, e seguir vacinando as pessoas, talvez até todos os anos", destaca.

Para o professor, existe a possibilidade de surgimento de novas cepas, principalmente pelo índice de contágio. "Quanto mais um vírus circula, mais pode se modificar. Pode surgir uma variante menos perigosa ou uma que seja mais perigosa, é difícil prever, porque a mutação é aleatória e natural", explica Tarcísio, frisando que, por enquanto, a humanidade conseguiu acabar com apenas um vírus, o da varíola, cuja erradicação foi reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1980.

Endemia

Apesar de acreditar que a contaminação pela ômicron continuará alta no DF até o fim de fevereiro, o médico infectologista Julival Ribeiro, membro da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), ressalta que existem outras doenças que também merecem atenção. "Temos de entender que não existe só a covid-19, há outras situações emergenciais. Meu medo é sobrecarregar o sistema de saúde, como estamos vendo em alguns locais. Nesse momento, toda medida que puder restringir a circulação do vírus é válida", defende.

O receio de Julival é, principalmente, pelo potencial de variações demonstrado pela covd-19. "Alguns cientistas acham que, mesmo sem prazo definido, poderemos alcançar uma fase endêmica, o que significa que vamos conviver com o vírus por anos e que vai ser como uma gripe, ou seja, vamos ter maior controle, com vacinas, medicamentos e antivirais, sabendo como tratar melhor a doença. Entretanto, isso não é matemático e não dá para prever quando será, porque outra variante, mais grave ou mais transmissível, por exemplo, pode surgir", pondera o infectologista.

Novo normal

Tal como para o professor Tarcísio, ele é categórico ao afirmar que não é possível prever o fim da pandemia. "No momento, temos de ter muita parcimônia. Ninguém pode garantir que não haverá outras mutações. Por enquanto, temos de testar, testar e testar, além de vacinar, vacinar e vacinar", recomenda.

As condutas adquiridas com a pandemia, como uso de máscaras e de álcool em gel, serão incorporadas ao cotidiano das pessoas sem resistência. É o que acredita o professor e neurocientista Carlos Tomaz, especialista em modulação das emoções. “Estamos observando que há perspectiva de que a pandemia, ao longo deste ano, se torne uma endemia, e precisamos aceitar o fato de que teremos outras variantes e que, portanto, todos os anos vamos precisar tomar vacina”, prevê o professor.

Para o especialista, a manutenção do quadro de cuidados terá resultado positivo sobre a vida dos indivíduos no pós-pandemia. “Essa perspectiva não é ruim. As pessoas estão se acostumando, e essas questões de higiene vão se tornar um hábito depois que superarmos a pandemia e serão incorporadas na vida da população”, acredita Carlos Tomaz. “Vejo uma luz no fim do túnel, porque, apesar de ainda estarmos convivendo com a pandemia, estamos nos adaptando e aceitando as mudanças de comportamento necessárias”, conclui o neurocientista.

Analisando os números

Breno Adaid, pesquisador do Centro Universitário Iesb e doutor em administração e pós-doutor pela Universidade de Brasília (UnB) em ciência do comportamento, estima que a quantidade de infecções diárias vai continuar elevada por mais alguns dias. "Devemos ter mais uma semana de alta, no máximo 10 dias. Depois, veremos uma queda moderada, seguida de forte decaimento. Devemos contar duas semanas caindo e estabilizar abaixo de mil casos diários", acredita o especialista, que acompanha diariamente o cenário pandêmico desde o início da crise.

Ele explica que é importante não haver distorções na interpretação do número de casos notificados diariamente, já que a Secretaria de Saúde do DF passou a divulgar os boletins epidemiológicos apenas em dias úteis. Na última terça-feira, por exemplo, a pasta contou 10,7 mil infectados e, no dia seguinte, registrou 5,4 mil novos contaminados. "Não se pode cair na ideia errada de pegar o número de quarta e achar que os casos caíram pela metade", acrescenta Breno Adaid, ressaltando que o resultado pode representar acúmulo nos registros.

"Se testarmos direito, podemos chegar a 12 mil casos diários. Vamos ter um acumulado de infecções recorde, sem precedentes. Porém o número de mortos não vai acompanhar os piores meses da pandemia. Tende a ficar bem menor (do que em 2020 e 2021), mas claro que vai subir", explica, enfatizando que os números e as datas são apenas projeções. "São estimativas. Cravar, exatamente, o dia (do pico) é arriscadíssimo, porque depende do comportamento da população e de novos decretos, por exemplo", completa o pesquisador.

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