Patrimônio

Igrejinha passa por revitalização e ganha novos portões e mais segurança

Com apoio da comunidade e aprovação do Iphan, arquitetos fazem reparos num dos símbolos da capital federal; piso e pintura também terão melhorias

Pablo Giovanni*
postado em 01/02/2022 06:00 / atualizado em 09/02/2022 13:58
Fiéis têm se mobilizado por recursos para garantir obras na paróquia e pedem segurança -  (crédito: Fotos: ED ALVES/CB/D.A.Press)
Fiéis têm se mobilizado por recursos para garantir obras na paróquia e pedem segurança - (crédito: Fotos: ED ALVES/CB/D.A.Press)

Uma das obras arquitetônicas mais admiradas pelos brasilienses e parada obrigatória para os turistas que visitam a capital federal, a Igreja Nossa Senhora de Fátima, popularmente chamada de Igrejinha, passa por restauros graças à mobilização dos paroquianos e da dedicação de arquitetos egressos do Centro Universitário de Brasília (CEUB).

Gabriel Oliveira, 28, e Henrique Xavier, 29, são fascinados pela arquitetura de Brasília, e iniciaram os estudos para a revitalização do templo antes da pandemia. Entretanto, eles tiveram que paralisar a análise do local em março de 2019, em decorrência do avanço da doença no DF.

A fragilidade a que o templo — tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) — estava submetida fez com que a dupla retomasse os estudos ainda no fim daquele ano. O projeto de restauração, aprovado pelo instituto, começou a sair do papel na semana passada. O primeiro passo foi substituir as frágeis portas de madeiras, alvo de vários arrombamentos, por uma estrutura metálica resistente. Eles contam que toda e qualquer mudança passa pelo aval do Iphan. "A motivação para cuidar do local veio da própria paróquia, sobretudo pela questão da segurança, e temos seguido nessa linha, com respeito. A pintura, por exemplo, não podemos fazer de qualquer jeito, porque é uma identidade da paróquia", conta Gabriel, explicando que as intervenções acontecem em etapas.

Gabriel Oliveira e Henrique Xavier assinam estudos e projetos
Gabriel Oliveira e Henrique Xavier assinam estudos e projetos (foto: ED ALVES/CB/D.A.Press)

"Fizemos um apanhado e elaboramos o projeto em três etapas, pelo grande número de ajustes que precisam ser feitos. Agora, imagina atuar em um patrimônio tão grandioso projetado por Oscar Niemeyer? É uma honra", vibra Henrique.

Sobre a mudança dos portões, o Iphan chegou a solicitar uma amostra do material para que os traços originais não fossem comprometidos. Foi proposto, então, algo que se assemelhasse esteticamente à madeira, mas que pudesse fornecer segurança, e o ferro foi a melhor opção. A estrutura do portão, que custava em torno de R$ 30 mil, contou com um reforço especial: um dos frequentadores da Igrejinha se engajou no trabalho e disponibilizou o material por um valor mais acessível.

Etapas

Além do portão, nesta primeira etapa de trabalhos, serão feitos outros ajustes na parte de dentro da Igrejinha, trazendo mais conforto às mais de 50 pessoas que acompanham diariamente as missas. "Dos oito bancos, encaminhamos um para reparos, porque é algo que exige cuidados para poder receber os fiéis", conta Gabriel. "Sugerimos, junto ao próprio Iphan, tentar subir um pouco mais a altura dos bancos, até porque a grande maioria dos frequentadores são pessoas de idade, mas o instituto não topou, porque mudaria a estrutura da paróquia. Se o banco que enviamos para revitalização estiver ok pelo instituto, os demais passarão pelo mesmo processo", diz o arquiteto. Todos os recursos para que houvesse obras no local vêm por meio de doações dos próprios fiéis.

Num segundo momento, os arquitetos pretendem viabilizar a pintura e reparos gerais na Igrejinha. Isso porque os pilares externos estão sofrendo com depredação e, internamente, a pintura se encontra desgastada. Há a intenção de reformar e adequar o sistema elétrico que, segundo os arquitetos, está exposto e pode trazer insegurança. Ainda existe a expectativa de trocar a iluminação interna, principalmente no altar, além da revitalização das janelas, mas essa alteração depende de aprovação do Iphan. "O instituto entende o que necessita ser feito aqui, e a resposta sempre é imediata. Então é assim: 'fazemos o relatório rápido, eles respondem rápido'. Dá para ver que há um interesse por parte deles na revitalização da Igrejinha", elogia Gabriel.

O piso está contemplado na terceira etapa da revitalização da paróquia. De acordo com os responsáveis, há a necessidade de troca, entretanto, é preciso calma, porque há a exigência de que seja utilizado o mesmo material do projeto original. "O piso está bem desgastado, e se fosse para mudar, teríamos que achar o material original, além da questão do preço que não vai ser nada amigável", explica Gabriel.

Em relação aos tradicionais azulejos da parte exterior, eles estudam a melhor maneira de fazer o restauro das peças danificadas, o que será apresentado ao instituto. O painel do pintor Galeno está dentro do cronograma para restauração. Inicialmente, só ele está orçado em R$ 64 mil e será feito por um especialista, caso o Iphan autorize.

Ainda na terceira etapa está prevista a troca dos armários da sacristia e do banheiro, que apresentam problemas, a ideia é garantir os modelos originais. No relatório dos arquitetos, essa substituição está orçada em R$ 40 mil. O plano de ação na paróquia ainda prevê a execução de um novo velário, que se encontra sem uso e em situação precária.

Melhorias

A parte externa que não dispõe de acessibilidade para pessoas com deficiência e o piso quebrado também devem ser refeitos. Os devotos de Nossa Senhora de Fátima têm aprovado as medidas e querem reforço na segurança pública. "Esperamos que haja acessibilidade, com a instalação de rampas para cadeirantes. Temos lutado bastante para que também haja uma solução para pessoas em situação de rua. Os órgãos têm conhecimento, mas não é feito muita coisa. Há alguns anos, encontramos até uma pessoa morta aqui na praça. Precisamos de policiamento", comenta Gardênia Lopes, 70 anos, que frequenta a missa todos os dias.

Nacionalmente conhecida, a Igrejinha foi projetada por Oscar Niemeyer e Joaquim Cardoso, em 1958, antes mesmo da inauguração da capital federal. Segundo registros, a construção da obra foi em cumprimento a uma promessa que a primeira-dama Sarah Kubitschek fez após a cura de sua filha Márcia.

Em 2021, a Igrejinha sofreu com três arrombamentos, sendo dois deles em menos de um mês, o que acabou prejudicando a estrutura original do espaço, como a necessidade de reforçar a porta. Com isso, muitos fiéis passaram a temer pela integridade da estrutura.

*Estagiário sob a supervisão de Juliana Oliveira

 


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