DESAFIOS

Secretaria de Educação do DF realocará crianças de creches com aulas suspensas

Nessa segunda-feira (14/2), cerca de 430 mil alunos retornaram às atividades na rede pública de ensino. Primeiro dia teve creches fechadas e estudantes autistas sem acompanhamento de monitores

Edis Henrique Peres
Carlos Silva*
postado em 15/02/2022 06:00 / atualizado em 15/02/2022 21:41
Volta às aulas presenciais na rede pública de ensino, nesta segunda-feira (14/2), na Escola Classe 303/304 Norte -  (crédito:  Ed Alves/CB)
Volta às aulas presenciais na rede pública de ensino, nesta segunda-feira (14/2), na Escola Classe 303/304 Norte - (crédito: Ed Alves/CB)

O retorno presencial às aulas na rede pública do Distrito Federal, nessa segunda-feira (14/2), envolveu mais de 430 mil alunos de 686 escolas. No entanto, apesar da ansiedade, alguns estudantes não puderam voltar às atividades em, ao menos, três creches, que tiveram suspensos os contratos com a Secretaria de Educação (SEDF). Nas demais unidades de ensino, o início do ano letivo ocorreu dentro do esperado, segundo a pasta. O Correio acompanhou o primeiro dia na Escola Classe 11 de Taguatinga e na Escola Parque 303/304 Norte. Na entrada dos dois colégios, a reportagem encontrou pontos de aferição da temperatura e crianças com máscaras de proteção.

Muito animado, Miguel dos Santos, 8 anos, foi direto: "Quero fazer amigos". A mãe do estudante, Mariane Baltazar, 38, contou que o filho tem autismo e, por isso, o diálogo com ele sobre o retorno presencial teve várias etapas. "Ele sentiu muita falta (das aulas nas escola), e conversamos bastante sobre o que precisaria fazer, como não abraçar os coleguinhas e respeitar ao máximo o distanciamento social. No ensino remoto, ele levou seis meses para se adaptar. Querendo ou não, sentiu falta dos amigos. A dinâmica a distância não é a mesma coisa do convívio com os colegas", comentou a servidora pública.

Secretária de Educação, Hélvia Paranaguá afirmou que as expectativas para o retorno são as melhores possíveis. "Depois de uma avaliação do Instituto Todos Pela Educação, que revelou que 66% das crianças de 6 e 7 anos estão analfabetas, vemos a urgência do retorno 100% presencial da escola e com carga horária completa (de cinco horas por dia). Quanto mais cedo elas voltarem, mais cedo conseguiremos recompor as aprendizagens perdidas, principalmente porque (esse) não é um processo que ocorre em um estalar de dedos. Sabemos que é um caminho demorado. Eu diria que muitas crianças perderam o que tinham aprendido, e outras nem chegaram a aprender nesse tempo remoto, porque a alfabetização demanda muita atenção, muitos detalhes", avaliou.

No próximo mês, a SEDF fará uma prova diagnóstica para avaliar as perdas pedagógicas sofridas pelos estudantes. "Essa será a diretriz para direcionar nossas ações. Cada escola terá particularidades. Em algumas delas, a criança pode ter avançado; em outras, não", comparou Hélvia, em entrevista ao Correio. Sobre os pais que temem o retorno, a secretária destacou: "No ano passado, quando retornamos com a variante delta (em circulação), que era mais letal, não tivemos nenhum óbito de crianças na rede (de ensino). Neste ano, começamos com uma vantagem, pois temos a vacina (para o público) a partir de 5 anos".

  •  14/02/2022. Crédito: Ed Alves/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF. Cidades. Volta Aulas, Ano Letivo 2022. Escola Parque 303/304 Norte.
    Volta às aulas presenciais na rede pública de ensino, nesta segunda-feira (14/2), na Escola Classe 303/304 Norte Ed Alves/CB
  •  14/02/2022. Crédito: Ed Alves/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF. Cidades. Volta Aulas, Ano Letivo 2022. Escola Parque 303/304 Norte.
    Volta às aulas presenciais na rede pública de ensino, nesta segunda-feira (14/2), na Escola Classe 303/304 Norte Ed Alves/CB
  •  14/02/2022. Crédito: Ed Alves/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF. Cidades. Volta Aulas, Ano Letivo 2022. Escola Parque 303/304 Norte.
    Volta às aulas presenciais na rede pública de ensino, nesta segunda-feira (14/2), na Escola Classe 303/304 Norte Ed Alves/CB
  •  14/02/2022. Crédito: Ed Alves/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF. Cidades. Volta Aulas, Ano Letivo 2022. Escola Parque 303/304 Norte.
    Volta às aulas presenciais na rede pública de ensino, nesta segunda-feira (14/2), na Escola Classe 303/304 Norte Ed Alves/CB
  •  14/02/2022. Crédito: Ed Alves/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF. Cidades. Volta Aulas, Ano Letivo 2022. Escola Parque 303/304 Norte.
    Volta às aulas presenciais na rede pública de ensino, nesta segunda-feira (14/2), na Escola Classe 303/304 Norte Ed Alves/CB
  •  14/02/2022. Crédito: Ed Alves/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF. Cidades. Volta Aulas, Ano Letivo 2022. Escola Parque 303/304 Norte.
    Volta às aulas presenciais na rede pública de ensino, nesta segunda-feira (14/2), na Escola Classe 303/304 Norte Ed Alves/CB
  •  14/02/2022. Crédito: Ed Alves/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF. Cidades. Volta Aulas, Ano Letivo 2022. Escola Parque 303/304 Norte.
    Volta às aulas presenciais na rede pública de ensino, nesta segunda-feira (14/2), na Escola Classe 303/304 Norte Ed Alves/CB
  •  14/02/2022. Crédito: Ed Alves/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF. Cidades. Volta Aulas, Ano Letivo 2022. Escola Parque 303/304 Norte.
    Volta às aulas presenciais na rede pública de ensino, nesta segunda-feira (14/2), na Escola Classe 303/304 Norte Ed Alves/CB

Expectativa

Presidente da Associação de Pais e Alunos das Instituições de Ensino do Distrito Federal (Aspa-DF), Alexandre Veloso percebeu apreensão com o retorno por parte dos responsáveis pelos estudantes. "Em muitas vezes, a volta às aulas foi frustrada, e ficamos com medo de isso ocorrer de novo. Mas tivemos uma boa adesão dos professores e das turmas. Agora, esperamos uma boa estratégia de recuperação dos conteúdos e das aprendizagens perdidas. Vamos acompanhar esta semana para, eventualmente, orientar as famílias ou cobrar medidas necessárias", enfatizou.

Mãe de Luna e Luara, Hellen sentiu que conteúdo das aulas ficou defasado durante a pandemia
Mãe de Luna e Luara, Hellen sentiu que conteúdo das aulas ficou defasado durante a pandemia (foto: Ed Alves/CB)

Moradora de Vicente Pires, Taynara Vilar, 27, considerou positivo o retorno às aulas, apesar da insegurança sentida na primeira vez em que isso ocorreu, no ano passado — quando não havia imunização infantil contra a covid-19. "É importante o convívio da criança na escola. Meu filho, Marcos Alexandre, ama o colégio e estava super animado com o retorno. Ele não tem irmãos e gosta muito das amizades feitas no colégio. A vacina foi uma medida que trouxe mais segurança. Desta vez, estou mais confiante e mais confortável", comentou a jovem.

Mãe das gêmeas Luna e Luara, Hellen Rodrigues, 39, disse que as meninas contraíram o Sars-CoV-2 recentemente e, por isso, terão de aguardar 30 dias para tomar a primeira dose da vacina. Em relação ao retorno às salas de aula, a moradora de Sobradinho 1 acrescentou que a plataforma on-line não substitui as atividades presenciais. "Minhas filhas iam para o segundo ano (do fundamental) quando começou a pandemia. Em 2022, estão no quarto ano, mas senti que o conteúdo ficou um pouco defasado", ponderou a corretora de planos de saúde.

Mãe de Luna e Luara, Hellen sentiu que conteúdo das aulas ficou defasado durante a pandemia
Mãe de Luna e Luara, Hellen sentiu que conteúdo das aulas ficou defasado durante a pandemia (foto: Ed Alves/CB)

Contratos suspensos

Mesmo com a expectativa de muitos estudantes, nem todos voltaram às aulas. Algumas crianças descobriram ontem, ao chegarem à porta da creche, que não poderiam retomar as atividades. Em Ceilândia, o problema afetou duas instituições de ensino: o Centro de Educação da Primeira Infância (Cepi) Ipê Branco e o Instituto Paz e Vida. Um dos funcionários do Cepi, que pediu para não ter o nome divulgado, explicou que não houve renovação do termo aditivo do contrato com a SEDF. "Por isso, não temos condições de continuar a atender. Infelizmente, não tivemos o aviso prévio para informar as famílias com antecedência, e a Regional de (Ensino de) Ceilândia não repassou os procedimentos que deveriam ser adotados por elas", detalhou.

Além disso, a suspensão do contrato ocorreu na sexta-feira, às 23h45, segundo a funcionária. "Era para o termo ter sido renovado no último dia 9. Mas isso é uma opção da secretaria. Não tem nenhuma ilegalidade. É um processo comum, embora tivéssemos interesse na renovação", afirmou. A reportagem apurou que a Cepi tinha 174 crianças matriculadas, enquanto o Instituto Paz e Vida receberia 150.

Outro local que passou pela mesma situação foi a Unidade 3 do Centro de Ensino Infantil Tia Nair, em Brazlândia. Nessa segunda-feira (14/2), 429 alunos ficaram prejudicados devido à suspensão das atividades. No entanto, a instituição de ensino negociou com a SEDF e, ao fim do dia, "sanou as pendências". As atividades devem voltar ao normal nesta terça-feira (15/2). Quanto aos outros casos, a Secretaria de Educação justificou que as organizações da sociedade civil (OSCs) responsáveis pelas unidades de Ceilândia não estavam aptas a formalizar o termo aditivo referente ao contrato de colaboração. "(Contudo,) a secretaria adotará as providências necessárias para alocar os estudantes o mais rápido possível. São 162 crianças do Cepi Ipê Branco, que será gerido por nova OSC. Todos (os responsáveis) serão contatados assim que o atendimento for restabelecido", comunicou o órgão.

Sem suporte

Enquanto algumas famílias se depararam com as portas dos colégios fechadas, outras denunciam falta de suporte, como Lucas Reis, 27, pai de Laura Vitória, 8. "Minha filha tem Transtorno do Espectro Autista e estuda desde os dois anos de idade. Hoje, quando fui levá-la, a Escola Classe 16 de Planaltina me contou que só tinha três monitores (educadores sociais) e, portanto, ela não teria esse suporte, porque a secretaria quer cortar custos. Mas a Laura tem laudo e sempre contou com esse acompanhamento. Não só eu, mas vários outros pais estão sem esse tipo de suporte", criticou.

Diretora do Sindicato dos Professores do Distrito Federal (Sinpro-DF), Rosilene Corrêa confirmou que a SEDF reduziu o número de educadores sociais em quase 50%. "O aluno da educação especial precisa desse monitor para cuidados de auxílio. E a pasta disse que vai atender necessidades pontuais. Na sexta-feira, conversamos com o secretário-adjunto da Educação (Denilson Bento) sobre essa realidade. Como não temos monitores, o GDF recorre ao educador social, um profissional que sofre muita desvalorização. É necessário mais incentivo para a categoria. Além disso, nos preocupa a superlotação das salas, pois esse alto número compromete a qualidade de ensino, o resultado do trabalho e os protocolos de segurança (sanitária) em tempos de pandemia", enumera.

Em nota, a Secretaria de Educação enfatizou que, no ensino especial, o apoio aos alunos é prestado por profissionais específicos. "O educador social voluntário (ESV) apoia os professores e diretores escolares no exercício das atividades cotidianas do estudante, tais como alimentação, locomoção e higienização. Porém, não há disponibilidade de um único educador social voluntário por estudante", respondeu a pasta.

*Estagiário sob a supervisão de Jéssica Eufrásio

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