Protestos

Quatro protestos marcam a manhã desta quarta (30/3) na praça do Buriti

Diversas categorias se reuniram para protestar por melhorias no ambiente de trabalho e aumentos salariais. Sob sol forte, servidores seguravam faixas e realizavam assembleias em reivindicação

Edis Henrique Peres
postado em 30/03/2022 14:34 / atualizado em 30/03/2022 14:34
 (crédito: Marcelo Ferreira/CB/DA Prees)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/DA Prees)

Mesmo sob uma temperatura de quase 32ºC, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), grupos se organizaram para protestar na Praça do Buriti na manhã desta quarta-feira (30/3). O espaço, que costuma ser vazio, foi tomado pelos cartazes e vozes de reivindicações. Enfermeiros, servidores do serviço social e agentes de atividades complementares de segurança pública se dividiram em diferentes pontos da Praça. O espaço também foi ocupado por ex-funcionários da Fiança Empresa de Segurança, que pediam para que o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) determinasse o pagamento da rescisão dos trabalhadores, que esperam, segundo eles, há 11 anos para receber da empresa, que declarou falência.

Veja as reivindicações de cada grupo:

Agentes de atividades complementares de segurança pública:

Lotados na Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), os agentes de atividades complementares de segurança pública são profissionais da área de enfermagem, anatomia, radiologia e laboratório. O grupo luta para que deixe de ganhar subsídio, como os policiais civis, em seus pagamentos, e comece a ganhar vencimentos, como os demais servidores públicos do DF.

Presidente da Associação de Técnicos de Necropsia do Instituto de Medicina Legal (IML), Romildo Soares destaca que a categoria pede por uma reestruturação de carreira desde 2013. “São nove anos entrando e saindo governo sem que haja mudança. Somos profissionais da Secretaria de Segurança Pública, com lotação exclusiva na área da polícia civil de justiça federal. A reestruturação significa deixar de receber subsídio, como os policiais, e passar a receber vencimentos, como os servidores das outras categorias. Porque receber como os policiais não é vantagem para nós, pois quando tem aumento para a polícia civil, ou qualquer outro benefício, não somos contemplados, porque não somos policiais. E quando o GDF faz algo para os servidores, também não recebemos, porque nosso salário é no modelo dos policiais”, explica.

Um projeto que atendia a demanda dos trabalhadores deveria ser apresentado nesta terça-feira (29/3) na Câmara Legislativa do DF (CLDF), mas foi barrado, segundo o também representante do Sindicato dos Servidores Públicos Civis da Administração Direta, Autarquias, Fundações e Tribunal de Contas (Sindireta-DF). “Agora só temos até o fim de hoje (30/3) para o projeto ser apresentado na CLDF e ser votado amanhã”, detalha. A categoria, em manifestação, suspendeu as atividades nos diversos pontos de atendimento da capital.

Agentes de atividades complementares de segurança pública pedem por reestruturação dos vencimentos
Agentes de atividades complementares de segurança pública pedem por reestruturação dos vencimentos (foto: Marcelo Ferreira/CB/DA Prees)

“Somos 96 famílias que trabalham na área e que só querem ganhar o seu salário”, afirma. O grupo também lamenta que, em 2019, o Governo do DF formou um grupo de trabalho na Secretaria de Segurança Pública, mas a PCDF pediu para liderar a atividade. “No começo de 2020 a Polícia recebeu essa coordenação, mas até hoje nada foi feito. E a gente continua aguardando por alguma medida”, conta.

O Correio pediu um posicionamento da Polícia Civil sobre o andamento do processo, mas a corporação afirmou que “questões envolvendo direitos ou reivindicações dos servidores públicos não são tratados pela instituição, mas apenas entre os sindicatos e o governo local”. Sobre o tema, o GDF não havia se posicionado até a publicação desta matéria. O espaço segue aberto.

Servidores do serviço social:

Reunidos no lado oposto ao Palácio do Buriti, os trabalhadores pediam a incorporação da Gratificação de Desempenho Social (GDS) ao vencimento básico, o aumento do auxílio alimentação e a nomeação dos aprovados no concurso da categoria. Lotados na Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus), Secretaria da Mulher (SMDF) e Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes), os trabalhadores alegam estarem invisíveis ao governo. Diretor de Comunicação do Sindicato dos Servidores da Assistência Social e Cultural do GDF (Sindsasc), Cleiton Avelar afirma que faltam trabalhadores “para atender a população”.

“E estamos com um problema com a polícia, nós alugamos tenda, cadeira e gerador para realizarmos a nossa assembleia e eles não estão autorizando que a gente monte o equipamento. Mandamos ofício em 22 de março para a pasta, comunicando a realização da assembleia e dizendo sobre a tenda”, destaca Cleiton. O servidor acrescenta que o último reajuste salarial da categoria foi em 2014. “Estamos lutando por melhores condições de trabalho. A situação está muito complicada”, afirma.

Servidores sociais lutam por melhorias salariais e condições de trabalho na praça do Buriti
Servidores sociais lutam por melhorias salariais e condições de trabalho na praça do Buriti (foto: Marcelo Ferreira/CB/DA Prees)

Servidora de 27 anos, Tânia Sampaio também reivindica a falta de reconhecimento do governo. “Somos uma categoria que cuida dos invisíveis, e também somos invisíveis para todos”, opina. Segundo ela, falta sensibilidade dos gestores para ouvir as demandas da categoria. “Chegam a passar por dia 150 pessoas nos Centro Pops, e só temos cinco pessoas para atendê-los. Em alguns Centros, sequer temos mesas para todos os trabalhadores”, detalha.

A reportagem questionou os policiais do porquê que os servidores não podiam montar as tendas. Segundo os agentes, a solicitação era para ter sido enviada à SSP-DF com antecedência. O Correio disse que o protocolo, segundo documento apresentado pelo sindicato à reportagem, tinha sido enviado, mas a PM negou. A SSP-DF não encaminhou uma resposta oficial. O espaço segue aberto para posicionamento da pasta.

Enfermeiros

Aprovados no concurso de 2018 no cadastro reserva, um grupo de enfermeiros se reuniu em frente ao Palácio do Buriti com balões brancos e cartazes com os dizeres “governador, os enfermeiros aprovados em 2018 aguardam sua promessa de zerar o cadastro reserva”. Membro da Comissão do cadastro reserva, Ludmilla Duarte explica que há 571 enfermeiros aguardando para serem chamados.

“Toda semana aparecemos ao menos um dia aqui para manifestar por essa demanda, mesmo os profissionais que já foram chamados pelo governo. É uma demanda importante de ser cumprida e sabemos que tem orçamento porque foi aberto um novo concurso para 1000 vagas”, destaca Ludmilla.

Aprovados no concurso de 2018 no cadastro reserva, um grupo de enfermeiros pedia a nomeação
Aprovados no concurso de 2018 no cadastro reserva, um grupo de enfermeiros pedia a nomeação (foto: Marcelo Ferreira/CB/DA Prees)

Também Membro da Comissão, Jeizirlane Martins pontua que a importância da categoria foi provada durante a pandemia. "Por isso é tão essencial que o governador cumpra a promessa de zerar esse cadastro reserva”, diz. “Ele vem diminuindo a lista do cadastro aos poucos, mas sempre aparecemos aqui para não sermos esquecidos.”

Em relação à expectativa de um novo chamamento do cadastro reserva, até a publicação desta reportagem, o governo não se posicionou. O espaço segue aberto.

Direitos trabalhistas

Ex-funcionários da empresa Fiança e Vipasa se mobilizaram, também na manhã desta quarta-feira (30/3), na praça do Buriti, com cartazes escritos “TJDFT mostre que existe Justiça”. Os trabalhadores pediam que a Justiça decidisse pelo pagamento dos direitos de rescisão e de salários atrasados que não receberam após a declaração de falência das empresas em que trabalham.

Trabalhadores pedem para receber rescisão e salários de empresa que declarou falência
Trabalhadores pedem para receber rescisão e salários de empresa que declarou falência (foto: Arquivo Pessoal)

Segundo o grupo, eles já se reuniram cerca de oito vezes. “Estamos desde 2011 lutando por esse direito de receber. Aqui temos vários funcionários, de serviços gerais, administrativos, tesoureiro, vigilante. Todos nós fomos ficando porque tínhamos esperança que a empresa ia se reerguer. A empresa estava muito certa, nos últimos meses que tudo desandou. Fiquei três meses sem receber salário, estava lá há 23 anos”, detalha uma das funcionárias.

O Correio entrou em contato com Cristiano Araújo, ex-deputado e filho do proprietário das empresas. Em nota, ele explicou que o caso é de 2010. “Trata-se de uma ação trabalhista ajuizada contra a Empresa Fiança/Vipasa, que pertencia ao meu falecido pai. Inclusive, eu me afastei dos negócios da família em 2006 para assumir a cadeira na Câmara Legislativa. Com a sua morte, me coloquei à disposição para ajudar no que fosse necessário. Acredito que não existe nenhuma representação nesta manifestação, já que 90% das ações foram pagas, incluindo 100% de multa. Os 10% restantes estão depositados em juízo, aguardando o Sindicato dos Vigilantes para o acerto, mas da parte da empresa tudo já foi feito e o que a justiça determinou foi cumprido”, finaliza.

 

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    Trabalhadores pedem para receber rescisão e salários de empresa que declarou falência Foto: Arquivo Pessoal
  • Agentes de atividades complementares de segurança pública pedem por reestruturação dos vencimentos
    Agentes de atividades complementares de segurança pública pedem por reestruturação dos vencimentos Foto: Marcelo Ferreira/CB/DA Prees
  • Agentes de atividades complementares de segurança pública pedem por reestruturação dos vencimentos
    Agentes de atividades complementares de segurança pública pedem por reestruturação dos vencimentos Foto: Marcelo Ferreira/CB/DA Prees
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    Servidores sociais lutam por melhorias salariais e condições de trabalho na praça do Buriti Foto: Marcelo Ferreira/CB/DA Prees
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