Saúde

"Os impactos foram muito significativos", diz Fabiana Damásio sobre a pandemia

Ao CB.Saúde, a diretora da Fiocruz Brasília Fabiana Damásio destaca prejuízos causados pela pandemia e a luta para transmitir informações cientificamente comprovadas

Paulo Martins*
postado em 31/03/2022 19:13 / atualizado em 31/03/2022 19:15
 (crédito:  Ed Alves/CB)
(crédito: Ed Alves/CB)

As desigualdades provocadas pela pandemia de covid-19 estiveram no foco da entrevista concedida pela diretora da Fiocruz em Brasília, Fabiana Damásio, nesta quinta-feira (31/3), ao CB. Saúde, parceria do Correio Braziliense com a TV Brasília. “Vejo a necessidade de seguirmos desenvolvendo uma série de atividades a médio e longo prazo, porque os impactos foram muito significativos”, comentou a pesquisadora, em entrevista à jornalista Carmem Souza. 

Fabiana descreve os impactos diretos da pandemia no país. “Desde o primeiro momento da pandemia as desigualdades sociais históricas presentes no Brasil foram agravadas em função da necessidade de enfrentarmos o problema coletivamente. Hoje, temos 20 milhões de brasileiros em situação de fome e metade da população em situação de insegurança alimentar. A gente precisa buscar estratégias para garantir a equidade no acesso ao cuidado", adverte. 

Dentre os problemas apontados pela diretora, o aumento das pessoas em situação de rua é um dos destaques. “Vejo a necessidade de seguirmos desenvolvendo uma série de atividades a médio e longo prazo, porque os impactos foram muito significativos. Olhando para o DF, existe uma série de esforços para promover o acolhimento à população em situação de rua. Vemos um aumento de famílias que ficaram em situação de rua em função da perda do emprego e de não conseguirem pagar suas contas e se organizar", detalha. Fabiana Damásio diz que esta agenda tende a ser permanente, pelos efeitos persistentes do surto. 

A luta do instituto no combate às fake news é um exemplo de complicador inesperado que precisou ser enfrentado pela Fiocruz. “Nos colocamos, desde o primeiro momento, no sentido de permanecer vigilantes na forma correta de buscar o conhecimento científico e os dados, combatendo as fake news. Essa foi uma tarefa muito intensa durante a pandemia, porque precisava ser feita em tempo real, baseada nos dados e no conhecimento, para que pudesse chegar a toda população de forma fidedigna”, relata.

O estresse causado pela interferência de informações alarmantes, porém falsas, também foi detectado. Minimizar a interferência destas fake news na mente das pessoas foi uma das preocupações dos pesquisadores. “Dependendo do tipo de informação, você pode sentir mais medo de adoecer o que é um efeito estressor". Dessa constatação, nasceu a articulação com os comunicadores locais do DF para trocar informações, tirar dúvidas e pensar nas melhores estratégias”, explica.

A diretora aponta os planos práticos do instituto para manter a população informada. “Aqui no DF conseguimos lançar o Se Liga no Corona, onde a gente começou a trocar estratégias de comunicação num podcast, disseminando informações com mais rapidez, em tempo real". Ao perceber o êxito dessa primeira iniciativa, Fabiana conta que a equipe evoluiu para a divulgação de pequenos vídeos, de um ou dois minutos. Segundo a líder da equipe da Fiocruz Brasília, a ciência deu respostas que inspiram o desenvolvimento de estratégias não farmacológicas de proteção à saúde.

A situação dos trabalhadores da saúde em meio à pandemia também foi estudada pela Fundação. Uma pesquisa com os trabalhadores da saúde do Centro-Oeste, envolvendo 231 pessoas localizou em torno de 63% deles com transtornos de ansiedade, além de outros impactos significativos como burnout e sofrimento psíquico. Uma segunda pesquisa, citada por Fabiana na entrevista, aponta que os trabalhadores invisíveis da saúde em todo o Brasil (auxiliares administrativos, recepcionistas, maqueiros e outras funções) apresentaram 80% de desgaste emocional. De acordo com ela, estes dados ajudam a criar soluções para os trabalhadores que seguem na linha de frente.

A diretora fala, ainda, da sua visão panorâmica do instituto, uma vez passado o período pandêmico. “Precisamos observar (a ciência) nos seus mais variados campos para que a gente siga baseado em informações científicas, para toda a população se sentir segura, amparada e cuidada no âmbito da saúde”, diz.

*Estagiário sob a supervisão de Layrce de Lima.

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