TRAGÉDIA

Pai que matou filho com tiro acidental é indiciado por homicídio culposo

Especialista alerta que quanto maior o número de armas em circulação, maior o risco de tragédias como essa acontecerem, mesmo que a pessoa tenha recebido treinamento para usá-las. O homem tinha autorização para desempenhar a atividade de atirador desportivo, caçador ou colecionador

Ana Maria Pol
postado em 24/06/2022 06:00
Pai escreveu um bilhete pedindo perdão pelo tiro acidental que matou o próprio filho -  (crédito: Reprodução/Redes Sociais )
Pai escreveu um bilhete pedindo perdão pelo tiro acidental que matou o próprio filho - (crédito: Reprodução/Redes Sociais )

Após matar o filho de 11 anos com um tiro acidental por espingarda, um homem de 41 anos, identificado apenas pelo apelido de "Gauchinho", foi indiciado por homicídio culposo — quando não há intenção de matar. Em 27 de maio, a criança foi morta com um disparo na altura do peito, em Formosa (GO), enquanto o pai, que possui Concessão de Certificado de Registro para atirador esportivo, manuseava a arma, em casa. O caso foi investigado pela Polícia Civil de Goiás e concluído na última quarta-feira (22). 

Trabalhador autônomo, Gauchinho tinha quatro armas com autorização para desempenhar a atividade de atirador desportivo, caçador ou colecionador (CAC). "Era um revólver, uma pistola, um rifle e uma espingarda. Todas registradas e devidamente legalizadas", explica o delegado Danilo Meneses, chefe do Grupo de Investigação de Homicídio (GIH). À época do ocorrido, Danilo disse que a família não estava bem financeiramente e, por isso, o homem teria decidido vender uma das armas.

"Ele estava vendendo o revólver, que estava na mesma maleta da espingarda. Quando o cliente foi tirar uma foto, o pai pegou a espingarda para tirar da caixa, sem saber que estava destravada. Foi quando a arma disparou acidentalmente e atingiu a criança", recordou o delegado.

Depois de atingir o filho, Gauchinho teria levado a criança até a mãe, que tomava banho no momento do ocorrido. Desesperado, o pai da vítima chegou a tentar tirar a própria vida e acertou o próprio rosto com um disparo. Ao ser socorrido, ele escreveu um bilhete, dentro da viatura do Samu, dizendo que o fato foi um acidente e pediu desculpas pelo ocorrido. "Ele perdeu a fala e teve dano na visão e na função mastigativa", informa o delegado. O pai segue internado no Hospital de Base de Brasília.

O amigo de Gauchinho Anderson Rocha, 38, contou que pai e filho "eram um grude um com o outro, por onde ele andava o piá estava atrás". O delegado confirmou o forte laço emocional. "O menino era filho único, e todos com quem conversamos relataram uma ótima relação familiar. Eles estavam sempre juntos. O pai fazia questão de estar presente na vida da criança, dando muito amor e carinho. É um fato muito lamentável", afirmou Danilo Meneses. 

Perigo

O caso de Formosa exemplifica os perigos que armas em casa podem trazer, conforme esclarece Cássio Thyone Almeida de Rosa, perito criminal aposentado da Polícia Civil do DF (PCDF) e membro do Conselho do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). "No novo governo, houve uma flexibilização para que as pessoas consigam o registro de armas na modalidade de CACs. Então, nós já esperávamos o aumento desse tipo de ocorrência, ou de casos de ameaças, sendo que as pessoas que fazem parte dessa categoria sequer podem transportar armas na rua, a não ser para aquelas atividades às quais estão autorizados", diz.

De acordo com Cássio, quanto maior o número de armas em circulação, maior o risco de tragédias como essa acontecerem. "Acidentes com armas de fogo ocorrem porque as armas são instrumentos altamente perigosos e se tornam um mecanismo eficaz para lesões e, eventualmente, o óbito", cita. Ainda, segundo o especialista, mesmo que a pessoa tenha recebido treinamento para usá-las, o risco de acidente ainda existe. "Tanto é verdade que volta e meia a gente percebe acidentes com arma de fogo que ocorrem com policiais, por exemplo", cita. "Apesar de muitos acharem que trás a ilusão de segurança, as armas de fogo representam um risco para quem as tem", completa.

 

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