Preconceito

No dia do orgulho LGBT+, caso de homofobia no DF ganha repercussão

Em Sobradinho, grupo de amigos que saiu para jogar boliche terminou a noite na delegacia, onde denunciaram ter sofrido agressões físicas e verbais no estabelecimento

Rafaela Martins
Ana Maria Pol
postado em 28/06/2022 21:45 / atualizado em 29/06/2022 10:42
Em relato nas mídias sociais, Brenda Araújo relata que ela e um grupo de amigos foram alvo de ataques em um estabelecimento comercial -  (crédito: Reprodução/Redes Sociais)
Em relato nas mídias sociais, Brenda Araújo relata que ela e um grupo de amigos foram alvo de ataques em um estabelecimento comercial - (crédito: Reprodução/Redes Sociais)

No Dia do Orgulho LGBTQIA+, celebrado nesta terça-feira (28/6), o Distrito Federal registrou mais um caso de homofobia. Em Sobradinho, um grupo de amigos que saiu para aproveitar a segunda-feira (27/6) em um boliche encerrou a noite na delegacia, onde denunciaram supostas agressões físicas e verbais sofridas no estabelecimento. O relato ganhou repercussão após divulgação do caso nas mídias sociais de Brenda Araújo, uma das integrantes do grupo de amigos (assista abaixo).

O caso ocorreu no Capitão Boliche, segundo o relato. Dois homens teriam partido em direção ao grupo para agredir os colegas depois de Brenda beijar uma menina no banheiro. "A filha do dono do estabelecimento deu um surto. Mandou a gente embora. Deram um soco na cara do meu amigo e dois caras me empurraram", relata ela, que registrou alguns dos momentos da agressão, mas teve o celular tomado pelos agressores mais de uma vez. 

Além disso, duas mulheres e um homem que não teriam relação com o grupo foram agredidos, segundo o relato em vídeos, divulgados por volta das 23h de segunda-feira (27/6). O caso está registrado na 13ª Delegacia de Polícia (Sobradinho), onde uma das agressoras teria chamado um dos amigos de Brenda de "veado desgraçado". 

Brenda acrescentou que os responsáveis pelo estabelecimento disseram que a violência se justificou por envolver um "ambiente de família". "A gente dar um selinho no banheiro vai contra as diretrizes do estabelecimento", diz. 

Menos de uma hora depois, Brenda publicou novos vídeos. Ela afirma que os supostos agressores teriam acompanhado o grupo de amigos depois que eles saíram da 13ª DP. "Estão seguindo a gente. Já é a quinta vez que passam com o carro. Eles saíram da delegacia, seguiram a gente e estão vindo no mercado, por incrível que pareça", comenta. No momento em que a denunciante filmava, um dos agressores parte para cima de um dos amigos dela. "Tá achando que eu não sou homem não é?", pergunta o acusado.

Por volta das 2h, Brenda publicou nova foto que mostra o grupo, novamente, na 13ª Delegacia de Polícia. O caso ganhou amplitude nas mídias sociais, onde amigos e conhecidos da denunciante compartilharam as imagens. "Em pleno 2022, minha amiga sai lá do outro lado do DF para sofrer homofobia em Sobradinho", escreveu uma seguidora. "Voltamos para aquela fase, se é que um dia saímos, em que LGBTQIA+ só pode frequentar áreas de lazer voltadas para LGBTQIA+", lamentou um internauta.

Posicionamento

Ao Correio, Brenda contou que ela e a namorada se sentiram humilhadas, desrespeitadas e ficaram em choque com a reação violenta dos funcionários. "Mesmo não gostando da exposição, eu acho importante relatar o que aconteceu comigo, pois estamos atrás de justiça. Essas pessoas violentas não podem nos tratar da forma que querem. Eu e minha namorada fomos humilhadas por uma simples demonstração de afeto", contou a menina.

A vítima também relatou que está com dificuldades para conseguir as imagens das câmeras de segurança do estabelecimento. "A gente (o grupo) queria bater em uma tecla. Tudo pode ser provado por meio das câmeras se segurança, mas até agora não tivemos acesso as imagens mesmo com o boletim de ocorrência em mãos", questionou Brenda.

A reportagem procurou, ainda, a Polícia Civil do Distrito Federal para pedir explicações sobre os fatos narrados, mas a corporação informou que não localizou a ocorrência. Um dos delegados da 13ª DP informou que o registro foi transferido para a 35ª DP (Sobradinho 2). Quanto ao estabelecimento Capitão Boliche, a reportagem tentou contato na terça (28/6) por e-mail, ligação e WhatsApp, mas não houve resposta. Assim que o estabelecimento enviou a nota de repúdio, o conteúdo foi acrescentado à matéria. 

O outro lado

O Capitão Boliche divulgou uma nota de repúdio em resposta à denúncia de homofobia supostamente praticada por funcionários da empresa. A diretoria da empresa abre o documento ressaltando que "não compactua com esse tipo de postura e repudia qualquer incitação ao ódio ou discriminação" e que as declarações de Brenda nas redes sociais "são práticas intoleráveis e inadmissível (sic) de crime de homofobia" supostamente praticados pelo Capitão Boliche.

A empresa explica que, embora o Capitão não funcione às segundas-feiras, cedeu o espaço de festas para um evento particular fechado, portanto, sem clientes na casa, para confraternização de aniversariantes do mês de funcionários e colaboradores do Capitão Boliche. "Mas infelizmente funcionários de folga e amigos se alteraram no final da festa, decorrendo daí alguns desentendimentos levados à efeito a partir dos portões de saída do Capitão Boliche, na rodovia DF-150, na frente da própria delegacia de polícia civil e atingindo outros estabelecimentos ... da quadra 8, de Sobradinho".

A empresa informa inda que os fatos estão sendo apurados pela autoridade policial e reitera que a empresa é alto de "falsa autoria de crime de homofobia indevidamente atribuído ao Capitão Boliche". 

"Entristece-nos saber que, infelizmente, apenas um dos lados dos fatos foi amplamente divulgado nas redes sociais e pessoas inocentes e, especialmente a empresa Capitão Boliche, estão sendo acusadas injustamente disso, inclusive recebendo ameaças de pessoas anônimas e bloqueios sistêmicos do Instagram, Facebook e Google.

Desse modo, a assessoria jurídica do Capitão Boliche está atenta a expressões e atitudes que instigam o ódio por meio de redes sociais, notadamente por meio de discursos e narrativas ideológicas, sobretudo usadas de maneira que ultrapassem o direito de expressão, que obviamente tem limites, especialmente quando incitam a violência ou a agressão.

Por estas razões, o Capitão Boliche pede escusas aos clientes, e especial à comunidade LGBTQIA+ por essas falsas, inverídicas e lamentáveis denúncias contra a empresa."

Esta matéria foi atualizada em 29/6 com a nota de repúdio do Capitão Boliche. 

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