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Governo atrasa a entrega de crematório para a população de Brasília

O GDF informou há quatro meses que restava apenas 10% para concluir as instalações e começar a funcionar, mas não avançou desse ponto. Segundo o governo, falta realizar testes de queimas pela empresa estrangeira que vendeu o forno

Ana Luisa Araujo
postado em 22/07/2022 05:59 / atualizado em 22/07/2022 06:00
 (crédito: Carlos Vieira/CB/D.A.Press)
(crédito: Carlos Vieira/CB/D.A.Press)

Antiga reivindicação da população do Distrito Federal, o crematório no cemitério Campo da Esperança ainda deve demorar. Em abril deste ano,  o governo local disse que a construção estava 90% concluída e que em breve anunciaria a data da inauguração. Passados quase quatro meses, a instalação continua no mesmo patamar. 

A Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus) informou que "ainda há pendências processuais a serem dirimidas, além de testes de queimas que são feitos pela empresa estrangeira onde o forno foi adquirido". De acordo com o órgão, não existe previsão de entrega da obra, pois a Sejus depende dos trâmites com a concessionária que estão sendo concluídos. A ideia é que as pendências sejam resolvidas ainda neste semestre.

O crematório deve ajudar a resolver o problema de pouco espaço disponível nos cemitérios locais para novos jazigos. Segundo dados da Sejus, a unidade da Asa Sul, que abrigará a edificação, tem atualmente uma vida útil de aproximadamente sete anos. O DF realiza uma média de 1.046 sepultamentos mensais. A expectativa do subsecretário de Assuntos Funerários da Sejus, José Carlos Medeiros, é que em cinco anos a cremação represente 45% dos serviços do cemitério.  

O Correio visitou o crematório que, pelo observado, está praticamente pronto. O local já está com cerâmica, pintura, portas, janelas e ar condicionado. Tanto as câmaras frias — onde os corpos ficam armazenados, quanto o forno onde eles serão incinerados — parecem finalizados e disponíveis para serem utilizados.

O novo crematório ficará no complexo do cemitério Campo da Esperança da Asa Sul, e ocupará um espaço de 289m² que servirá como opção aos seis cemitérios existentes na capital. As obras são de responsabilidade da concessionária que administra os cemitérios e custou R$ 406 mil.

Muitos brasilienses acham que já passa da hora de a capital ter o próprio crematório e não precisar se deslocar para os municípios goianos de Anápolis e Valparaíso para cremar seus entes queridos. O desenvolvedor Lucas Emanuel da Silva, 24 anos, conta que a cremação é uma opção para ele, uma vez que o trabalhador pretende doar todos os órgãos que estiverem em condições de serem passados para frente. "Não vejo muito sentido em colocar só metade do meu corpo no caixão. Acho a ideia de cremar para plantar uma árvore, por exemplo, muito mais atrativa", afirma.

Lucas considera a cerimônia do enterro mórbida. A ideia das cinzas é mais interessante, já que se pode jogá-las em algum lugar: no mar ou até mesmo do céu. Sobre deixar pago uma cremação, ele diz que fica em dúvida. "Pagaria, mesmo sem estar sentindo que estou perto de morrer. Mas acho que minha vida pode mudar muito ainda, quando eu morrer eu posso nem estar em Brasília", comenta.

Mylena Cardoso, 24 anos, também não gosta da ideia de seu corpo físico se decompor debaixo da terra. Além disso, ela pensa na questão social. De acordo com seu argumento, em grandes metrópoles, não tem espaço para enterrar todo mundo, ela cita que há alguns lugares que os cemitérios são verticais e as pessoas são colocadas em paredes. Por essa razão, a cremação é uma ótima saída, na visão da assistente administrativo.

Sobre deixar paga sua cremação, ela pensa ser uma boa ideia. "Pagaria, justamente, para que esse meu desejo já ficasse definido, visto que algumas religiões não permitem a cremação", pondera. Na visão da jovem, ter suas cinzas espalhadas por vários lugares é algo que a deixaria feliz. Ela tem o desejo que seus restos mortais fossem parar em lugares que ela frequentava muito e que ela não conseguiu visitar.

Sobre a obra

A edificação contará com câmara fria, câmara ardente, depósito de resíduos, sanitário com acessibilidade e uma sala de despedida com capacidade para 40 pessoas. Segundo informações do Governo do Distrito Federal, a obra, que tem formato octogonal, possui aberturas e janelas em todas as fachadas, o que propicia a entrada de luz para o momento da despedida do ente querido. A edificação segue o mesmo princípio da concepção que o urbanista Lúcio Costa adotou para o desenho do cemitério, que é formado por uma espiral definida a partir do octógono.

 

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