Eleições 2022

Na reta final, militantes centram esforços para virar votos de indecisos

Aliados de Bolsonaro e de Lula têm hoje e amanhã para conquistar os eleitores que estão indecisos ou que votaram em outros candidatos à Presidência no primeiro turno. O foco dos coordenadores, até as 22h de sábado, será o corpo a corpo

Arthur de Souza
Raissa Carvalho*
postado em 28/10/2022 05:44 / atualizado em 28/10/2022 05:45
 (crédito:  Mariana Lins )
(crédito: Mariana Lins )

Daqui a dois dias, os 2,2 milhões de eleitores do Distrito Federal voltam às zonas eleitorais para eleger o novo presidente da República. Na capital do país, são 6.748 urnas eletrônicas, distribuídas em 610 locais de votação. No primeiro turno, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-DF) computou 1,8 milhão de votos dos brasilienses para o cargo de chefe do Executivo. Candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL) ficou na frente do seu adversário, Lula (PT), por uma diferença de 260.863 votos — enquanto o atual presidente foi escolhido por 910.397 eleitores, o petista teve a preferência de 649.534 brasilienses.

A deputada federal reeleita Bia Kicis (PL), que está à frente da campanha de Bolsonaro no DF, considera que o resultado por aqui — nesta segunda parte da campanha — foi bastante positivo para virar votos de indecisos e de pessoas que votaram em outros candidatos. "Estivemos com o povo, em suas casas, nas feiras, nas ruas, na Rodoviária do Plano Piloto, batendo papo e comparando os planos de governo dos candidatos e as pautas que eles apoiam, mostrando que o eleitor não precisa gostar do Bolsonaro para votar nele", ressalta.

Segundo a parlamentar, a intenção é continuar atuando dessa forma, olho no olho, até o último minuto permitido da campanha. "É assim que esperamos virar os votos nulos, brancos e indecisos, e temos percebido essa virada durante os atos de campanhas e em conversas com as pessoas", afirma. "Elas, às vezes, recebem muitas desinformações sobre as propostas do Bolsonaro e, desavisadamente, acabam acreditando. O nosso trabalho tem sido mostrar que ele pretende continuar com as políticas que tem feito, melhorando a empregabilidade e diminuindo a violência, por exemplo", detalha.

Confiança

Mesmo ficando atrás no primeiro turno, a expectativa da campanha de Lula no DF para domingo é positiva, segundo o deputado distrital Leandro Grass (PV), um dos responsáveis pela coordenação. "Nesses últimos dias, vamos intensificar ainda mais as agendas de rua com a militância também", ressalta. "Os apoios dos outros candidatos também são muito importantes, porque mostram uma união em torno do projeto de Lula", reforça Grass.

O parlamentar destaca que, até amanhã, são esperados dois grandes atos em favor do candidato petista. "Estaremos em vias públicas conversando com quem ainda está indeciso, mas também em eventos com a população. Nesta sexta (hoje), por exemplo, acontece a Caminhada da Esperança, em Planaltina. No sábado, terá a chamada Carreata da Vitória, passando por Ceilândia, Samambaia e Taguatinga", comenta. Para o distrital, o resultado de Lula aqui no DF será bem maior neste segundo turno. "Estou muito confiante de que os votos do presidente Lula vão aumentar, porque unimos todas as forças progressistas e aqueles que acreditam na democracia e sabem que o melhor para o país, neste momento, é o presidente Lula", conclui.

Um dos votos que as campanhas de Bolsonaro e Lula precisam conquistar aqui no DF é o da auxiliar administrativa Débora Silva, 29 anos. A moradora do Novo Gama afirma que ainda não definiu em qual dos candidatos deve votar no próximo domingo. "Estou indecisa porque, na verdade, está uma bagunça. Não tem nenhuma proposta, é só um atacando o outro", observa. "As pessoas não estão votando por pensar no Brasil, estão pensando só nos candidatos deles em atacar um ao outro. Acho que é besteira ficar brigando por essas coisas", considera.

Quem também ainda não escolheu em quem votar é a costureira Rita de Cássio Andrade, 49. E a culpa, segundo ela, nem é dos candidatos. "Desde que me entendo por gente, nunca vi uma campanha com tanta violência como a que estou vendo agora. É morte, briga, desavença entre famílias, tudo por conta da política", lamenta. "E a gente não quer isso. Queremos um Brasil de paz e melhor. Nunca presenciei o que estou vendo agora, uma grande surpresa isso", ressalta.

Vendendo blusas, bandeiras e camisetas dos candidatos, Jean Carlos, 45, afirma que consegue um bom lucro durante a campanha eleitoral. "No mês, chego a lucrar cerca de R$ 5 mil a R$ 6 mil e, se não sair tudo depois das eleições, devolvo para o fornecedor ou então tento vender mais barato", revela. O morador da Candangolândia, que trabalha na construção civil fora do período eleitoral, comenta que será difícil conseguir vender algo que faça menção a candidato, depois que acabarem as eleições.

Sem assédio

O Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região (Distrito Federal e Tocantins), determinou, no início da semana, que empresas e empresários do ramo do comércio não pratiquem assédio eleitoral, sob pena de multa de R$ 10 mil por empregado. A ordem, de acordo com a decisão, se aplica a negócios em todo o território nacional, independentemente de endereço e porte.

Na liminar, o juiz Antônio Umberto de Souza Júnior ainda estabelece que as empresas estão obrigadas a permitir que entidades sindicais acessem os locais de trabalho, para esclarecimentos a respeito do direito ao voto livre e que os empregadores devem se abster de praticar "quaisquer atos atentatórios à liberdade de voto de seus empregados e empregadas".

Efetivo total

Um Protocolo de Ações Integradas (POI) foi elaborado pela da Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF) e pelas forças de segurança da capital, para o segundo turno das eleições. O documento foi criado após reuniões e levantamentos de inteligência, segurança, mobilidade urbana, preservação do patrimônio público e, principalmente, a atuação no primeiro turno das eleições.

O planejamento da secretaria prevê reforço do policiamento nos pontos de votação, nas escolas, nos locais de apuração de votos, na segurança de juízes eleitorais e na prevenção e monitoramento de crimes eleitorais. Haverá, ainda, reforço das equipes de atendimentos de emergência, de delegacias e batalhões, escolta de promotores públicos e juízes eleitorais e policiamento de trânsito em vias e rodovias.

Todo o efetivo disponível das forças de segurança (11.575 agentes) estará atuando, ou de sobreaviso, no dia da votação, segundo a SSP-DF. Até o término de todo processo de votação, as escolas ficarão sob monitoramento da Polícia Militar (PMDF), assim como nas 20 juntas de apuração.

A Polícia Civil do Distrito Federal será responsável pela escolta de juízes eleitorais e promotores no dia da votação. Enquanto isso, o Corpo de Bombeiros (CBMDF) estará de prontidão para atuar em situações de emergência e incêndios, caso seja necessário. Já o Departamento de Trânsito (Detran-DF) atuará no controle e organização do trânsito nas proximidades de pontos de votação em todo DF.

*Estagiária sob a supervisão de José Carlos Vieira

 

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

  • Eleitores do Distrito Federal em 2022
    Eleitores do Distrito Federal em 2022 Foto: Valdo Virgo
  • Camisas e outros adereços com referências às duas campanhas dividem espaço no comércio de rua
    Camisas e outros adereços com referências às duas campanhas dividem espaço no comércio de rua Foto: Fotos: Mariana Lins/Esp. CB/D.A Press

Respeito ao resultado das urnas

Temos apenas 33 anos de um mesmo sistema político em funcionamento. Ainda que as leis eleitorais tenham sofrido ajustes de 1988 para cá, de maneira geral, podemos dizer que existe uma estabilidade mínima vigente no país. Nossa democracia ainda é extremamente jovem. Precisamos respeitar o resultado que vier nas urnas neste domingo, porque a estabilidade institucional é fundamental para o bom funcionamento e desenvolvimento de qualquer país.

Ainda não temos memória eleitoral suficiente e estamos aprendendo a lidar com as regras e com o nosso sistema político. Muitos daqueles que nasceram no final dos anos 1980 e início dos anos 1990 têm avós que não votaram durante uma parte da vida e pais que começaram a votar já na vida adulta. Ou seja, nos faltam memórias e histórias antigas sobre eleições democráticas, alternâncias de poder, de partidos, de lideranças. Uma estabilidade mínima que consigamos observar a partir de um mesmo sistema político, em funcionamento, por pelo menos meio século.

Em outras palavras: os nascidos no período pós-constituinte são a primeira geração de brasileiros que terão a oportunidade de passar o conhecimento sobre o funcionamento do sistema político para seus descendentes. Isso só será possível se as instituições democráticas perdurarem até lá e, para isso, é necessário que todos os brasileiros estejam comprometidos com a defesa das principais regras do jogo.

O sistema eleitoral brasileiro é referência mundial, podemos questionar e debater as regras definidas, mas não podemos desconfiar da eficácia das urnas simplesmente com o intuito de gerar instabilidade e desconfiança. Isso não traz mudanças efetivas para o país, apenas desordem. Desordem impacta na previsibilidade das coisas. Quem vai querer investir em um país que não tem previsibilidade? A instabilidade política não traz consequências apenas para o sistema político, traz consequências para todo o país, especialmente para a economia que o rege.

Tudo que foi construído e toda a tecnologia de ponta que desenvolvemos nas eleições do Brasil são um legado. Vamos celebrar a democracia, nosso direito de escolha e, principalmente, a escolha da população brasileira no dia 30. Que o próximo governo possa contar com um povo que está pronto para cobrar um bom trabalho, mas também consciente da responsabilidade coletiva que temos com a estabilidade das nossas instituições.

 

Letícia Medeiros,
cientista política pela Universidade de Brasília (UnB)

Tira-dúvidas eleitoral

Não compareci no primeiro turno, posso votar no segundo?

Todos aqueles que estão quites com a justiça eleitoral podem votar normalmente no dia 30 de outubro mesmo se tiverem faltado no dia 2. Só não pode votar quem faltou e não justificou ausência em três turnos consecutivos. E, caso esteja nessa situação, só dá pra resolver as pendências em novembro.

Quais documentos preciso levar para votar?

Para votar, a pessoa deve apresentar um documento oficial com foto. São aceitos os seguintes documentos: e-Título (título de eleitor em meio digital; se estiver sem foto, é necessário apresentar outro documento oficial com foto); carteira de identidade; identidade social; passaporte; carteira de categoria profissional reconhecida por lei; certificado de reservista; carteira de trabalho; e carteira nacional de habilitação.

Perdi meu título. Posso votar?

Não é obrigatório apresentar o título eleitoral para votar. O eleitor que souber seu local de votação pode votar sem título de eleitor, levando apenas um documento oficial com foto. Se não souber, pode consultar no portal do TSE, no aplicativo e-Título ou nos assistentes virtuais do TSE, no Twitter e no Facebook.

Qual o horário da votação?

No DF, os eleitores podem votar entre 8h e 17h.

Quem não fez o cadastramento biométrico pode votar?

No entanto, eleitoras e eleitores que ainda não realizaram o cadastro biométrico não precisam se preocupar. Todas as pessoas que estiverem com o título regular poderão votar normalmente, mesmo que não tenham biometria coletada pela Justiça Eleitoral.

Fonte: TSE

(ARTIGO) Respeito ao resultado das urnas

Letícia Medeiro,

Temos apenas 33 anos de um mesmo sistema político em funcionamento. Ainda que as leis eleitorais tenham sofrido ajustes de 1988 para cá, de maneira geral, podemos dizer que existe uma estabilidade mínima vigente no país. Nossa democracia ainda é extremamente jovem. Precisamos respeitar o resultado que vier nas urnas neste domingo, porque a estabilidade institucional é fundamental para o bom funcionamento e desenvolvimento de qualquer país.

Ainda não temos memória eleitoral suficiente e estamos aprendendo a lidar com as regras e com o nosso sistema político. Muitos daqueles que nasceram no final dos anos 1980 e início dos anos 1990 têm avós que não votaram durante uma parte da vida e pais que começaram a votar já na vida adulta. Ou seja, nos faltam memórias e histórias antigas sobre eleições democráticas, alternâncias de poder, de partidos, de lideranças. Uma estabilidade mínima que consigamos observar a partir de um mesmo sistema político, em funcionamento, por pelo menos meio século.

Em outras palavras: os nascidos no período pós-constituinte são a primeira geração de brasileiros que terão a oportunidade de passar o conhecimento sobre o funcionamento do sistema político para seus descendentes. Isso só será possível se as instituições democráticas perdurarem até lá e, para isso, é necessário que todos os brasileiros estejam comprometidos com a defesa das principais regras do jogo.

O sistema eleitoral brasileiro é referência mundial, podemos questionar e debater as regras definidas, mas não podemos desconfiar da eficácia das urnas simplesmente com o intuito de gerar instabilidade e desconfiança. Isso não traz mudanças efetivas para o país, apenas desordem. Desordem impacta na previsibilidade das coisas. Quem vai querer investir em um país que não tem previsibilidade? A instabilidade política não traz consequências apenas para o sistema político, traz consequências para todo o país, especialmente para a economia que o rege.

Tudo que foi construído e toda a tecnologia de ponta que desenvolvemos nas eleições do Brasil são um legado. Vamos celebrar a democracia, nosso direito de escolha e, principalmente, a escolha da população brasileira no dia 30. Que o próximo governo possa contar com um povo que está pronto para cobrar um bom trabalho, mas também consciente da responsabilidade coletiva que temos com a estabilidade das nossas instituições.

 

Letícia Medeiros, cientista política pela Universidade de Brasília (UnB)

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação