Democracia sob ataque

Ex-comandante-geral da PM é preso pela PF após decisão de Alexandre de Moraes

A decisão foi do ministro do STF Alexandre de Moraes. Na Câmara Legislativa, governistas e oposição comentaram a ação contra Fábio Augusto Vieira. Ricardo Capelli nomeou o coronel Klepter Rosa Gonçalves para o posto

Arthur de Souza
postado em 11/01/2023 05:00
 (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)
(crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

Ex-comandante-geral da Polícia Militar do Distrito Federal, coronel Fábio Augusto Vieira foi preso, nesta terça-feira (10/1), pela Polícia Federal (PF) e levado à superintendência da corporação. Ele teve a prisão determinada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. O militar estava à frente da corporação durante os atos de terrorismo do domingo, na Praça dos Três Poderes, que causaram a invasão e destruição do próprio STF, do Palácio do Planalto e do Congresso Nacional. O coronel foi preso em casa, no Park Way, e não ofereceu resistência quando os agentes da PF chegaram.

O militar havia sido exonerado do cargo de comandante geral da PMDF, na segunda-feira, pelo interventor federal na segurança pública do Distrito Federal e secretário-executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Capelli. O coronel vinha sendo duramente criticado e foi responsabilizado pela atuação dos policiais militares que estavam na Esplanada dos Ministérios, no momento da invasão. Fábio Augusto assumiu a função de comandante-geral da corporação em 19 de abril de 2022.

Formado em direito, o coronel Fábio Augusto está na PMDF há 30 anos. Além do Curso de Formação de Oficiais (graduação) e de Altos Estudos (pós-graduação) pela Academia de Polícia Militar de Brasília, ele tem especialização em segurança pública na Academia de Polícia Militar da Paraíba e é pós-graduado em ciências políticas pela Universidade do Chile.

O ex-comandante foi aprovado no concurso da instituição aos 17 anos, ingressou como cadete e fez carreira até chegar ao posto de coronel. Foi comandante do Regimento de Polícia Montada, do Segundo Comando de Policiamento Regional Sul e do Primeiro Comando de Policiamento Regional. Antes de ser nomeado comandante-geral, Fábio Augusto comandava a Subsecretaria de Operações Integradas da Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF).

Cautela

Presidente da Comissão de Assuntos Constitucionais da OAB-DF, Ana Carolina Andrada comentou sobre a decisão de prender o ex-comandante geral da PMDF. Ela afirmou que não é possível opinar a respeito da legalidade do processo, pelo fato de o inquérito ser sigiloso. No entanto, a advogada ressaltou que o ministro do STF pode ter utilizado os mesmos argumentos do documento que afastou o governador Ibaneis Rocha (MDB). "(Nesta decisão), ele (Moraes) antecipou que teria indícios de cometimento de crime de responsabilidade. Mas são apenas especulações. É importante termos bastante cuidado quanto a isso", alertou.

Ana Carolina Andrada comentou, ainda, sobre como a prisão do ex-comandante-geral da PM pode influenciar na segurança pública do DF. "O que a sociedade espera é que tudo volte à normalidade na maior brevidade possível", observou. "Ao que tudo indica, o interventor (Ricardo Cappelli) está tomando todas as medidas necessárias nesse sentido", destacou a advogada.

Divergência

Deputado distrital da base governista e subtenente da Polícia Militar, Hermeto (MDB) se solidarizou com Fábio Augusto Vieira e destacou que o coronel preso "não teve culpa" pelas consequências dos atos antidemocráticos. "Ele (Fábio Augusto) estava ensanguentado, no meio da tropa. Houve erros? Sim. Porém não teve dolo", opinou. O parlamentar afirmou que conhece o oficial e o classificou como "competente, humilde e trabalhador". "Foi um ato exagerado, o pedido de prisão. Ele já tinha sido afastado do cargo", comentou. "Fiquei na Polícia Militar durante 30 anos e sei da competência dos meus colegas de farda. A PMDF jamais teve a intenção de deixar qualquer um daqueles vândalos entrar nos prédios. Somos polícia de Estado, e não de governo", concluiu Hermeto, dizendo que o coronel foi "injustiçado".

O distrital Max Maciel (PSol) disse que a decisão foi "coerente". "Decisões judiciais se cumprem, e as instituições devem ser respeitadas", destacou.  "Mesmo com todos os indícios de que as manifestações poderiam ser violentas e o aviso da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) para a segurança do DF, sobre a possibilidade dos ataques, as forças de segurança falharam ao não mobilizar um efetivo suficiente, facilitando o acesso dos golpistas à Praça dos Três Poderes", comentou. "Por isso, é inegável que estamos diante de fatos gravíssimos e as autoridades que foram omissas e negligentes precisam ser responsabilizadas", ressaltou o distrital. Ele também lembrou dos atos do último dia 12 de dezembro.

Vândalos

No último domingo, o Distrito Federal viveu cenas de terrorismo na Esplanada dos Ministérios. Vândalos invadiram o Congresso Nacional, o STF e o Palácio do Planalto. O ministro da Justiça, Flávio Dino, culpou o governador Ibaneis Rocha — afastado do cargo pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF — e o ex-secretário de Segurança Pública do DF Anderson Torres — exonerado diante da total ausência de um esquema para conter os terroristas e que teve pedido de prisão decretado —, pelo caos na Esplanada dos Ministérios.

Secretário-chefe da Casa Civil do DF, Gustavo Rocha trouxe alguns dados sobre as pessoas que estão detidas na Academia da Polícia Federal. Segundo ele, 7.800 refeições foram entregues, entre café da manhã, almoço e jantar. Além disso, o secretário da Casa Civil disse que todas as pessoas que passaram mal foram atendidas. "Foram 54 profissionais disponibilizados para atender essas pessoas. 243 atendimentos no total, sendo que 30 foram para o hospital e dessas, apenas três continuam internadas", detalhou.

Ele também falou sobre os que foram levados aos presídios do DF. "Nosso sistema prisional está preparado para receber as pessoas que forem encaminhadas. Fortalecemos a logística e a segurança. Além disso, colocamos novos colchões e cuidamos da parte de higiene e limpeza dos locais, tanto para os homens quanto para as mulheres", concluiu.

 

Capelli escolhe Klepter Rosa  

Para o lugar do coronel Fábio Augusto Vieira, Ricardo Cappelli anunciou que o coronel da Polícia Militar Klepter Rosa Gonçalves vai assumir o cargo de comandante-geral da corporação. Klepter Rosa se formou como oficial de Polícia Militar na Academia de Polícia de Brasília. É graduado em direito pela Universidade Cruzeiro do Sul (2009) e MBA em gestão estratégica da Tecnologia da Informação pela Fundação Getulio Vargas (2013). Policial militar do DF desde 1993, é professor das disciplinas de análise criminal, gestão operacional, inteligência e planejamento estratégico na Academia de Polícia Militar de Brasília desde 2009. Capelli também exonerou 14 pessoas do comando da Segurança Pública.

Por meio de uma portaria, o interventor federal no DF também dispensou o superintendente da Polícia Federal no Distrito Federal, delegado Victor Cesar Carvalho dos Santos. O documento foi assinado ontem e especifica que o substituto será o também delegado Cezar Luiz Busto de Souza. Há 24 anos na Polícia Federal, o delegado foi superintendente em Maringá (PR) e teve uma breve passagem pela Diretoria de Investigação e Combate ao Crime Organizado (Dicor), em Brasília, em 2021.

Em sua rede social, Ricardo Cappelli fez um balanço sobre a intervenção no DF. "Seguindo as ordens do ministro Flávio Dino, desmontamos o acampamento golpista, identificamos e prendemos cerca de 1.000 pessoas que atentaram contra o Estado Democrático de Direito e trocamos o comando da PM no DF", destacou, afirmando que a "lei será cumprida".

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Capelli escolhe Klepter Rosa

 (crédito: Reprodução/PMDF)
crédito: Reprodução/PMDF

Para o lugar do coronel Fábio Augusto Vieira, Ricardo Cappelli anunciou que o coronel da Polícia Militar Klepter Rosa Gonçalves vai assumir o cargo de comandante-geral da corporação. Klepter Rosa se formou como oficial de Polícia Militar na Academia de Polícia de Brasília. É graduado em direito pela Universidade Cruzeiro do Sul (2009) e MBA em gestão estratégica da Tecnologia da Informação pela Fundação Getulio Vargas (2013). Policial militar do DF desde 1993, é professor das disciplinas de análise criminal, gestão operacional, inteligência e planejamento estratégico na Academia de Polícia Militar de Brasília desde 2009. Capelli também exonerou 14 pessoas do comando da Segurança Pública.

Por meio de uma portaria, o interventor federal no DF também dispensou o superintendente da Polícia Federal no Distrito Federal, delegado Victor Cesar Carvalho dos Santos. O documento foi assinado ontem e especifica que o substituto será o também delegado Cezar Luiz Busto de Souza. Há 24 anos na Polícia Federal, o delegado foi superintendente em Maringá (PR) e teve uma breve passagem pela Diretoria de Investigação e Combate ao Crime Organizado (Dicor), em Brasília, em 2021.

Em sua rede social, Ricardo Cappelli fez um balanço sobre a intervenção no DF. "Seguindo as ordens do ministro Flávio Dino, desmontamos o acampamento golpista, identificamos e prendemos cerca de 1.000 pessoas que atentaram contra o Estado Democrático de Direito e trocamos o comando da PM no DF", destacou, afirmando que a "lei será cumprida".

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