Mês das mulheres

Mulheres mostram suas forças também como empreendedoras

Elas estão rompendo as barreiras do machismo e da misoginia para se firmarem no mercado de trabalho e, com garra e dedicação, mostram que podem obter realização profissional também em empreendimentos próprios

Júlia Eleutério
Mariana Saraiva
postado em 02/03/2023 05:56 / atualizado em 02/03/2023 05:57
 (crédito:  Minervino Júnior/CB)
(crédito: Minervino Júnior/CB)

As posições de liderança no mercado de trabalho ainda não estão no cenário ideal de equilíbrio de gêneros, mas a presença feminina nas mesas de comando cresceu. As mulheres estão se apropriando da gestão de empresas e instituições diversas, mesmo ainda enfrentando diversas barreiras impostas pela sociedade, como a maternidade, questões biológicas e jornada ampliada, em que conciliam o trabalho com os afazeres domésticos e os cuidados consigo próprias. Mais do que encarar as chefias, elas têm abraçado, ainda, o desafio de tomar as rédeas de um negócio próprio. Segundo dados divulgados pelo Sebrae, em 2021, o número de mulheres empreendendo no Distrito Federal aumentou 27%.

Dona de uma esmalteria e um estúdio de pilates e fisioterapia, Monaliza Barbosa Arruda, 40, começou a empreender há 12 anos, ao buscar uma inovação para a qualidade de vida, principalmente nos idosos. Na época, a empresária teve o primeiro filho e trabalhava como prestadora de serviços para um plano de saúde e com atendimento domiciliar. "Fui percebendo um aumento dos meus custos e uma queda da minha renda. Comecei a ter que atender mais para poder manter o que já tinha conquistado e o fato de ficar o dia na rua me deixava muito aflita, apesar de todo cuidado que cercava meu filho", recorda.

Ela conta que, depois de pensar muito e encorajada pelo marido, que é administrador de formação, decidiu arriscar com a abertura do estúdio, na Asa Sul. Em 2020, nasceu um novo negócio: a You Esmalteria, no Sudoeste. "Queria algo diferente, do meu jeito e com qualidade", comenta a empresária, que destaca uma frase que sempre ouviu do marido: "Tudo, quando é bem feito, dá dinheiro". Ela conta que leva essa premissa com foco nos negócios e planeja ampliar os negócios.

Com duas lanchonetes inauguradas há menos de um ano, Claudete Souza, 52, viu no empreendedorismo a conquista da independência financeira e da realização profissional. Com a sobrinha, Thais, abriu as portas da Rei da Pidê, na Quadra 100 do Sudoeste, em maio de 2022, e na 410 da Asa Norte, em junho do mesmo ano. "A pidê é uma esfiha turca com opções doces e salgadas", explica a moradora do Guará, que acredita ser necessário ter jogo de cintura e resiliência para superar os desafios de conduzir um negócio. "Fazer a gestão financeira não é fácil e entender sobre taxas e tributos é ainda mais difícil. Tive que aprender como gerenciar o fluxo de caixa, custos e os estoques, captar clientes e adquirir crédito. Tornar a empresa reconhecida no mercado e conquistar o nosso espaço é muito desafiador", comenta a sócia-proprietária.

A novata no empreendedorismo comenta que sempre trabalhou com vendas e se encanta em lidar com o público e ver a alegria no olhar dos clientes ao serem bem tratados e receberem um bom produto. "A sensação de trabalho cumprido traz uma enorme satisfação. Gosto de buscar novos desafios e causar um impacto positivo na vida dos outros", destaca Claudete, que pretende, em curto prazo, aumentar o faturamento das vendas e reduzir os custos operacionais, além de ajudar a família e viver com tranquilidade.

Liberdade financeira

As razões para empreender são diversas. Em muitos casos, a medida surge como alternativa ao atravessar um período difícil, como ocorreu com Silvia Maria, de 42 anos. Técnica de enfermagem, a moradora de Ceilândia se afastou da profissão em 2013, quando nasceu a filha. Passando por um período de crise financeira em 2017, deu o primeiro passo em busca de uma nova fonte de renda: começou a vender pão de queijo congelado a vizinhos e amigos.

A partir disso, Silvia fez um curso de confeitaria, abriu um CNPJ como microempreendedora individual (MEI), criou redes sociais para a Silvia Pessoa Confeitaria Afetiva e foi à luta. "Quando comecei, eu não tinha nada, apenas uma batedeira antiga. E de lá para cá, vejo o quanto fui abençoada através do meu trabalho", contou a confeiteira.

No início, Silvia sentiu medo. "Desde jovem, estudava para concursos públicos e, para mim, não havia outra opção. Não sabia por onde começar e nem o que fazer. Busquei ir além dos meus instintos e aprender como ser uma empreendedora", revelou. "Se eu pudesse dar um conselho para uma mulher que está começando seria traçar um plano de negócio. Buscar uma consultoria para auxiliar nas áreas que têm mais fragilidade, estudar o mercado, ter foco e buscar sempre se especializar", ressaltou ela, que foi convidada para ministrar uma aula de empreendedorismo no Sebrae.

Silvia também se orgulha de ter concluído a faculdade em gestão em empreendedorismo e o MBA em marketing. Com instinto ambicioso, ela traça projetos para o futuro. "Quero ampliar os negócios, quem sabe abrir a minha loja física. Pretendo dar aulas para ensinar as mulheres não apenas como ser confeiteiras, mas também empreendedoras. Assim como um dia me descobri, quero que muitas mulheres possam viver o mesmo", comentou Silvia.

Entre os pontos positivos que envolvem ser proprietária de uma empresa, a independência financeira pode ser o que mais atrai as mulheres. Ter o próprio dinheiro é a maneira mais concreta de obter realização profissional, por meio de conquistas materiais e cumprir de sonhos. Foi almejando a liberdade em todos os sentidos da palavra que Jéssica Freire, 31, abriu o Lá no Brechó, em Samambaia. "O que me fez começar a empreender foi a liberdade de não trabalhar para outra pessoa, de poder configurar a empresa de acordo com minhas crenças e ter um clima leve de trabalho", destaca. O estabelecimento — de dois anos e cinco meses — tem como visão um consumo responsável da moda, minimizando os danos de uma indústria poluente por meio da reutilização de peças em bom estado.

Para a dona do Lá no Brechó, o maior desafio de empreender na capital está ligado ao fato da cidade ter cultura concurseira. "As pessoas estão tão focadas nisso que não compreendem a dedicação que é necessário para ter um negócio", desabafa. Outra questão citada por ela é a velocidade do digital, que gera a demanda de sempre precisar estar antenada para não ficar para trás.

Orgulhosa, Jessica afirmou que basicamente todas as mulheres do ciclo em que convive tem um negócio e isso demonstra que as mulheres estão conquistando cada vez mais seu espaço e renda. No futuro, a empresária vislumbra expandir para o e-commerce, como forma de aumentar as vendas e atender outras regiões além de Brasília.

Perseverança

Gerir um negócio é um exercício constante de perseverança. Não se deixar abalar diante dos obstáculos é um fator crucial para consolidar uma empresa no mercado, e como consequência, usufruir de todo o prestígio que o sucesso pode oferecer.

Com espírito empreendedor nato, Suian Carvalho, 30, conta que, desde criança, falava que se tornaria uma empresária e teria muitos negócios. Com 13 anos, a bacharel em direito pegava as roupas que a mãe, as tias e a avó não usavam mais para fazer um bazar na garagem da casa da minha avó. Depois, começou a fazer doces para vender para a vizinhança, em Ceilândia.

Após alguns anos, Suian se tornou a empresária que tanto queria. Atualmente, ela tem empresas no ramo da educação, que são o Espaço Albert Einstein e a Carvalho Marinho Cursos EaD, além de trabalhar com o mercado digital, onde vende um e-book que ensina as pessoas, principalmente as mulheres, a empreenderem. “O mercado digital é a razão de todos os meus negócios existirem”, ressalta a empreendedora.

Com muito orgulho, Suian conta que, no Espaço Albert Einstein, são atendidas crianças com déficit de atenção, síndrome de down, autismo e crianças com dificuldade de aprendizagem de modo geral. Criada há cinco anos e com duas unidades em Ceilândia, ela destaca que a maior conquista como empreendedora é o Espaço. “Lá, eu me encontrei e passei a ver o mundo com outros olhos. Lá eu conheço mães que recebem o diagnóstico dos filhos e é algo muito complicado. O que marcou a minha trajetória até hoje é ver crianças que muitas vezes a sociedade olha e acha que ela não vai aprender a ler e escrever e não vai ter uma perspectiva de vida caminhando e aprendendo”, pontua.

Para o futuro, a empreendedora e sonhadora planeja abrir mais unidades do Espaço Albert Einstein e crescer no mercado digital. “Eu amo empreender e sou apaixonada por esse empreendedorismo feminino”, comentou. No entanto, nem tudo são flores. Suian conta que o maior desafio é manter as portas abertas e ter um negócio sólido no mercado. “No meio dessa caminhada, eu tive negócios que não deram certo. Ainda mais que enfrentamos uma pandemia que, na área da educação, foi muito complexo, mas conseguimos superar”, frisa a empreendedora digital e educacional.

Com uma vasta experiência no ramo de restaurantes e alimentação, Maria Aparecida, 46, pediu demissão da empresa que trabalhava em 2016, e arriscou empreender. Em meio aos trametes do novo projeto, sua irmã, Janice, sofreu um acidente que quase lhe custou a vida e a deixou sem a visão do olho direito e a audição do ouvido esquerdo. Naquele momento, o mundo de Maria parecia ter desabado, ela precisava ajudar a irmã a se recuperar. Cerca de 6 meses após o ocorrido, ela retomou seu planejamento e foi para São Paulo fazer um curso de panificação.

Em 2018, o plano saiu do papel e a empresa finalmente tomou forma física. Maria e Janice inauguraram o Empório delas, um espaço criado para que as pessoas pudessem comer e adquirir produtos com uma preparação afetiva e sabor de comida caseira. Novamente, um novo desafio chegou a vida das irmãs, a pandemia de covid- 19 fez com que elas precisassem fechar as portas. "Infelizmente não conseguimos nos manter abertos, ficamos o ano de 2022 longe do mundo da alimentação” relatou Maria.

Em dezembro de 2022, um amigo próximo a incentivou a não desistir e voltar a empreender ao lado da irmã. Dessa vez, a dupla apostou em uma empresa de buffet, agora se chamando Empório delas culinária afetiva. “ É um segmento extremamente competitivo, cansativo, mas prazeroso. É uma descarga de adrenalina chegar ao final de um evento e ouvimos das pessoas sobre a alegria em comer da nossa comida” , contou. “É gratificante estar num ambiente que nós, eu e os meus clientes preparamos para receber cada convidado, mais do que isso, é saber que junto comigo há uma gama de pessoas trabalhando, produzindo e mantendo suas famílias.” concluiu a empreendedora.

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  • Silvia Maria
    Silvia Maria Foto: Acervo pessoal
  • Claudete Souza e a sobrinha e sócia Thais
    Claudete Souza e a sobrinha e sócia Thais Foto: Acervo pessoal
  •  01/03/2023. Crédito: Mariana Lins/Esp.CB/D.A Press.Pautas Mulheres Empreendedoras,Personagem Monaliza Arruda
    01/03/2023. Crédito: Mariana Lins/Esp.CB/D.A Press.Pautas Mulheres Empreendedoras,Personagem Monaliza Arruda Foto: Mariana Lins
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