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'Escolas precisam falar sobre violência contra a mulher', diz antropóloga

A professora da UnB e doutora em ciências humanas Lia Zanotta participou do seminário sobre o combate ao feminicídio, promovido pelo Correio, e falou da dificuldade que a mulher tem de denunciar a violência pela qual passa

Naum Giló
postado em 07/03/2023 17:07 / atualizado em 07/03/2023 17:12
 (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press )
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press )

O jornal Correio Braziliense promove, nesta terça-feira (7/3), o seminário Combate ao feminicídio: uma responsabilidade de todos. Entre as autoridades e especialistas que marcaram presença no debate, estava Lia Zanotta Machado, antropóloga, professora emérita da Universidade de Brasília (UnB) e doutora em ciências humanas. Ela participou do primeiro painel, cujo tema foi “De casa à escola: o caminho da mudança”. Lia destacou que a violência doméstica e o feminicídio se inserem em contextos afetivos, com companheiros e outras pessoas com graus de parentesco ou proximidade envolvidos.

Segundo a antropóloga, são justamente essas relações afetivas que impedem que algumas mulheres denunciem as violências pelas quais estão passando. "Elas também têm medo. O perigo não está lá fora, mas dentro de casa. Ela tem vergonha e sente medo de ser coagida pelos familiares do companheiro", diz. "Precisamos de uma integração entre o executivo e judiciário no combate a esse tipo de violência. Precisamos também de atendimentos aos homens. É fundamental que haja grupos de reflexão para eles".

Ela lembra que o Judiciário pode fazer isso, mas o executivo também pode tomar a frente da inciativa. "Agora, a demanda mais geral é que as escolas precisam falar disso. Os órfãos do feminicídio são muitos", ressalta. Ela levou para o encontro números que revelam os danos nas famílias causados pelo feminicídio no DF, entre 2015, quando o crime foi tipificado, e 2022: foram 153 vítimas, 150 autores, 181 menores órfãos e 108 maiores de idade que perderam a mãe para a violência. Ela destacou que esse tipo de violência é mais comum nas parcelas mais vulneráveis da sociedade, como as mulheres negras, pobres e de baixa escolaridade.

A cultura machista como forma de controlar as mulheres também foi tema da fala da antropóloga, assim como a cultura do estupro, como fatores que perpetuam a violência de gênero. "Quando fiz um estudo sobre casos de estupro, vi que boa parte dessas violências vêm de familiares. Já de desconhecidos, há um número maior de prisões. Esses homens desconhecidos não buscam por prazer sexual, mas por uma relação de poder sobre a mulher. Também é o caso de homens que não se importam mais com o grau de proximidade com as vítimas. O feminicídio já está sendo muito discutido e é algo muito sério. Já sobre o estupro, fala-se menos e também é muito sério", alerta.

"É difícil denunciar o estupro porque também tem a questão da vergonha e da culpa impostas à mulher. Tanto no estupro e quanto na agressão, a mulher é culpabilizada e o homem fica na posição de que fez algo levado pela postura da mulher", lamenta.

Sobre levar o combate à violência de gênero para as escolas, Lia fala que as crianças precisam aprender que os conflitos são naturais, mas que eles precisam ser resolvidos com diálogo, calma e autocontrole, não com agressividade. “É mostrar, também, que, independentemente do gênero, sexualidade e raça, somos todos iguais. O respeito à igualdade da diversidade é muito importante. Geralmente, aprende-se isso com a família, mas a família muitas vezes é quem ensina a violência para a criança. Então a escola entra com esse papel”.

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