Cidadania

Rede de proteção proporciona cirurgia plástica a vítimas de violência doméstica

TJDFT e Fundação Ideah firmam parceria para realizar um mutirão de cirurgias plásticas reparadoras em vítimas de violência doméstica no Distrito Federal, que ficarem com algum tipo de sequela

Arthur de Souza
postado em 27/04/2023 06:00
 (crédito:  Carlos Vieira/CB)
(crédito: Carlos Vieira/CB)

Em termo de cooperação assinado tarde desta quarta-feira (26/4) pela Fundação Instituto para Desenvolvimento do Ensino e Ação Humanitária (Ideah), da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), e o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), a capital do país passa a oferecer, oficialmente, atendimento gratuito às mulheres e crianças vítimas de violência doméstica.

De acordo com o presidente do TJDFT, desembargador Cruz Macedo, o tribunal tem formado uma verdadeira rede de proteção à mulher, com diversas frentes. "Agora, com o convênio, vamos tentar reparar os danos físicos que muitas mulheres sofrem, em decorrência da violência", apontou. "A nossa ideia é que as varas de Violência Doméstica indiquem as pessoas que precisem de uma cirurgia de reparação, para que a gente possa tentar devolver a autoestima a elas", ressaltou Cruz Macedo.

A juíza de direito Luciana Lopes Rocha, coordenadora do Núcleo Judiciário da Mulher do TJDFT, deu mais detalhes sobre a parceria. "A partir dos casos judicializados, será feito o encaminhamento das vítimas para a Fundação Ideah, que vai fazer o diagnóstico sobre a indicação de cirurgia. Em seguida, elas serão encaminhadas para a rede credenciada privada e da SBCP", disse.

A partir da assinatura do acordo, segundo a magistrada, serão feitas reuniões de trabalho com a Fundação Ideah, para realizar esses diagnósticos. "Serão oficiados todos os juízes das varas de Violência Doméstica, para fazer um mapeamento da necessidade de cada vítima", acrescentou Luciana.

Dignidade

O presidente da Fundação Ideah, Luciano Ornelas Chaves, lembrou que, durante a pandemia, houve um crescimento de 50% nos casos de violência doméstica. "Além disso, o país tem uma estatística de um feminicídio a cada seis horas. As mulheres que não são mortas, ficam sequeladas e isso é um problema de saúde pública", alertou. Ele destacou que a vítima de violência doméstica se difere de outros pacientes. "Ela se refugia. Não procura um especialista, pois precisa se justificar durante a consulta e são sempre histórias terríveis. O projeto vai realizar uma busca ativa, por meio do TJDFT, dessas vítimas, para que possam ter o mínimo de dignidade recuperada", reforçou Ornelas.

Membro titular da SBCP, Luiz de Gonzaga Guimarães, que atua como cirurgião no DF destacou a importância da assinatura desse acordo. "É uma iniciativa muito acertada, pois a sociedade vive uma crescente na violência doméstica, tanto no DF quanto em todo o país. O projeto mostra o engajamento da SBCP com o meio social, pois inclui as vítimas em situação de vulnerabilidade", ressaltou o médico.

Uma das vítimas de violência doméstica — que passou pelo projeto em Goiás —, a auxiliar de limpeza Ana Paula Tavares discursou durante o evento e contou sobre o que passou com o seu agressor, em 2004. "Morava em São Sebastião e vivia com uma pessoa. Numa noite, ele chegou tarde em casa, bêbado, e eu levantei para ir ao banheiro. Nesse momento, ele quis brigar e não dei muita atenção", comentou. "No que entrei no banheiro, ele veio atrás com uma faca e começou a me golpear, acertando três vezes. Comecei a sentir muita dor e a ficar fraca. Depois disso, ele me pegou no colo, jogou na cama e deu mais duas facadas", acrescentou.

A moradora de Formosa (GO) disse que só sobreviveu porque as filhas gritaram muito alto e chamaram a atenção dos vizinhos. "Fui atendida no Hran e saí de lá depois de 28 dias. Após esse período, minha vida não foi fácil. Ele passou um ano preso, e eu fiquei com esse trauma. Eu me senti uma pessoa mutilada, o meu umbigo ficou para o lado", ressaltou. "A minha filha, que tinha 4 anos na época, precisa passar por tratamento psiquiátrico, pois ela presenciou tudo, e hoje vive à base de remédio controlado", lamentou Ana Paula.

 

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação

CONTINUE LENDO SOBRE