Entrevista | Gutemberg Fialho | Presidente do Sindicato dos Médicos

Para presidente do Sindicato dos Médicos, concursos não atraem médicos

Para Gutemberg Fialho, presidente do Sindicato Médicos (Sidimédicos), não adianta contratar mais profissionais ou construir mais hospitais, a Secretaria deve investir em melhorar atrair médicos para a rede pública

Isac Mascarenhas*
postado em 12/05/2023 06:00
 (crédito:  Mariana Lins )
(crédito: Mariana Lins )

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estática (IBGE), o Distrito Federal é a unidade com mais médicos por moradores. São 338 a cada 100 mil habitantes. A população, porém, sofre diariamente nos hospitais a falta deles. Para o presidente do Sindicato de Médicos (Sindimédicos), Gutemberg Fialho, a estrutura ruim, pressão, insegurança e baixos salários afastam os médicos.

"Temos a maior proporção de médicos, entretanto não temos eles na rede pública. Não existem condições que atraiam o profissional", explicou no CB.Saúde — parceria entre Correio e TV Brasília — de ontem.

"A Secretaria de Saúde tem falado que concursos são abertos, mas os profissionais aprovados não assumem. Se Brasília tem médico suficiente e as estruturas são ruins, então não se deve fazer concurso. Não basta contratar profissionais, tem que dar condições para ele trabalhar", indicou à jornalista Adriana Bernardes. 

O DF tem muitos médicos proporcionalmente, mas por que a população ainda sofre tanto?

Brasília tem a maior proporção de médicos por habitante do país, porém nós não temos médicos na rede pública, porque, no momento, não tem condições que atraiam o profissional. Pediatria, por exemplo, temos mais de 1.200, mas apenas 500 na rede pública. Precisa de políticas públicas para atrair esses profissionais para trabalhar na Secretaria de Saúde (SES). São péssimas condições de trabalho, pela pressão das condições salariais desfavoráveis. Alguns pedem demissão porque não aguentam mais o adoecimento.

Quais são as outras áreas em situação crítica?

Temos um déficit de no mínimo três mil médicos. São 10 mil postos de trabalho e pouco mais de 6 mil na SES. Está faltando anestesista, ortopedista, oncologista, um problema grave. O paciente diagnosticado com câncer passa mais de dois anos aguardando uma consulta oncológica. A ginecologia é outra especialidade em situação crítica, mas que é barata para o Estado. Então é aquele drama, se ele é diagnosticado e não é tratado de imediato, além da angústia emocional, a saúde diminui a cada dia. Se consegue a consulta, demora para fazer radio ou quimioterapia. Precisa-se de uma reformulação do plano de cargos e salários, precisa melhorar as condições de trabalho.

Como seria essa reformulação para atrair os médicos?

Hoje a SES tem falado que tem concurso, mas os aprovados não assumem. É por conta das condições salariais, das péssimas condições de trabalho. Se eu sei que já tem médico suficiente e que a estrutura é ruim, o que tenho que fazer? Melhorar as condições, e não fazer concurso. Ou se melhoram as condições, para que o profissional volte a se interessar, ou a população vai continuar sofrendo.

O orçamento dá conta de melhorar a estrutura e aumentar os salários?

Quando se trata de saúde, você está tratando de vida, então tem que ter prioridade. Se a prioridade do governo é cuidar da vida da população, se não está no orçamento, o recurso tem que ser remanejado. O orçamento da Secretaria de Saúde é uma coisa fantástica. Estava em torno de R$ 7 bilhões, tem a parte do Fundo Constitucional e um aumento da parte do Tesouro. O orçamento da Secretaria de Saúde agora é de R$ 10 bilhões. Nós precisamos ter mais assertividade, mais comprometimento e gastar com o que é realmente prioridade e observância, sem desperdício. Temos denúncias de desperdício, a última delas é que o Iges-DF (Instituto de Gestão em Saúde), um modelo que nós criticamos, paga R$ 3 mil no aluguel de um notebook, um aparelho que se compra por menos que isso. Tem alguma coisa errada. Tem que ter compromisso e economicidade com os impostos do cidadão.

Terceirização é a solução ou um erro?

A terceirização, naquilo que o estado não pode oferecer, deve ocorrer. Até porque tem uma demanda da população que está morrendo. Não há problema, desde que o estado a médio e longo prazo crie seus meios para não ser dependente da terceirização. Agora, o histórico de terceirização do DF é péssimo. Um modelo [Iges-Df] que não deu certo, crise atrás de denúncia. A Real Espanhola, terceirização do Hospital Santa Maria, acabou em escândalo. O Instituto Candango de Solidariedade acabou em gente presa. A Fundação Zerbini, a mesma coisa. Então nós precisamos tratar a terceirização com cuidado e naquilo que o estado não pode oferecer. Deve-se terceirizar enquanto expande seus próprios serviços.

*Estagiário sob a supervisão de Suzano Almeida

 

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