Mobilidade urbana

Passageiros reclamam de trânsito lento devido às obras no Corredor Eixo Oeste

A conclusão da obra do Corredor Eixo Oeste, que promete reduzir o tempo das viagens de ônibus entre o Sol Nascente e o Plano Piloto, está prevista para 2025. Enquanto isso, especialistas apontam outras soluções

 Obras no Setor Policial Sul para construção de novo viaduto que deve aliviar o tráfego de veículos
 -  (crédito:  Carlos Vieira/CB/D.A Press)
Obras no Setor Policial Sul para construção de novo viaduto que deve aliviar o tráfego de veículos - (crédito: Carlos Vieira/CB/D.A Press)
postado em 17/11/2023 06:07 / atualizado em 17/11/2023 13:52

Idealizado para permitir que as viagens de ônibus entre o Sol Nascente e a área central do Plano Piloto (uma média de 30 km) durem apenas 30 minutos, o Corredor Eixo Oeste segue em obras que não parecem ter fim. Duas das quatro grandes obras que fazem parte do complexo viário foram concluídas e o último serviço deve ser entregue em 2025, de acordo com o Governo do Distrito Federal (GDF).

 O corredor passará pelas avenidas Hélio Prates e Comercial Norte, pelo centro de Taguatinga e pela EPTG, onde vai se desmembrar em dois: um lado vai para a Estrada Setor Policial Militar (ESPM) e outro para a Estrada Parque Indústrias Gráficas (Epig). Enquanto as obras não são concluídas, usuários das regiões afetadas contam os percalços que enfrentam no dia a dia.

CID-Obras
CID-Obras (foto: Valdo Virgo)

Moradora de Taguatinga, a caixa de restaurante Kezia Ferreira, 39 anos, classifica como péssima a rotina no transporte público. "Costumo ficar duas horas dentro do ônibus, tanto na ida quanto na volta do trabalho. São pelo menos quatro horas perdidas, diariamente", calcula. "Isso faz com que eu me atrase, praticamente todos os dias. Meu horário é às 8h, mas quase sempre chego no trabalho por volta das 9h", acrescenta.

"Sem contar que, essas horas perdidas, eu poderia aproveitar de outras formas, dormindo mais, fazendo coisas dentro de casa, etc.", destaca. Para tentar amenizar a situação com o patrão, Kezia afirma que manda fotos e vídeos, para mostrar que está presa em um engarrafamento.

Assim como ela, o topógrafo Gabriel Oliveira, 26, também tem reclamações sobre a demora no trajeto. "No meu caso, o problema é na volta para casa, em que costumo pegar mais engarrafamento e demoro cerca de uma hora e meia para chegar", comenta o morador de Ceilândia Sul. "É bem complicado. Acordo cedo, pego o ônibus às 4h50 e só chego em casa às 19h, quando o trânsito está normal, se não, só às 20h. Então, só tomo um banho e vou dormir. Tem dias que passo mais tempo no trânsito do que no próprio trabalho", reclama Oliveira.

Investimento

Kesia e Gabriel acreditam que a situação pode melhorar com a conclusão das obras do Corredor Eixo Oeste. Porém, os dois vão além, e colocam outras possíveis soluções. "Além do corredor, acho que aumentar a frota também ajudaria bastante, pois os ônibus não ficariam tão cheios e melhoraria a questão dos horários", aponta o topógrafo. "Tem poucos ônibus, que não conseguem suprir o que a gente necessita. Além disso, essas obras que estão espalhadas também atrapalham. Espero que, com a conclusão do corredor, a gente fique menos tempo nos ônibus", torce Kezia.

As soluções apontadas por eles vão ao encontro da opinião de especialistas. Doutor em transportes pela Universidade de Brasília (UnB) e professor de engenharia civil da Universidade Católica de Brasília (UCB), Edson Benício destaca que, além do investimento no corredor viário, outras obras que priorizem o transporte coletivo precisam entrar no raio de ação do governo. "Mais BRTs, além da implantação do VLT. Também é necessário expandir o metrô, principalmente para atender a região norte do DF", afirma.

"Hoje em dia, a gente vê uma série de obras relacionadas a transporte, mas que beneficiam veículos individuais", pondera. "É necessário um investimento consistente e contínuo na infraestrutura de transporte coletivo, para que daqui a 30 anos, a gente tenha Brasília podendo oferecer uma qualidade de mobilidade para as pessoas", pontua Benício.

Seguindo o mesmo raciocínio, o especialista em trânsito e professor de engenharia civil do CEUB Rideci Tavares comenta que, dentro do Distrito Federal, uma das abordagens para aprimorar a mobilidade urbana seria um investimento substancial em sistemas de transporte em massa, como o metrô. "A expansão desse sistema, com ênfase em áreas de elevada concentração populacional, poderia fornecer uma solução eficaz para levar as pessoas onde elas precisam ir, seja para trabalho, lazer, compras, entre outras atividades", avalia.

Fluidez

Mesmo assim, Tavares ressalta a importância da conclusão do Corredor Eixo Oeste. "É uma obra de significativa importância para o DF, uma vez que visa atenuar um dos principais desafios enfrentados por parte da população", observa. "Entre os aspectos positivos da obra, destacam-se a melhoria da fluidez do tráfego, a redução de congestionamentos e de pontos de retenção, o que consequentemente levará a um menor tempo de deslocamento entre Ceilândia e o Plano Piloto", justifica.

Edson Benício ressalta que obras desse tipo geram impactos muito positivos na mobilidade das pessoas. "Reforça e torna mais robusto o sistema de transporte coletivo público, associando o BRT aos ônibus e ao metrô. É uma tentativa acertada do GDF", elogia. "Outro ponto forte é a empregabilidade gerada, além da movimentação no mercado de construção civil", complementa o professor.

Para os especialistas, o principal problema está ligado ao término dos serviços. "Um ponto de constante questionamento é o prazo para a conclusão dessas obras. Dado o crescimento constante e substancial no número de veículos, tais obras geralmente aliviam a situação a curto e médio prazo, mas podem, em algum momento, criar ou agravar problemas em outras localidades", afirma Tavares.

 

  • Gabriel Oliveira afirma que, às vezes, passa mais tempo no trânsito do que no trabalho
    Gabriel Oliveira afirma que, às vezes, passa mais tempo no trânsito do que no trabalho Foto: Fotos: Arthur de Souza/CB
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