Mal havia raiado o sol, e os participantes da Maratona Brasília 2024 já estavam se aquecendo no gramado da Praça da Cidadania, ao lado do Teatro Nacional. Nem o vento frio das 5h30 da manhã e as luzes artificiais impediram os atletas de se reunirem com toda a energia para a largada. Para a meia maratona de 21km, saíram, primeiro, os atletas portadores de deficiência e, após um minuto, os competidores gerais. Ao todo, 300 corredores largaram na manhã de ontem.
Neste domingo, a largada é às 6h da manhã, na Praça da Cidadania. As provas serão de 42km, 21km, 10km, 5km e 3km.
Registrada no calendário oficial de festividades do aniversário de 64 anos de Brasília, a maratona faz brilhar quem se desafia. Miguel Jabour, assessor de Relações Institucionais do Correio Braziliense, ressalta que o corredor é o grande destaque da programação. "Esse evento que o Correio está organizando, junto com o Governo do Distrito Federal, traz as melhores expectativas possíveis. Atingimos o nosso objetivo de 5 mil inscritos para a Maratona Brasília, um grande evento que promove o turismo e movimentação financeira para a cidade", salientou.
No sábado, os atletas largaram às 6h e foram divididos em quatro categorias: PCD feminino e masculino, e geral feminino e masculino. Ao todo, a meia maratona teve 15 vencedores, sendo dez das categorias gerais e cinco das categorias de PCDs. O Correio ouviu histórias de atletas que representam a pluralidade, superação e garra reunidas no final de semana em que o avião se torna uma grande pista de corrida.
Endorfina
"O esporte proporciona muita coisa boa. Alívio, por exemplo, no tocante à questão de saúde mental. Em relação à ansiedade e à depressão, é uma medicação natural produzir endorfina", argumentou Ricardo Melo da Silva, 51. O advogado sofreu um acidente de moto em 2002 e seu braço direito não se recuperou totalmente. Além dessa lesão, o maratonista também tem uma diferença de quase 2cm entre uma perna e a outra, mas nada o impediu de fazer o que ama — Ricardo compete em corridas há mais de 30 anos.
O atleta não sabe dizer de quantas competições já participou. "Já subi no pódio umas 100 vezes". O morador do Recanto das Emas só não vai correr hoje, porque estará de plantão.
Gustavo Barros de Souza, 27, é atleta profissional e venceu a meia maratona em pouco mais de uma hora de prova. Sobre a vitória, ele agradeceu "a Deus, primeiramente", ao treinador e à família. Esta foi a primeira vez que disputou a Maratona Brasília, no entanto, está bem longe de ser a primeira vez que corre na capital do país. Natural de Goiânia (GO) e morador de Aparecida de Goiânia (GO), Gustavo não é só do Brasil, mas do mundo também.
"Nessa semana, cheguei da minha primeira maratona em Sevilha, na Espanha. Também corri, no final de semana retrasado, em Madri. Hoje (ontem), vim correr em Brasília porque estou me preparando para a maratona de Porto Alegre, em junho", comentou. Sempre que Gustavo compete perto de casa, ele tem um apoio muito especial. "Minha esposa e meu filho sempre me acompanham nessas provas mais perto, vão em todas comigo!", declarou o atleta. Enquanto era entrevistado, o filho Gustavo Barros Abreu corria na altura das pernas do pai.
Provação
Todos os dias, Carmem Silva Regis Pereira, 35 anos, corre cerca de 13km da sua casa na Candagolândia até o trabalho no shopping Pier 21, no Lago Sul. "Atualmente, já faço esse percurso pela manhã em 50 minutos. Assim, gasto menos tempo do que indo de ônibus", afirmou a vencedora da Maratona Brasília na categoria feminina. Mais conhecida como Caca, ela corre há cerca de cinco anos, e há dois é registrada profissionalmente na Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt). A atleta profissional treina no Parque Metropolitano do Núcleo Bandeirante, onde fica o Club Now, do qual é membro.
Para Caca, a melhor parte da liberdade proporcionada pela corrida é poder apreciar as paisagens da capital. "Para ver a cidade é maravilhoso, porque Brasília é uma cidade linda. O percurso da meia maratona foi um pouco pesado, porque passava por muitas subidas, mas foi maravilhoso correr aqui. Como sempre é", exaltou.
"Já fiz esse percurso, e ganhei essa prova uma vez, mas, hoje, por estar há dois meses me recuperando da dengue, acabei sentindo muito o percurso", declarou a atleta Maria Barroso da Costa Filha, 42. A professora de educação física ficou em terceiro lugar na categoria feminino geral e, mesmo eu conhecendo o percurso de cabeça, teve de respeitar os limites do corpo.
A professora tem 25 anos de carreira profissional e foi por conta do esporte que se formou em educação física, há 6 anos. "É assim, viver esse mundo aqui é o que eu conheço, é o que eu sei fazer, então estou feliz", ressaltou. Natural do Maranhão, ela afirma que o atletismo mudou sua vida. "O esporte mudou toda a minha trajetória aqui dentro de Brasília. Descobri que isso foi o que abriu portas para mim", completou.
Corrida Kids
A Maratona Brasília montou um pórtico exclusivo para as crianças participantes da corrida kids. A Associação de Atletismo do Paranoá e Itapoã, conhecida como Ascapi, levou 50 meninos e meninas, com idades entre 3 e 11 anos, para correr baterias de 50 a 200 metros. Em fase de inicialização ao esporte, as crianças chegaram tranquilas à Praça da Cidadania por volta de 8h. Nem parecia que estavam prestes a apostar uma corrida, estavam tranquilas, como o tempo parcialmente nublado.
Depois de receber os kits de atleta, a garotada começou a aquecer saltando, batendo os braços para cima, e alongando o corpo. Tímido e sorridente, o pequeno Davi Castro Ribeiro participou de sua terceira corrida. "Tenho 6 anos e gosto de correr todos os dias", disse com a mãozinha na boca. A mãe, Graciela Castro, 34, se emociona com o desenvolvimento que o esporte proporcionou ao filho. "Ele é muito tímido, na escola não brincava com os colegas, e depois que começou no atletismo se desenvolveu muito, ganhou confiança e melhorou o desempenho escolar. O projeto (Ascapi) incentiva", destacou a autônoma.
Davi correu na primeira bateria de 50 metros, sucedida pelas categorias de 100 e 200m, nas quais correram as crianças mais velhas. Cada pista foi dividida por faixa etária e gênero. Anny Pietra Alves Rodrigues, 10, chegou cedo com a amiga e xará Anny Ester Viana do Nascimento, 11. Foi só colocar a camiseta da corrida que as duas já começaram a sorrir de orelha a orelha.
"Gosto de correr porque minha amiga me chamou para o atletismo e eu nunca mais saí", contou Anny Pietra, que também gosta de jogar futebol. Perguntada sobre a expectativa para a corrida, Anny Ester disse que estava "só um pouquinho ansiosa". "Mas na hora que der a largada, vou estar com 1.000% de ansiedade", riu. As duas, assim como as outras corredoras, deram tudo de si no percurso.
Quem saiu muito satisfeito foi Thierry Castro Costa, 10, que mostrou para o que veio. "No Ascapi treino tiro de várias distâncias: 50, 400, até 600m. Um dia fiquei 40 minutos correndo na pista do Itapoã", destacou o rapazinho, que ainda acrescentou: "Praticar um esporte é bom para malhar as pernas." Aluno do projeto de atletismo desde os sete anos, Thierry tem orgulho dos dois troféus e doze medalhas que conquistou. Depois da prova, veio mostrar a nova aquisição, animado.
Para a corrida kids, não houve pódio, e todas as crianças ganharam medalha de participação.
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