Tragédia nos trilhos

Mãe de vítima comenta indiciamento do motorista de ônibus atingido por trem

De acordo com a conclusão da Polícia Civil do DF, o condutor do ônibus atingido pelo trem no SIA, em novembro do ano passado, atuou de maneira culposa ao desrespeitar a sinalização de parada obrigatória

Em novembro do ano passado, um ônibus avançou sobre o trilho da ferrovia e foi atingido pelo trem, causando a morte de uma pessoa -  (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press)
Em novembro do ano passado, um ônibus avançou sobre o trilho da ferrovia e foi atingido pelo trem, causando a morte de uma pessoa - (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press)

O motorista do ônibus atingido por um trem em um cruzamento com a linha férrea no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), em novembro do ano passado, teve atuação culposa (sem intenção) ao desrespeitar a sinalização de parada obrigatória, segundo a conclusão do inquérito do caso.

O laudo concluiu que o motorista do ônibus foi o único responsável pelo acidente, descartando qualquer falha por parte do maquinista do trem, que agiu dentro das normativas técnicas aplicáveis. Diante das evidências, o motorista foi indiciado por homicídio culposo, quando não há intenção de matar, na direção de veículo automotor, no exercício de sua profissão, que prevê o transporte de passageiros, além de lesão corporal.

De acordo com a investigação, o condutor avançou sobre os trilhos do trem em um momento crítico, comprometendo a segurança do tráfego ferroviário, que tem prioridade de passagem conforme estipulado no parágrafo XII do Art. 29 da Lei no 9.503/97 do Código de Trânsito Brasileiro. O acidente resultou na morte imediata de Júlia Albuquerque Violato, 37 anos, que foi arremessada para fora do veículo com o impacto.

A mãe de Júlia, Ana Rosa de Albuquerque, 72 anos, disse ao Correio não estar surpresa com a conclusão do inquérito da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF). "Eu tinha certeza que ele era o responsável. Desde o primeiro dia, nunca tive dúvidas", declarou Ana, que também reclama da falta de assistência dada pela empresa Marechal, responsável pela linha na qual o ônibus operava. "Não tiveram o menor interesse na minha perda. Só entraram em contato comigo quando passei a aparecer na imprensa", lembra.

Cinco meses depois da fatalidade, Ana Rosa diz ter dificuldades para aceitar a perda da filha no acidente. "Estou tomando antidepressivo e frequentando a terapia. Também estou tentando me ocupar com os afazeres da casa para aguentar a dor. Ela era minha única filha e companheira", lamenta.

Inquérito

Conforme investigação da PCDF, na qual foram analisadas provas testemunhais e periciais, a conduta do motorista ao conduzir o ônibus em primeira marcha e não executar manobras evasivas adequadas, mesmo tendo tempo e espaço para tal, contribuiu diretamente para a fatalidade. A colisão poderia ter sido evitada se o motorista tivesse adotado medidas de segurança apropriadas para remover o ônibus da linha férrea em tempo hábil.

A tragédia ocorreu no fim da tarde de uma sexta-feira, 17 de novembro, no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA). Segundo testemunhas, o ônibus da empresa Marechal estava em cima da linha do metrô quando o sinal fechou e não deu tempo de o condutor sair de cima da pista. Quando o trem colidiu, arrastou a traseira do veículo. 

Após a divulgação da conclusão do inquérito, o Correio entrou em contato com a empresa Marechal, que disse que não vai comentar sobre o resultado da investigação. 

Flagra de motorista de caminhão parada com parte da carroceria parada em cina da linha férrea no mesmo local do acidente de novembro do ano passado
Ontem, um motorista parou o caminhão sobre a linha férrea, no mesmo local do acidente (foto: Alessandro de Oliveira )

Trilhos

O Correio Braziliense retornou, na tarde de ontem, ao local do acidente e observou um fluxo intenso de carros passando sobre o trilho. Muitos motoristas respeitaram a sinalização e não pararam em cima da linha férrea. No entanto, também houve flagrantes de irresponsabilidade.

O motorista de um caminhão ficou mais de 30 segundos em cima do trilho, não calculou o tamanho do caminhão e ficou com parte da sua carroceria em cima da linha, podendo causar um novo acidente.

Augusto Damião, 31 anos, costuma passar por essa região no SIA e opina sobre o que precisa ser feito para evitar acidentes, como o do ano passado, que vitimou Júlia. "Primeiramente deve acontecer uma conscientização por parte dos motoristas, deve haver uma melhor sinalização no asfalto, pois está apagada, e quem sabe um letreiro luminoso, com mensagens alertando para o perigo de parar em cima do trilho do trem e em quanto tempo o trem vai passar", comenta.

* Colaborou Alessandro de Oliveiro, estagiário sob a supervisão de Márcia Machado

 

 

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postado em 27/04/2024 06:05
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