Exóticos

Moradores exóticos do Zoo fazem a festa dos visitantes e ajudam na educação

Parte das espécies de répteis do Zoológico de Brasília são originárias de fora do Brasil, com características que chamam atenção dos visitantes

Uma das atrações mais procuradas pelos visitantes do Zoológico de Brasília, sem dúvida, são os répteis e os anfíbios, especialmente os chamados exóticos. De tão cobiçados, eles acabam vítimas de tráfico de animais e de maus-tratos. E, sem condições de retornar à natureza, precisam de cuidados, e por vezes, terminam como moradores do local.

Em entrevista para o Correio, em mais uma capítulo da sério sobre o Zoo, Renan Cassimiro, diretor do Setor de Conservação e Manejo de Répteis, Anfíbios e Artrópodes do Zoológico, lembra que os animais que chegam à instituição nunca são retirados da natureza e que, geralmente, são oriundos de apreensões feitas por órgãos de fiscalização ambiental em todo o Brasil.

"Quando os animais têm condições de voltar para a natureza, é feito o trabalho de reabilitação e, então, são reintroduzidos em áreas de conservação", explica. "Um dos grandes problemas no tráfico de animais é que eles acabam não sendo bem tratados e não têm alimentação e recinto adequados, e muitos acabam mutilados, impossibilitados de voltar para o habitat natural deles", acrescenta o biólogo.

Gerson, o lagarto pogona, também conhecido como dragão-barbudo, devido à "barba" de espinhos, é um bom exemplo dos danos que o tráfico de animais pode causar. A espécie é originária de regiões áridas e semiáridas da Austrália e tem espinhos de queratina característicos na cabeça e ao longo do corpo. A cauda de Gerson, que chegou ao zoológico em novembro de 2018, foi decepada para que coubesse na caixa do traficante. "Ele também chegou com problema de fungos, que já foi tratado", conta o diretor.

O pogona é onívoro, ou seja, alimenta-se de vegetais e de outros outros animais. No zoológico, Gerson é alimentado com folhas, legumes, insetos e neonatos (filhotes de ratos). O lagarto é um dos bichos usados nos projetos de educação ambiental da instituição — em que visitantes têm a chance de chegar perto de alguns dos animais. "Diferente das serpentes, é possível fazer carinho no Gerson", conta Renan. As visitas guiadas dos projetos de educação ambiental precisam ser agendados, previamente, no site do Zoológico de Brasília.

Serpentes

No mesmo recinto, vivem Cabral (albina), Celeste e Elizeth, três pítons indianas (Pythons molurus). Todos chegaram ao zoológico em outubro de 2015, depois de uma apreensão feita por uma operação contra tráfico de animais. Renan garante que são bichos bem tranquilos, sendo mais ativos no período de alimentação, que ocorre a cada 15 dias. O cardápio consiste basicamente em ratos. "São arborícolas e gostam de nadar e de ficar expostas ao sol, para regular a temperatura", explica Cassimiro, que lembra que elas não têm peçonha.

As serpentes são animais ectotérmicos, o que pode ser chamado também de "sangue-frio", ou seja, não têm um mecanismo interno que regule a temperatura do seu corpo, por isso a temperatura dos recintos são constantemente monitoradas.

As pítons são as cobras mais compridas do planeta, podendo chegar aos seis metros de comprimento, com peso entre 30 e 90 kg. A indiana pode ser encontrada sobretudo na Índia, mas também ocorre no Srilanka, em Bangladesh e no Nepal. "As daqui têm de 2 a 3 metros, ainda não são adultas", diz Renan.

As pítons são cobras muito visadas pelo tráfico, tanto pela extração da pela quanto para o mercado de pets. "A exposição midiática do animal é muito alta, o que acaba incentivando as pessoas a quererem ter esse animal em cativeiro. Só que as pessoas não sabem cuidar adequadamente deles", lamenta o diretor.

Wilma é uma boa imperator, espécie da mesma família da jiboia brasileira, mas originária da América Central. Foi apreendida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e chegou ao zoo em novembro do ano passado. Ela era criada como pet irregularmente por uma pessoa de Brasília, por isso desenvolveu um temperamento mais dócil, o que possibilita que também faça parte de programas de educação ambiental. "É uma forma de fazer com que as pessoas se aproximem do animal sem precisar tê-lo em cativeiro", assinala Renan Cassimiro.

Assim como as pítons, elas também são alimentadas a cada 15 dias com ratos. "Na natureza chegam a ficar até meses sem alimentação. São ectotérmicos, por isso o gasto de energia é menor", explica.

As corn snakes (Pantherophis guttatus) são originárias do sul dos Estados Unidos. Gregory Peck e Yago Pikachu também foram vítimas do tráfico de animais silvestres. Elas são menores e a alimentação é igual à das outras serpentes. "Os ratos vêm de um biotério e são eutanasiados de forma que não sofram", explica Renan. Os roedores devem ser dados às serpentes logo após a morte dos ratos. "As serpentes têm receptores de calor e olfato bem aguçados, como forma de compensar a visão precária. Se demorar para dar o rato morto, elas acabam recusando o alimento", detalha.

Minervino Júnior/CB/D.A.Press -
Minervino Júnior/CB/D.A.Press -
Minervino Júnior/CB/D.A.Press -
Naum Giló -
Naum Giló -

Axolote

A chegada de Darwina (albina) e Sasuke (azul) repercutiu nos noticiários, em setembro de 2022. Eles são axolotes (Ambystoma mexicanum), anfíbio criticamente ameaçado de extinção. Na natureza, eles só podem ser encontrados apenas na região dos lagos Xochimilco e Chalco, na Cidade do México.

"O principal problema é que são muito sensíveis à poluição e à mudança de temperaturas e dos parâmetros químicos e físicos da água. São de águas frias, abaixo de 20 graus", detalha. Por isso, o recinto onde ficam tem temperatura controlada e é proibido o contato direto com os animais, que ficam em aquários separados. Estima-se que haja apenas cerca de 100 indivíduos da espécie ainda na natureza.

A alimentação é diária e consiste em insetos e ração específica para axolotes. Darwina e Sasuke não se intimidam com a presença de pessoas, que precisam agendar previamente a visita guiada à sala. Renan Cassimiro lembra uma característica marcante do anfíbio. "Têm um alto poder de regeneração, podendo recuperar membros inteiros e até partes do cérebro."

 

Mais Lidas