Exposição

A festa da democracia em imagens históricas do Correio Braziliense

Exposição fotográfica com registros da Assembleia Nacional Constituinte celebra os 40 anos do início da redemocratização. Entre as imagens está uma foto das 26 deputadas constituintes unidas, independentemente de suas posições ideológicas

Posse da mesa diretora da Câmara dos Deputados na abertura da Assembleia Nacional Constituinte -  (crédito: Gilberto Alves/CB/D.A Press)
Posse da mesa diretora da Câmara dos Deputados na abertura da Assembleia Nacional Constituinte - (crédito: Gilberto Alves/CB/D.A Press)

Após 21 anos de ditadura militar, a Assembleia Nacional Constituinte foi instalada no Congresso Nacional, em 1º de fevereiro de 1987, com o objetivo de elaborar uma nova Constituição e consolidar a redemocratização do país. Agora, 38 anos depois, o Correio Braziliense promove a exposição fotográfica A Festa da Democracia, com 22 imagens que retratam esse marco histórico. A exposição será de 15 a 23 de março, das 9h às 16h, no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, no primeiro pavimento.

A mostra celebra os 40 anos da redemocratização do Brasil. "É uma excelente oportunidade para reafirmar a importância desse período iniciado em 1985, com a posse do presidente José Sarney. A exposição retrata um momento histórico, de grande efervescência política e de participação da sociedade", destaca o presidente do Correio Braziliense, Guilherme Machado. "O recorte é a instalação da Assembleia Nacional Constituinte, que foi um dia de festa democrática dentro do Congresso e na Esplanada", complementa.

O processo de redemocratização foi acompanhado de perto pelo Correio, desde o início dos trabalhos até a promulgação da nova Carta Magna, em 5 de outubro de 1988, conhecida como "Constituição Cidadã". Machado pontua que o jornal possui um acervo fantástico com mais de 10 mil fotos do período.

Marcelo Aguiar, presidente da Fundação Astrogildo Pereira e um dos curadores da exposição, observa que "o Correio Braziliense é parte integrante da história de Brasília, antes mesmo da sua inauguração. Registrou a história do surgimento, crescimento e consolidação da capital, e seus principais momentos. A exposição é o exemplo desse trabalho de registro histórico e compromisso do Correio com a cidade". 

Além de Aguiar, também foi convidada para a curadoria Cilene Vieira, gestora do centro de documentação e memória do Correio Braziliense. "Consideramos a limitação do espaço para uma exposição e tentamos fazer a curadoria com foco nas imagens que mostrassem a importância política do momento dentro do Congresso, o ritual da casa, os personagens da história e outras que pudessem evidenciar a celebração popular na área externa", explica Cilene.

Para ela, todas as fotos têm grande significado, porém ela chama a atenção para a fotografia do poeta Thiago de Mello no momento em que declamava a Declaração Universal dos Direitos do Homem, ao som da Orquestra Sinfônica de Brasília, regida pelo maestro Claudio Santoro.

Entre os registros, Aguiar destaca a foto das 26 deputadas constituintes unidas, independentemente de suas posições ideológicas, com um objetivo: a redemocratização. "A curadoria foi um momento extremamente rico e surpreendente, trazendo belas lembranças daquele período", afirma Aguiar.

Conquista

Augusto Carvalho foi um dos 487 deputados federais constituintes eleitos na primeira eleição direta realizada no Distrito Federal, em 1986, para contribuir com a elaboração da Constituição de 1988. Em entrevista ao Correio, ele enfatiza a importância de exposições como essa, ressaltando que o fotojornalismo tem o poder de capturar e transmitir a intensidade do momento histórico, marcado por uma efervescência política e um grande debate de ideias.

27/08/1987. Credito: Eugenio Novaes/CB/D.A Press. Dep. Augusto Carvalho debate emendas no plenario da Camara, no Congress Nacional,
Augusto Carvalho (foto: Eugenio Novaes/CB/D.A Press)

"Na ditadura, vivemos um período de terror e opressão, marcado pela censura e pela anulação de conquistas e direitos. Por isso, é fundamental celebrar esses 40 anos do início do processo de redemocratização e celebrar a promulgação da Constituição de 1988. Esse marco deve ser enaltecido", observa. Segundo Carvalho, a luta do povo brasileiro pela democracia custou sangue, enfrentou censura e repressão.

"No entanto, nas eleições de 2018, houve um retorno radical de ideias autoritárias, que se intensificaram até 2022, quando, diante da derrota nas urnas, tentaram impor sua vontade pela força", repudia o deputado. Ele acrescenta que a resistência da sociedade foi determinante para impedir esse golpe, porém, é necessário fortalecer cada dia mais a democracia.

"O Estado Democrático de Direito foi uma conquista árdua, muitas vezes negada ou distorcida por aqueles que desejam retroceder à barbárie da ditadura. É imperativo que as crianças e os jovens aprendam sobre os processos políticos e democráticos para fortalecermos a democracia", assinala.

A ex-governadora do Distrito Federal, Maria de Lourdes Abadia, também foi eleita deputada constituinte e participou desse período histórico. A política foi uma das 26 mulheres que integraram a Assembleia, todas no posto de deputadas.

01/02/1988. Credito: Eugenio Novaes/CB/D.A Press. Brasil. Brasi­lia - DF. Deputada Maria de Lourdes Abadia durante discurso na Camara dos Deputados, no Congresso Nacional.
Maria de Lourdes Abadia (foto: Fotos: Eugênio Novaes/CB/D.A Press)

"Recordar momentos como o que vivemos na elaboração da Constituição do Brasil, por meio de registros, é reviver o que a minha memória guarda com carinho e orgulho. É um capítulo lindo que está gravado na minha história", compartilha.

Ela relembra também o "Lobby do Batom", como ficou conhecido o grupo de deputadas constituintes. Abadia relembra que, juntas, elas defenderam os direitos das mulheres com firmeza e determinação e participaram ativamente do processo de elaboração da Constituição, independentemente de partidos, ideologias, religiões ou regionalismos. "Entramos com a cara e a coragem, de salto alto, batom, elegantes, corajosas e perfumadas. Éramos estrelas e respeitadas", recorda.

De acordo com Maria de Lourdes, eventos como a exposição "Festa da democracia" são de grande importância, necessários e urgentes. "A democracia em nosso país está correndo sérios riscos e eventos como esse são um alerta para se pensar com mais seriedade", conclui.

Evento

A exposição A festa da Constituinte integra a programação do evento 40 anos: conquistas, dívidas e desafios — planejado pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP) e pelo partido Cidadania, com apoio do Correio — , amanhã, no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, na Praça dos Três Poderes, das 9h às 17h. A entrada é gratuita.

O evento foi marcado para 15 de março, quando serão completados 40 anos da posse do ex-presidente José Sarney (empossado em 1985), marcando o momento da redemocratização do país, após 20 anos de ditadura militar.

Sarney, inclusive, participará da primeira mesa, a das conquistas democráticas, onde ele será o personagem principal. O evento contará também com outras duas mesas que debaterão as dúvidas e dívidas da democracia brasileira e o futuro da democracia. Os debates terão falas de representantes das comunidades negra, das mulheres, dos indígenas, entre outros. Também será exibido o filme Os 40 anos da redemocratização brasileira pelas lentes do mestre Orlando Brito.

 

  • 01/02/1987. Crédito: Gilberto Alves/CB/D.A Press. Parlamentares no plenário da Câmara dos Deputados durante a instalação da Assembleia Nacional Constituinte.
    01/02/1987. Crédito: Gilberto Alves/CB/D.A Press. Parlamentares no plenário da Câmara dos Deputados durante a instalação da Assembleia Nacional Constituinte. Foto: Gilberto Alves/CB/D.A Press
  • Maria de Lourdes Abadia
    Maria de Lourdes Abadia Foto: Fotos: Eugênio Novaes/CB/D.A Press
  • Augusto Carvalho
    Augusto Carvalho Foto: Eugenio Novaes/CB/D.A Press
Maria Eduarda Lavocat
postado em 14/03/2025 04:00
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