ENTREVISTA

Cappelli: 'Defendo a formação de uma frente ampla popular e democrática'

Pré-candidato ao Governo do Distrito Federal em 2026, Ricardo Cappelli destacou a construção de uma frente ampla popular e democrática, avaliou temas como segurança pública, saúde e propostas em tramitação no Congresso

Ricardo Cappelli, pré-candidato ao Governo do Distrito Federal em 2026, concedeu entrevista ao Correio para falar sobre sua trajetória, propostas e posicionamentos sobre temas políticos e sociais do Distrito Federal e do país.

Ricardo Cappelli, pré-candidato

"Defendo a formação de uma frente ampla popular e democrática"

Nos últimos dias, ocorreram alguns movimentos no campo da direita e também da esquerda. Ambos parecem bem divididos ainda. Alguns integrantes do PT se manifestaram contra a apoiá-lo, como Chico Vigilante. Defendem o nome de Leandro Grass. Como está a sua relação com o PT/DF?

É legítimo que cada um expresse as suas preferências. O mais importante é estarmos unidos na oposição ao projeto Ibaneis-Celina. O PT é um partido muito importante. No DF, acabou de eleger um novo presidente, Guilherme Sigmaringa, um quadro muito preparado. Minha relação com o PT é histórica, faço campanha do presidente Lula desde 1989. Tenho confiança que no momento certo estaremos unidos.

Como está atuando na busca de alianças na construção de uma chapa para ser governador do DF? Com que forças políticas espera estar junto em 2026?

Eu defendo a formação de uma Frente Ampla Popular e Democrática. Nesta Frente, só não cabe quem apoia Bolsonaro e quem apoia a dupla Ibaneis-Celina. Temos conversado com muitos partidos e atores políticos importantes. Estou confiante na formação dessa Frente.

Quais serão seus eixos de trabalho até as eleições para mostrar à população do DF que, apesar de pouco tempo na política local, tem condições de governar a capital federal?

Tenho 53 anos e estou no DF há 22 anos. Vim para cá em 2003 trabalhar no governo do presidente Lula, um momento histórico. Minha filha mais velha, que completa 15 anos em dezembro, é nascida e criada aqui. O DF foi o lugar que escolhi para viver e criar meus filhos. Minha trajetória é a mesma de milhares de moradores daqui. Quase todo mundo veio de algum lugar, materializando o sonho de Juscelino de uma capital integradora, lar de todos os brasileiros, generosa, diversa, de muitos ritmos, cores e sotaques. Uma cidade inovadora, inspiradora do Brasil moderno.

Na minha caminhada, tenho aprendido muito com o povo e tenho descoberto a "Brasília real". Todos os meses tenho saído de casa e morado uma semana em uma de nossas cidades. Já morei no Sol Nascente, em Santa Maria, na Estrutural e na Santa Luzia, em Samambaia, no Gama, no Recanto, no Riacho II, em São Sebastião e vou continuar caminhando. Durmo na casa das pessoas que generosamente me recebem. Ando de transporte público. Ouço muito, falo pouco. Sempre aprendendo.

E qual é a Brasília real que está descobrindo?

O DF de hoje mistura o projeto original de Juscelino com a metrópole de 3 milhões de habitantes de Joaquim Roriz. No projeto original e arredores moram cerca de 500 mil pessoas. No DF real, que não está no cartão postal, moram 2,5 milhões de pessoas. Há um fosso enorme entre essas duas realidades, principalmente no tocante à qualidade dos serviços públicos.

O DF tem, proporcionalmente, a maior cobertura de saúde privada do país. Por outro lado, a maioria da população que precisa da saúde pública vive uma situação de completo abandono. É o maior orçamento do Brasil para a saúde. Cadê o dinheiro? Não é só negligência e incompetência, há indícios de corrupção generalizada. É preciso determinação e coragem para enfrentar esses interesses.

Além disso, é preciso retomar a inspiração de Juscelino por uma cidade do futuro, inovadora, moderna, que se liberte da dependência do setor público. O Distrito Federal pode muito mais, estou convencido disso.

Como interventor na Segurança Pública do DF, procurou não generalizar a conduta da PM e da Polícia Civil no episódio do 8 de janeiro. Vai tentar agora ajudar junto ao governo federal no reajuste para os servidores da Segurança Pública com a Polícia Federal? A proposta enviada pelo governador Ibaneis Rocha foi negada pelo Ministério da Gestão.

O Distrito Federal tem as melhores polícias do Brasil. Digo isso porque convivi com eles e defendi a Polícia Militar do DF no momento mais difícil de sua história. É preciso separar o CPF de quem errou do CNPJ de uma instituição bicentenária com muitos e relevantes serviços prestados à sociedade.

No tocante ao aumento salarial, fui eu, como interventor federal, que iniciei o processo que levou ao aumento de 18% em 2023. Ibaneis estava afastado do cargo pelo STF por estar tirando uma soneca enquanto a cidade era destruída por vândalos. Agora ele posa de defensor do aumento. É teatro eleitoral. Por que não deu 1 centavo de aumento nos seus 4 primeiros anos de governo com Bolsonaro?

Eu quero ver como Celina, neobolsonarista, vai explicar que Bolsonaro passou 4 anos no governo e deu zero de aumento para as forças policiais do DF. Com o aumento que está sendo negociado agora, em 4 anos, o presidente Lula dará mais de 50% de aumento pras forças de segurança do DF. Isso não é blá-blá-blá ideológico, é compromisso de fato.

E a questão específica da Polícia Civil?

No tocante à equiparação, acho que a PCDF tem argumentos convincentes, uma vez que eles nasceram do mesmo tronco da PF. O padrão de segurança que nós temos não cai do céu, é produto de homens e mulheres muito qualificados que temos em nossos quadros. É preciso valorizá-los.

Depois de ter vivido intensamente aquele 8 de janeiro para conter o que foi denunciado como tentativa de golpe por bolsonaristas, que resultou no seu livro inclusive, como avalia a PEC da Anistia?

A anistia é um tapa na cara da sociedade brasileira. Ninguém aguenta mais impunidade no Brasil.

A relatoria de Paulinho da Força sinaliza buscar uma pacificação. E se chama agora PEC da Dosimetria. Acredita que é possível pacificar o país dessa forma?

Eu chamo de PEC da Impunidade. Reitero. O Brasil não aguenta mais impunidade. Reduzir penas para quem cometeu crimes ou para poderosos é um péssimo exemplo para o país.

E a aprovação da PEC da Blindagem, como avalia?

A PEC da Blindagem é um absurdo. Por que ter privilégios para políticos? Os brasileiros não aguentam mais tantos privilégios. O que temem os deputados?

Do ponto de vista da política de segurança pública, essa PEC é um desastre. Ela vai estimular que líderes de organizações criminosas virem candidatos para se refugiar na "proteção" do Congresso Nacional.

Foi um desrespeito muito grande aprovar esse absurdo no dia seguinte ao assassinato de um delegado de polícia por uma organização criminosa, um tapa na cara dos agentes da lei. Espero que essa proposta seja barrada pelo Senado.

 

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