A mobilidade urbana e o aumento das passagens de ônibus no Entorno foram temas do CB.Poder — parceria do Correio com a TV Brasília — desta quarta-feira (24/9). Às jornalistas Adriana Bernardes e Mila Ferreira, o diretor-executivo da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), Francisco Christovam, reforçou a importância da criação de um consórcio para subsidiar os custos das passagens na região.
O reajuste de 2,9% entrou em vigor na terça-feira, por decisão da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), apesar dos pedidos de adiamento dos governos do DF e de Goiás, que propõem a criação de um consórcio interfederativo para gerir o transporte no Entorno.
"O ideal é que essa negociação não demore e que os órgãos de governo possam rapidamente se sentar à mesa para buscar um entendimento, com o objetivo de oferecer transporte de qualidade para os passageiros", destacou. Confira, a seguir, os principais pontos da entrevista.
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A criação do consórcio interfederativo, por envolver várias esferas, pode levar tempo para ser concretizado?
Sim. Ele envolve governos independentes e também a União. Por isso, é fundamental estabelecer um prazo para formalizar esse entendimento. O grande problema está no custeio da operação. Essas linhas, naturalmente, teriam tarifas muito altas, e o passageiro não tem como arcar com esse valor. É aí que se justifica a necessidade de o governo subsidiar parte dos custos.
Quais soluções operacionais podem contribuir para reduzir as despesas do sistema?
É necessário fazer um estudo detalhado da rede de transporte: mapear as linhas, os itinerários, os pontos de geração e atração de viagens. Esse diagnóstico é fundamental para planejar a operação. O que se recomenda são sistemas troncais alimentados, ou seja, linhas que partem de várias origens e se concentram em determinado ponto, de onde segue um corredor de transporte operado por veículos de grande capacidade. É um processo técnico, baseado em pesquisas e planejamentos bem estruturados. Quando dimensionado corretamente, obtém-se o melhor modelo de operação, tanto do ponto de vista econômico quanto financeiro. Isso garante a alocação adequada de veículos, a separação entre a tarifa técnica — que remunera a prestação do serviço — e o valor pago pelo usuário, resultando em um sistema mais justo e equilibrado.
Quais os benefícios da tarifa zero e do modelo subsidiado para a população?
Hoje, das 2.700 cidades do Brasil que têm transporte público regular, 415 subsidiam os passageiros e cerca de 170 implementaram a tarifa zero. É importante destacar que o subsídio não é para as empresas operadoras, que são remuneradas pelo serviço que prestam, mas, sim, para os passageiros. No Distrito Federal, por exemplo, o governo subsidia cerca de 75% do valor da tarifa. Se o custo da operação fosse R$ 10, o usuário pagaria R$ 2,50, enquanto o poder público arcaria com R$ 7,50. Isso facilita o entendimento: se não houver esse tipo de aporte, vamos continuar perdendo passageiros para o transporte individual.
Brasília demonstra sinais de saturação no sistema viário?
Sem dúvida. A cidade não comporta mais o crescimento acelerado do transporte individual, com cada vez mais carros circulando nas ruas. Precisamos racionalizar e democratizar o uso do sistema viário, e nada é mais democrático do que o transporte coletivo, principalmente o ônibus, onde a demanda permite. Nos últimos 20 anos, observamos uma queda sistemática no número de passageiros do transporte coletivo, enquanto cresce a dependência do automóvel. Só que as cidades estão chegando ao limite da capacidade de suportar essa quantidade de veículos.
Como as cidades podem se tornar sustentáveis do ponto de vista da mobilidade urbana?
Não é difícil, mas é impossível se cada ator agir sozinho. Se apenas as empresas buscarem melhorar a qualidade do serviço, sem apoio público, não haverá resultado. Da mesma forma, se o poder público fizer investimentos sem envolver as operadoras, também não dará certo. As experiências de sucesso que temos no Brasil, em cidades de todos os portes, mostram o caminho: o poder público senta à mesa com a iniciativa privada, constrói um projeto em conjunto e todos contribuem. É essa parceria que garante resultados efetivos.
Assista à íntegra da entrevista:
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