JUSTIÇA

Juiz cita "violenta emoção" ao amenizar pena de assassino de Thalita

A sentença acelera o passo da liberdade ao autor de um dos crimes mais bárbaros do DF, entende a família

A sentença acelera o passo da liberdade ao autor de um dos crimes mais bárbaros do DF, entende a família de Thalita Berquó -  (crédito: Material cedido ao Correio)
A sentença acelera o passo da liberdade ao autor de um dos crimes mais bárbaros do DF, entende a família de Thalita Berquó - (crédito: Material cedido ao Correio)

Uma decisão judicial proferida pela 2ª Vara da Infância e Juventude colocou em regime de semiliberdade um dos acusados de assassinar Thalita Marques Berquó Ramos, 36 anos, crime ocorrido no começo deste ano. De acordo com a família da vítima, que obteve acesso ao documento, o juiz Márcio da Silva Alexandre entende que o suspeito agiu sob "domínio de violenta emoção, em seguida a injusta provocação da vítima".

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Apesar de ter 18 anos, o acusado cometeu o crime aos 17 e, por isso, responde ao crime análogo a homicídio. Mesmo assim, permanecia em uma unidade de internação. Ele foi apreendido em 12 de setembro pela Polícia Civil do DF. Além dele, estão reclusos um adolescente e João Paulo Teixeira da Silva, 36.

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A sentença acelera o passo da liberdade ao autor de um dos crimes mais bárbaros do DF, entende a família. O regime de semiliberdade é uma medida socioeducativa para adolescentes que não os priva totalmente da liberdade, mas exige que eles permaneçam em uma unidade durante a noite e aos fins de semana, com a possibilidade de sair durante o dia para atividades como escola e trabalho.

Família de Thalita divulga nota de repúdio

Na nota de repúdio assinada por Gláucia Berquó, tia de Thalita, os familiares consideram que o fato de o juiz Márcio da Silva desconsiderar as qualificadoras de homicídio “minimiza a brutalidade do crime e transfere parte da responsabilidade à própria Thalita — uma afirmação inaceitável e desumana”.

“A decisão em questão causa perplexidade não apenas à família, mas a todos que acreditam na Justiça e na proporcionalidade das penas diante da gravidade dos crimes”, defende a família.

Conforme destacado pelo promotor de Justiça responsável pelo caso, trata-se de uma sentença que fere o princípio da isonomia, uma vez que, para outro envolvido no mesmo crime, a Justiça reconheceu a existência de homicídio triplamente qualificado e destruição de cadáver, impondo sanção compatível com a barbárie cometida.

“Tal decisão afronta a memória da vítima, relativiza a crueldade do ato praticado e enfraquece o senso de justiça da sociedade, que espera do Poder Judiciário coerência e sensibilidade diante de crimes dessa natureza. A família reforça total apoio ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, que já anunciou a intenção de recorrer da sentença, e confia que o Tribunal de Justiça do Distrito Federal reverterá essa decisão, restabelecendo a justiça que Thalita e sua memória merecem”, finaliza a tia de Thalita. 

O crime

A cabeça e as pernas de Thalita foram localizadas por um funcionário terceirizado da Caesb, em 14 e 15 de janeiro, respectivamente. O trabalhador era encarregado pela limpeza do local e executava o serviço três vezes ao dia. Os membros estavam em um tanque onde são escoados resíduos de esgoto provenientes do Guará, Núcleo Bandeirante, área central de Brasília e parte do Riacho Fundo.

A identificação da vítima só ocorreu quase um mês depois, em 13 de fevereiro, após a família registrar o desaparecimento de Thalita.

A polícia concluiu que a mulher foi morta em 13 de janeiro, uma segunda-feira. Segundo a família, Thalita passou o fim de semana na casa de um amigo e de familiares dele, mantendo contato constante com a mãe, por meio de mensagens. No sábado (11/1), fez uma ligação de cerca de 40 minutos para tranquilizá-la, afirmando que estava bem, na companhia desse amigo. Durante a chamada, inclusive, Thalita perguntou se a mãe gostaria de falar com ele, o que de fato ocorreu.

Na manhã de domingo (12/1), mãe e filha voltaram a se falar, já que haviam combinado de ir ao cabeleireiro, acompanhadas da tia. No dia da morte (13/1), a mãe novamente conversou com Thalita, ocasião em que ela disse que iria para casa. A partir desse momento, o contato foi perdido. Estranhando o silêncio da filha, a mãe iniciou buscas por informações junto ao mesmo amigo, que afirmou não saber do paradeiro dela.

Segundo a investigação, na data do crime Thalita embarcou em um carro de transporte por aplicativo, com destino à QE 46 do Guará 2, próximo ao Edifício Valentina, distante poucos metros do Parque Ezequias, onde se encontraria com um colega. Essa foi a última informação do paradeiro dela.

O delegado-chefe da 1ª DP, Antônio Dimitrov, explicou à época que a polícia usou técnicas avançadas para traçar a rota feita pela vítima. De acordo com o investigador, da QE 46 Thalita se dirigiu a um local próximo de invasão para comprar entorpecentes. “Ela foi atraída até o parque e, lá, pagou a droga, dando o celular em troca. Logo em seguida, a vítima pediu o aparelho de volta e isso gerou um desentendimento entre ela e os autores”, esclareceu.

O homem e os dois adolescentes teriam dado várias facadas em Thalita e batido no rosto dela com uma pedra. Depois, a esquartejaram. A polícia chegou à localização do tronco após o adolescente levar as equipes à cova, em 17 de março. O corpo estava envolto por um cobertor. Equipes do Corpo de Bombeiros trabalharam mais de seis horas na escavação. Os braços da vítima não foram encontrados e os suspeitos não souberam responder sobre a localização dos restos mortais.

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postado em 21/10/2025 14:36 / atualizado em 21/10/2025 14:37
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