
A ex-governadora do Distrito Federal Maria de Lourdes Abadia foi uma das homenageadas da noite durante a cerimônia do Prêmio JK, promovido pelo Correio Braziliense, e não conteve a emoção ao relembrar a trajetória pessoal e política, marcada pela construção de Brasília. Em entrevista durante o evento, Abadia falou sobre o significado da homenagem e reviveu passagens de sua vida que, segundo ela, se confundem com a própria história da capital.
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"Quero dizer a todos vocês, brasileiros, que não duvide do amor, do carinho que eu tenho por essa cidade e pelo povo. De Brasília e do Brasil, mas eu não queria sair daqui sem deixar uma mensagem, assim porque eu sei que essa festa é linda, ela vai ser divulgada, mas de deixar assim uma mensagem, não matem as mulheres", pontuou a ex-governadora.
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Logo no início, Abadia destacou o impacto da homenagem, que, segundo ela, foi inesperada. “Olha, eu estou superemocionada. Uma homenagem assim, eu não esperava, mas tratando-se do Correio Braziliense que sempre me se acompanhou nos primeiros passos da minha vida política e profissional, eu fico superagradecida de estar recebendo esse prêmio e com um título tão lindo”, afirmou.
A ex-governadora ressaltou ainda o caráter coletivo de sua trajetória. “Eu agradeço assim do coração ao Correio e às pessoas, afinal ninguém trabalha sozinho. E as pessoas que me acompanharam, as pessoas que me ajudaram e as pessoas que acreditaram num trabalho por Brasília, para Brasília.”
Ao ser perguntada sobre as lembranças evocadas pela premiação, Abadia resgatou memórias familiares e dos primeiros anos da construção da capital. “Me lembro de uma caminhada histórica e imagina assim a nossa referência, o prêmio JK e eu gostaria muito que meus pais estivessem vivos para que eles assistissem, porque meu pai foi um jardineiro da Novacap que ajudou a construir Brasília.”
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A emoção aumentou quando ela mencionou símbolos de sua carreira política, que fez questão de levar para o evento. “Eu tenho várias medalhas, uma da fundação do meu partido, do PSDB, outra de deputada constituinte. Eu me emociono muito quando eu abro a Constituição do Brasil e vejo que meu nome está lá por Brasília. Tenho aqui o da Lei Orgânica, que também, eu participei da primeira eleição, conquistamos a representação política para Brasília.”
Abadia revisitou também momentos decisivos de sua trajetória pública, como: eleição como deputada distrital na primeira legislatura, o retorno à Câmara dos Deputados, o comando de secretarias estratégicas e, por fim, o marco histórico de ter sido a primeira mulher a governar o Distrito Federal. “Eu fui eleita, retornei à Câmara, assumi várias secretarias e ultimamente, a primeira mulher a governar Brasília. Então, eu só tenho só gratidão, porque você não faz uma caminhada dessa sozinha, você faz com a população.”
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A ex-governadora relembrou ainda a origem humilde e o início do trabalho comunitário. “O meu compromisso sempre foi de ter começado nas favelas na Ceilândia, ajudando a construir a Ceilândia... é difícil descrever a emoção dessa caminhada, que começou no morro do urubu, saindo da Universidade de Brasília.”
Lançado pelo Correio Braziliense, o Prêmio JK reconhece e homenageia personalidades que fizeram parte da história de Brasília. A seleção dos homenageados deste ano foi feita pela redação do jornal e contempla 16 categorias, são elas: esporte, cultura, sustentabilidade, agro, empreendedorismo, educação, direito e justiça, indústria e tecnologia, inclusão e voluntariado, saúde, gestão pública, turismo e eventos, comércio e serviços, entidade de classe, inovação e economia criativa. Além disso, há a categoria das homenagens especiais: quatro personalidades que se destacaram em várias áreas foram selecionadas para figurarem na história dessa premiação. O prêmio leva o nome da maior referência para a cidade, o ex-presidente Juscelino Kubitschek.
Perfil de Maria de Lourdes Abadia
Nascida em Bela Vista de Goiás, em 1944, Maria de Lourdes Abadia cresceu longe dos gabinetes. Foi no trabalho diário com famílias vulneráveis, como assistente social recém-formada pela Universidade de Brasília (UnB), que aprendeu a ouvir, negociar e, acima de tudo, cuidar. Em 1971, atuou na Comissão de Erradicação de Invasões, quando Brasília ainda desenhava seus contornos sociais. Ali, enfrentou realocação de favelas, conflitos e desigualdades que expunham um DF recém-nascido.
A vida pública começou a tomar forma em Ceilândia, onde ela viveu por 16 anos e se tornou a primeira administradora regional da cidade, cargo que ocupou por mais de uma década. Foi esse vínculo que a levou à política partidária.
Em 1986, recebeu a visita de Marco Maciel, Aureliano Chaves e Osório Adriano, nomes influentes à época. O convite para fundar o Partido da Frente Liberal (PFL) veio junto com o choque de que, até aquele momento, nunca tinha participado de nenhuma votação. No mesmo ano, tornou-se uma das duas mulheres eleitas para a primeira bancada federal do Distrito Federal. Em seguida, uma das 26 mulheres entre os 559 constituintes responsáveis pela redação da Constituição de 1988.
O ambiente era quase todo masculino e, muitas vezes, hostil. As mulheres, de diferentes partidos e perfis, decidiram se unir. Nasceu assim o emblemático “lobby do batom”, uma articulação suprapartidária de deputadas e mulheres ativistas na Assembleia Constituinte de 1987, para garantir direitos básicos. O primeiro deles foi a instalação de um banheiro feminino no plenário da Câmara Legislativa.
Doze anos depois, tornou-se vice-governadora na chapa de Joaquim Roriz e, em 2006, a primeira mulher a governar a capital federal. Além disso, deixou seu nome na memória afetiva de Ceilândia, onde o estádio local carrega sua assinatura como homenagem, o famoso Abadião.
Hoje, mesmo longe de mandatos, permanece como referência de representatividade feminina no DF. Recentemente, ao Correio, criticou o “ódio, o rancor e as fake news” que dominam o debate político, além de ter defendido, sem hesitar, mais mulheres, jovens e minorias em espaços de decisão.
Assista à transmissão do evento:

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