CORONAVÍRUS

Covid-19: Delta, variante identificada na Índia, pode virar a cepa dominante

Agência da ONU alerta que o avanço acelerado da variante identificada, pela primeira vez, na Índia e seu grande poder de infecção sinalizam que ela deve se tornar a responsável pela maioria dos casos de covid-19 no mundo

Correio Braziliense
postado em 19/06/2021 06:00
Estação ferroviária em Moscou: 90% dos casos de infecção na capital russa são da variante Delta. Reino Unido e Alemanha também em alerta -  (crédito: Natalia Kolesnikova/AFP)
Estação ferroviária em Moscou: 90% dos casos de infecção na capital russa são da variante Delta. Reino Unido e Alemanha também em alerta - (crédito: Natalia Kolesnikova/AFP)

A variante Delta do novo coronavírus, que foi identificada, pela primeira vez, na Índia, pode se tornar a cepa dominante em todo o globo, alerta a Organização Mundial da Saúde (OMS). A preocupação foi anunciada ontem, em uma coletiva de imprensa, quando membros da agência das Nações Unidas também comentaram os resultados dos testes com uma vacina desenvolvida pela empresa alemã CureVac e reforçaram que países menos desenvolvidos têm encontrado dificuldade em aplicar as segundas doses contra a covid-19. Esses atrasos nas campanhas de imunização por falta de vacina, lembrou a equipe, contribuem para o surgimento de novas variantes do Sars-CoV-2.

A preocupação da OMS com a cepa Delta se dá pelos relatos recentes de aumentos de casos da doença provocados pela nova variante. Nações como Reino Unido, Alemanha e Rússia monitoram o avanço das infecções com preocupação. Ontem, autoridades russas anunciaram que 90% dos casos da capital, Moscou, foram causados por essa mutação. “A Delta está a caminho de se tornar a variante dominante globalmente por causa de sua maior transmissibilidade”, enfatizou Soumya Swaminathan, cientista-chefe da OMS.

A agência segue também acompanhando outras cepas. Nesta semana, se pronunciou sobre a variante identificada, em agosto de 2020, no Peru. Anteriormente chamada de C.37, ela foi batizada, na quarta-feira, de Lambda e recebeu o título de “variante de interesse”. Nesse caso, a OMS avalia que a Lambda pode se tornar um problema no combate à pandemia. A determinação, dessa forma, serve como um aviso de possível perigo e exige um maior monitoramento.

CureVac

Uma má notícia relacionada ao combate às novas variantes também foi anunciada no evento de ontem. Os especialistas da OMS demonstraram desapontamento com o fracasso da vacina desenvolvida pelo grupo alemão CureVac. A empresa divulgou os resultados de uma análise feita com 40 mil pessoas de 10 países europeus e latino-americanos. Observou-se apenas 47% de eficácia do imunizante na prevenção da doença, um número abaixo da referência de 50%, estipulada pela OMS, para uso na população em geral.

Segundo a empresa alemã, pelo menos 13 variantes estavam circulando dentro do grupo que participou dos ensaios clínicos com a vacina, o que pode ter influenciado na baixa taxa de eficácia registrada. “Esperávamos resultados mais robustos na análise provisória, mas constatamos que é difícil alcançar alta eficácia com essa gama de variantes sem precedentes”, declarou o CEO do laboratório, Franz-Werner Haas, em nota à imprensa.

A OMS esperava uma taxa de eficácia mais alta, já que a CureVac é feita com base na tecnologia de mRNA, a mesma de imunizantes contra covid-19 bem-sucedidos. O da Pfizer, por exemplo, apresenta taxa de eficácia superior a 90%. “Só porque é outra vacina de mRNA, não podemos presumir que todas são iguais. Cada uma tem uma tecnologia ligeiramente diferente”, ponderou Swaminathan.

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Ao menos 30 países sem a segunda dose

O ritmo lento da vacinação contra a covid-19 em países menos desenvolvidos também está preocupando a Organização Mundial da Saúde (OMS). A suspeita é de que ele esteja ainda mais comprometido pela falta de insumos para aplicação da segunda dose das vacinas. “Temos uma enorme quantidade de países que tiveram que suspender suas campanhas de vacinação para a segunda dose, de 30 a 40 países. O intervalo (entre as duas injeções) agora é maior do que esperávamos”, afirmou Bruce Aylward, médico e responsável pelo sistema Covax da OMS, criado em parceria com o setor privado e Ongs para distribuir vacinas a regiões menos desenvolvidas.

Um espaçamento muito longo entre as duas doses pode provocar o surgimento de variantes mais perigosas ou contagiosas da covid-19, alertou Aylward. Segundo ele, o problema é maior na África Subsaariana, mas também é enfrentado na América Latina, no Oriente Médio e no sudeste asiático. “A realidade brutal é que, em uma era de múltiplas variantes com maior transmissibilidade, deixamos vastas faixas de pessoas, a vulnerável população da África, desprotegidas por vacinas”, lamentou Aylward.

Doações

Para impedir o surgimento de novas cepas e acelerar a imunização, a agência da ONU pede auxílio de países desenvolvidos. “Diante dessa situação de instabilidade, as doações são uma solução a curto prazo em um mercado muito imperfeito, onde somente os países que têm os recursos ou produzem as vacinas têm acesso a elas”, enfatizou Aylward. Ele também advertiu que o acúmulo de atrasos pode fazer com que, no fim, as pessoas não compareçam para se vacinar.

O Covax está negociando mais doses de imunizantes diretamente com a AstraZeneca e o Serum Institute of India, responsável pela maior parte dos imunizantes usados pelo consórcio e cuja produção não pode ser exportada, por decisão do governo indiano, até que se cumpram as metas de vacinação nacional.

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