ALERTA

Covid-19: variante Delta Plus é a nova ameaça e chega a 10 países

Segundo o ministro da Saúde da Índia, ao menos 10 países têm casos de infecção por uma variante do Sars-CoV-2 que é considerada "fruto" da cepa mais preocupante do vírus. Rajesh Bhushan não descarta que o poder de transmissão da mutação recente seja ainda maio

Vilhena Soares
postado em 23/06/2021 06:00
Vacinação em Mumbai, capital de  Maharashtra, estado com mais casos de infecção pela Delta Plus: 16 de 22 -  (crédito: Punit Paranjpe/AFP)
Vacinação em Mumbai, capital de Maharashtra, estado com mais casos de infecção pela Delta Plus: 16 de 22 - (crédito: Punit Paranjpe/AFP)

Mais uma variante do vírus Sars-CoV-2 acende o sinal de alerta para autoridades de saúde e cientistas. Batizada de Delta Plus e já identificada em 10 países, a nova cepa avança principalmente em território indiano, o que fez com o Ministro da Saúde do país pedisse a governantes de três estados que reforçassem as medidas de contenção. A nova forma do patógeno da covid-19 é definida por especialistas como “fruto” da cepa Delta, apontada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma mutação com condições de se tornar globalmente dominante.

Não há informações sobre onde a Delta Plus surgiu, mas há suspeitas de que seja ainda mais transmissível, faça ligações mais forte a receptores de células pulmonares, o que pode agravar os danos ao órgão vital, e reduza o potencial na resposta de anticorpos monoclonais, segundo o secretário de Saúde da União, Rajesh Bhushan. De acordo com o jornal local Hindustan Times, Bhushan informou que um estudo genético feito pelo Consórcio Indiano de Sequenciamento do Genoma Sars-CoV-2 (Insacog) indicou que 16 dos 22 casos da variante Delta Plus foram encontrados nos estados de Maharashtra, Kerala e Madhya Pradesh. O primeiro tem como capital Mumbai, um polo turístico e financeiro do país.

O ministro pediu aos governantes das regiões afetadas que iniciem imediatamente um combate mais ferrenho à propagação do vírus. “Os secretários-chefes dos estados foram aconselhados a tomar medidas imediatas de contenção nos distritos em que os casos foram identificados, incluindo prevenção da formação de multidões, realização de testes generalizados, rastreamento imediato, bem como cobertura de vacinas em caráter prioritário”, informou o órgão em comunicado. “Eles também foram orientados a garantir que amostras de pessoas positivas sejam prontamente enviadas aos laboratórios designados pelo Insacog para que mais dados epidemiológicos possam ser fornecidos aos estados.”

Também de acordo com o Ministério da Saúde, ao todo, 10 países já detectaram casos de infecção pela variante Delta Plus. Além da Índia, há contaminados nos Estados Unidos, no Reino Unido, em Portugal, Suíça, Japão, Polônia, Nepal, China e Rússia. Algumas dessas nações são as mais atingidas pela pandemia. A Rússia, por exemplo, tem enfrentado um aumento recente de casos de covid-19 — ontem, o país registrou seu maior número de mortes diárias (546) e anunciou que estuda acelerar as imunizações. A China também trabalha para aumentar o número de pessoas vacinadas e evitar um aumento de casos. No último domingo, o país ultrapassou a marca de 1 bilhão de doses aplicadas.

Vacinas

A disseminação da Delta Plus se torna ainda mais preocupante porque, se for realmente uma versão “aprimorada” da variante Delta, ela pode intensificar a crise sanitária. Na semana passada, a OMS informou que, devido à alta transmissibilidade, a Delta deverá se tornar a dominante em todo o mundo. Identificada pela primeira vez, em outubro de 2020, na Índia, a variante passou a gerar preocupações maiores a partir de abril deste ano, devido ao aumento de casos no país asiático, o que provocou caos no sistema público de saúde. Especialistas estimam que a Delta é 40% mais transmissível que a variante Alfa, identificada, inicialmente, no Reino Unido e também considerada uma cepa preocupante pela agência das Nações Unidas.

Ontem, Anthony Fauci, infectologista e conselheiro da Casa Branca nos Estados Unidos, declarou que a cepa Delta é a “maior ameaça” da covid-19 para os americanos devido à alta transmissibilidade e enfatizou que ela ainda pode ser combatida com o uso de imunizantes. “Todas as vacinas são eficazes contra a variante Delta. (…) Temos as ferramentas. Então, vamos usá-las e acabar com o surto”, disse.

Em comunicado, a AstraZeneca informou que sua vacina é eficaz contra essa versão do Sars-CoV-2. De acordo com o documento divulgado ontem, dados obtidos em uma análise realizada pelo sistema de saúde Public Health England (PHE), do Reino Unido, mostram que o fármaco, criado em parceria com a Universidade de Oxford, demonstra proteção de mais de 90% contra a hospitalização gerada pela infecção da variante Delta.

Outros cuidados

Victor Bertollo, médico infectologista do Hospital Anchieta de Brasília, destaca que a preocupação das autoridades com as variantes identificadas na Índia é extremamente válida e importante no combate à covid-19. “Todos esses alertas são importantes, principalmente por duas características dessas cepas, que já eram suspeitas e começam a ser vistas em alguns estudos. As pesquisas mostram que elas apresentam maior transmissibilidade e também evasão imune, ou seja, podem reduzir a eficácia das vacinas. São elementos que nos exigem mais atenção”, justifica.

O especialista brasileiro destaca que as últimas informações sobre as mutações sofridas pelo coronavírus e seus desdobramentos são mais um alerta para a necessidade de respeito aos cuidados preventivos individuais. “Todas essas novas variantes têm se mostrado mais transmissíveis, e quem não foi vacinado está ainda mais exposto. É muito importante manter os cuidados para impedir que o vírus avance ainda mais. São medidas essenciais, que vão nos proteger e evitar que soframos com consequências sérias, como uma internação.”

“Todas essas novas variantes têm se mostrado mais transmissíveis, e quem não foi vacinado está ainda mais exposto. É muito importante manter os cuidados para impedir que o vírus avance ainda mais”
Victor Bertollo, médico infectologista do Hospital Anchieta de Brasília

» EUA não atingirão meta de 4 de julho

Autoridades americanas informaram que a meta do presidente Joe Biden de vacinar 70% da população adulta do país com ao menos uma dose de vacina contra covid-19 até 4 de julho não será cumprida. Os planos do líder dos Estados Unidos eram de comemorar o feriado de independência com essa conquista. Mas, pelo prazo, a cobertura será atingida considerando “adultos de 27 anos ou mais”, informou Jeff Zients, coordenador do combate à covid-19. “Achamos que levará algumas semanas a mais para chegar a 70% de todos os adultos com ao menos uma dose”, complementou. Até o momento, 65,4% dos maiores de 18 anos receberam a primeira dose de um dos três imunizantes autorizados no país. O ritmo da vacinação desacelerou a partir de abril, quando os EUA alcançaram o pico de aplicação de 3,4 milhões de doses diárias. A última média é de aproximadamente 850 mil.

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