PANDEMIA

Covid-19: vacina da Pfizer recebe aval definitivo nos EUA

Agência reguladora americana (FDA) concede registro final para a aplicação do imunizante em pessoas com mais de 16 anos, o que deve, segundo especialistas, atrair público reticente e reforçar a campanha de enfrentamento à covid-19

Vilhena Soares
postado em 24/08/2021 06:00
 (crédito: Brendan Smialowski/AFP - 30/12/20)
(crédito: Brendan Smialowski/AFP - 30/12/20)

Autoridades americanas concederam, ontem, o registro definitivo de uso à vacina contra a covid-19, desenvolvida pela empresa americana Pfizer em parceria com o grupo alemão BioNTech. A autorização, emitida pela Agência de Medicamentos e Alimentos (FDA), permite que o fármaco possa ser usado em regime de duas doses, em pessoas com mais de 16 anos, e não mais em caráter emergencial.

Os responsáveis pela aprovação e especialistas da área médica acreditam que a medida servirá como um estímulo, fazendo com que aqueles ainda inseguros se decidam pela imunização. Outra expectativa é de que a decisão impulsione a exigência do comprovante de vacinação para a entrada em locais com aglomerações, restaurantes, empresas e faculdades.

A autorização definitiva da vacina da Pfizer, que poderá ser comercializada com o nome Comirnaty, foi dada com base em dados atualizados de testes clínicos, que incluem um tempo maior de acompanhamento dos 40 mil participantes, o que garante segurança e eficácia. O fármaco permanece disponível com a autorização de uso emergencial para adolescentes de 12 a 15 anos, mas, como agora há o aval permanente, os médicos podem prescrevê-lo para crianças com menos de 12 anos, caso a caso.

Os especialistas da FDA, porém, recomendam que isso não ocorra por enquanto. “Precisamos obter informações e dados sobre o uso em crianças, elas não são apenas adultos pequenos”, frisou, em nota, a comissária interina da agência, Janet Woodcock.

A aprovação foi a mais rápida da história da agência, ocorrendo menos de quatro meses após a Pfizer ter apresentado o pedido de licenciamento, em 7 de maio. Os responsáveis pelo imunizante declararam que a decisão veio em um momento em que a autorização “é urgentemente necessária”. “Tenho esperança de que ajude a aumentar a confiança em nossa vacina”, ressaltou, em um comunicado, o presidente-executivo da Pfizer, Albert Bourla.

Confiança popular

Os responsáveis pela aprovação do imunizante também apostam em um número maior de vacinados como um desdobramento da medida. “Embora milhões de pessoas tenham recebido com segurança as vacinas contra a covid-19, reconhecemos que, para alguns, a aprovação de uma vacina pela FDA pode representar uma confiança adicional para que sejam vacinados”, disse Woodcock. “Essa aprovação pela FDA deve dar a confiança extra de que essa vacina é segura e eficaz. Se você ainda não se vacinou, essa é a hora”, tuitou o presidente dos EUA, Joe Biden.

Em pesquisa recente, a ONG americana Kaiser Family Foundation mostrou que 30% dos adultos do país declararam que o registro final os deixaria mais propensos a se vacinar. “A notícia da FDA eliminou um dos argumentos do movimento antivacinas, que alegava se tratar de uma ‘vacina experimental’”, explicou à agência de notícias France-Presse (AFP) Amesh Adalja, pesquisador do Centro de Segurança Sanitária da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos. “Esperamos que, agora, as pessoas que diziam estar aguardando a aprovação total para se vacinar o façam”, complementou.

Essa também é a expectativa de Gisele Zuvanov Casado, membro do Departamento Científico de Imunização da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), para quem a decisão da FDA pode contribuir para um aumento de vacinados até mesmo no Brasil.

“A maioria das desculpas de quem se nega a se vacinar é que não quer ser cobaia e que não vai ser o primeiro a se arriscar. Quando temos um órgão importante, como esse dos Estados Unidos, dando esse aval final, as pessoas perdem esses argumentos, e acreditam que não é mais um risco”, ressaltou, acrescentando: “Esse é um benefício que pode ser registrado até aqui, apesar de já termos uma autorização emergencial da Anvisa, muita gente ainda não confia no nosso órgão.”

Logo após o anúncio da FDA, a cidade de Nova York divulgou que exigirá de todos os funcionários do Departamento de Educação a comprovação de ao menos uma dose da vacina até 27 de setembro, sem a opção de fazer testes de PCR. O Pentágono confirmou que todas as suas tropas da ativa e da reserva terão de se vacinar contra a covid-19. “Agora que a vacina da Pfizer foi aprovada, o Departamento de Defesa está preparado para emitir uma diretriz atualizada que requer que todos os membros do serviço sejam vacinados”, declarou o porta-voz John Kirby.


Palavra de especialista

Marco histórico

“Essa aprovação é a mais rápida já concedida em toda a nossa história, vai entrar para o grande hall de conquistas médicas e é fruto do avanço das nossas tecnologias e da eficiência desses especialistas, que conseguiram avaliar essa grande quantidade de dados em um tempo tão curto. Esse imunizante apresenta uma eficácia extremamente alta. Algo notável, principalmente se levarmos em consideração que foi feito em tão pouco tempo, mas de forma responsável e segura. Isso é algo muito bacana e que põe abaixo qualquer dúvida dos indivíduos antivacina. Podemos comemorar essa medida e esperar por um aumento de pessoas que concordem em se proteger com esse fármaco, algo essencial em um momento tão difícil em que precisamos nos proteger desse vírus.”

Luciano Lourenço, clínico geral e chefe da Emergência do Hospital Santa Lúcia, de Brasília

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Marco histórico

“Essa aprovação é a mais rápida já concedida em toda a nossa história, vai entrar para o grande hall de conquistas médicas e é fruto do avanço das nossas tecnologias e da eficiência desses especialistas, que conseguiram avaliar essa grande quantidade de dados em um tempo tão curto. Esse imunizante apresenta uma eficácia extremamente alta. Algo notável, principalmente se levarmos em consideração que foi feito em tão pouco tempo, mas de forma responsável e segura. Isso é algo muito bacana e que põe abaixo qualquer dúvida dos indivíduos antivacina. Podemos comemorar essa medida e esperar por um aumento de pessoas que concordem em se proteger com esse fármaco, algo essencial em um momento tão difícil em que precisamos nos proteger desse vírus.”

Luciano Lourenço, clínico geral e chefe da Emergência do Hospital Santa Lúcia, de Brasília

Ameaça real de novas pandemias

 (crédito: Hector Retamal/AFP - 3/2/21)
crédito: Hector Retamal/AFP - 3/2/21

Crises sanitárias preocupantes, a exemplo da pandemia de covid-19, podem acontecer com mais frequência do que se imaginava, conforme reforça uma pesquisa feita por cientistas britânicos. Essa probabilidade inquietante é resultado de uma ampla análise estatística feita com base em registros de surtos anteriores.

No estudo, publicado na última edição da revista Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas), os cientistas usaram uma série de métodos estatísticos para medir a escala e a frequência de epidemias de doenças para as quais não houve intervenção médica imediata nos últimos quatro séculos, como varíola, cólera, tifo e uma variedade de vírus influenza.

Por meio dos cálculos, os pesquisadores constataram que a probabilidade de uma pandemia com impacto semelhante à do Sars-CoV-2 acontecer é de cerca de 2% em qualquer ano. “Parece um número baixo, mas é uma taxa maior do que a grande parte dos especialistas imaginava. Vimos que a propagação intensa de enfermidades preocupantes não é tão rara como apostávamos”, declarou, em nota, William Pan, professor da Universidade de Duke, no Reino Unido, e um dos autores do artigo.

Em uma outra avaliação, feita com patógenos que apareceram nos últimos 50 anos, incluindo o novo coronavírus, os cientistas estimaram que a taxa anual de novos surtos de doenças, provavelmente triplicará nas próximas décadas. Os especialistas também estimam que uma pandemia semelhante à atual poderá acontecer daqui a 59 anos. O novo coronavírus surgiu no fim de 2019, na China, e sua origem até hoje é alvo de investigações pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

“As razões pelas quais os surtos de enfermidades estão se tornando mais frequentes são diversas: o crescimento populacional, mudanças nos sistemas alimentares, degradação ambiental e contato mais frequente entre humanos e animais que carregam doenças terríveis para nós. Precisamos lutar contra isso e retardar essa previsão”, destacou Pan.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação