Neurologia

Mutação genética explica porque algumas pessoas se sentem bem mesmo dormindo pouco

Especialistas constataram que a presença de mutações genéticas já relacionadas ao "sono curto" foram associadas a um menor risco de Alzheimer

Correio Braziliense
postado em 16/03/2022 06:00
 (crédito: Brandon Bell)
(crédito: Brandon Bell)

A razão de algumas pessoas dormirem poucas horas e, ainda assim, se sentirem descansadas parece estar nos genes, e essas partes do DNA também podem proteger indivíduos de danos cognitivos, segundo pesquisadores dos Estados Unidos. Em um estudo com ratos, os especialistas constataram que a presença de mutações genéticas já relacionadas ao "sono curto" foram associadas a um menor risco de Alzheimer. Os dados, apresentados na última edição da revista especializada Iscience, podem revelar novos caminhos para combater doenças neurológicas em humanos, apostam os autores do estudo.

"Existe um dogma de que todo mundo precisa de oito horas de sono diárias, mas o trabalho que fizemos, até o momento, confirma que a quantidade de sono que as pessoas necessitam difere com base na genética delas", explica, em comunicado, Louis Ptacek, um dos principais autores do estudo e pesquisador da Universidade da Califórnia. "Pense nisso como um análogo à altura. Não existe uma quantidade perfeita de estatura, cada pessoa é diferente. Mostramos que essa relação é semelhante ao sono", ilustra.

Ptacek e sua equipe de pesquisa estudam, há anos, pessoas com "sono curto natural familiar" (FNSS, em inglês), termo que define os indivíduos que vivem bem ao dormir poucas horas por noite. Em estudos anteriores, os especialistas observaram que esse fenômeno ocorre em famílias e, até agora, identificaram cinco genes que desempenham um papel na ativação desse descanso mais curto e eficiente. "Ainda há muito mais genes FNSS para encontrar", afirma o grupo.

No estudo atual, os especialistas observaram que esses genes podem servir como um "escudo" contra doenças neurodegenerativas. Eles chegaram a essa conclusão após avaliar camundongos alterados em laboratório para ter os genes ligados ao sono curto e os que aumentam a predisposição à doença de Alzheimer. As análises mostram que o cérebro das cobaias desenvolveu uma quantidade muito menor de agregados — substâncias indicadas com um dos fatores que leva à doença neurodegenerativa —, em comparação aos camundongos modificados para ter apenas os genes do Alzheimer.

As conclusões se diferenciam do pensamento atual da neurologia, que indica a falta de sono como um fator de aceleração de neurodegenerações. Segundo a equipe americana, essas peças genéticas podem justamente evitar que esse prejuízo ocorra. "A diferença é que, com o FNSS, o cérebro realiza as tarefas de sono em menos tempo. Em outras palavras, menos tempo gasto dormindo de forma eficiente pode não equivaler a falta de sono", enfatiza Ptacek.

Prevenção

Os autores ressaltam, ainda, que, ao ajudar na compreensão dos fundamentos biológicos da regulação do sono, o estudo também pode ajudar no desenvolvimento de abordagens preventivas. "Cada mutação que encontramos é uma peça importante. Neste momento, estamos trabalhando nas bordas, para chegar ao lugar em que é mais fácil juntar as peças e onde a imagem realmente começará a emergir", afirma o pesquisador.

A expectativa é de que ao menos um dos genes identificados até o momento possa ser explorado pela área farmacêutica. "Esse trabalho abre as portas para uma nova compreensão de como retardar e, possivelmente, prevenir muitas doenças, já que alterações no sono estão relacionadas a uma série de enfermidades", diz Ying-Hui Fu, também autor do estudo e pesquisador da universidade americana. "Nosso objetivo realmente é ajudar todos a viverem de forma mais saudável, por mais tempo e tendo um sono ideal."

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