CIÊNCIA

Zika vírus pode ficar ainda mais perigoso, alertam cientistas

Uma pequena mutação pode transformar o vírus transmitido pelo Aedes aegypti em uma variante mais infecciosa, gerando novos surtos de problemas como a microcefalia, indica pesquisa realizada na Califórnia

Jéssica Gotlib
postado em 12/04/2022 22:19 / atualizado em 12/04/2022 22:19
Vírus da zika é transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, assim como o da dengue e chikungunya -  (crédito: APU GOMES)
Vírus da zika é transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, assim como o da dengue e chikungunya - (crédito: APU GOMES)

Autoridades de saúde devem ficar em alerta para o surgimento de uma nova variante do zika vírus, afirmam pesquisadores do La Jolla Institute for Immunology (LJI), sediado na Califórnia (EUA). Em artigo publicado nesta terça-feira (12/4), a equipe compartilhou a descoberta de que uma única mutação é suficiente para que o vírus se torne mais infeccioso e cause um novo surto nas regiões onde a população já adquiriu imunidade cruzada através da contaminação pelo vírus da dengue.

Isso porque o zika tem uma evolução acelerada, logo é relativamente "fácil" para ele trocar um único aminoácido que permitirá a cada unidade de vírus fazer mais cópias de si mesmo, ou seja, aumentar a taxa de replicação viral. “Uma alta taxa de replicação em um mosquito ou hospedeiro humano pode aumentar a transmissão (infectar mais pessoas) ou a patogenicidade (capacidade de adoecer o hospedeiro) — e causar um novo surto”, explica o primeiro autor do estudo, Jose Angel Regla-Nava.

Embora a dengue e zika sejam da mesma família de vírus, o que faz com que a imunidade adquirida por um, proteja contra o outro, essa mutação os diferencia a ponto de ajudar o zika vírus a driblar as células de defesa do organismo do hospedeiro. Os pesquisadores descobriram essa possibilidade ao rastrear a evolução do patógeno.

Para tanto, eles recriavam ciclos de infecção em laboratório, alternando as linhagens do vírus entre mosquitos e camundongos e seguindo de perto cada mutação surgida desse contexto. A mais preocupante foi chamada de NS2B I39V/I39T, que também se mostrou altamente perigosa quando cultivada em células humanas.

“A variante do zika que identificamos evoluiu ao ponto em que a imunidade de proteção cruzada proporcionada pela infecção anterior por dengue não era mais eficaz em camundongos. Infelizmente para nós, se essa variante se tornar predominante, podemos ter os mesmos problemas em vida real”, explicou o professor da LJI Sujan Shresta, Ph.D., que co-liderou o estudo no portal Cell Reports.

Para rastrear as mutações, pesquisadores replicaram vários ciclos de transmissão do vírus entre camundongos e mosquitos
Para rastrear as mutações, pesquisadores replicaram vários ciclos de transmissão do vírus entre camundongos e mosquitos (foto: ERIKA SANTELICES)

A maior preocupação dos pesquisadores é que essa variante comece a ocorrer naturalmente, fora do ambiente controlado dos laboratórios, e cause uma nova onda de infecções por zika vírus em regiões onde a população já adquiriu imunidade a ele. Enquanto em adultos a infecção produz apenas sintomas leves, em crianças, especialmente bebês, pode levar a quadros graves — como o surto de microcefalia registrado em diversas cidades brasileiras a partir de 2015.

Para evitar essa nova catástrofe e orientar os sistemas de saúde a combater essa variante, o grupo de cientistas agora procura maneiras de adaptar tratamentos e vacinas para o zika vírus. É uma forma de tentar antecipar as soluções antes que o problema esteja massivamente instalado na população. Eles também vão continuar estudando a evolução do patógeno. “Queremos entender em que ponto do ciclo de vida viral essa mutação faz a diferença”, ressalta Shresta.

O artigo completo, intitulado Uma mutação do vírus Zika aumenta o potencial de transmissão e confere a fuga da imunidade ao vírus da dengue protetora pode ser lido, em inglês, no site especializado Cell Reports.

 

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