INOVAÇÃO

Do tamanho de uma mala, máquina torna água do mar em potável com um botão

O dispositivo, de menos de 10 quilos, é algo inédito no mundo. Além de ser pequeno e portátil, ele não precisa de filtros e, consequentemente, não precisará de manutenção assídua

Talita de Souza
postado em 29/04/2022 23:37
 (crédito: M. SCOTT BRAUER)
(crédito: M. SCOTT BRAUER)

Sem filtro e acionada apenas por um botão: uma máquina de dessalinização portátil do tamanho de uma mala criada por pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) permitirá que a água do mar se torne um líquido potável para saciar a sede e hidratar quem beber. O processo de pesquisa e criação da inovação foi publicado nesta sexta-feira (29/4) na revista Environmental Science and Technology.

O dispositivo, de menos de 10 quilos, é algo inédito no mundo. Além de ser pequeno e portátil, ele não precisa de filtros e, consequentemente, não precisará de manutenção assídua, o que reduz um custo de quem o adquire. Para tirar as partículas de sal da água, o dispositivo usa energia elétrica para acionar a polarização de concentração de íons (ICP). A máquina também pode ser alimentada por um pequeno painel solar portátil.

O processo ICP não filtra a água; em vez disso, gera um campo elétrico nas membranas do aparelho em volta do tanque em que a água é colocada. Com a energia, as membranas repelem as partículas carregadas positiva ou negativamente — como moléculas de sal, bactérias e vírus — a medida que se encontram no dispositivo. A água gerada excede os padrões de qualidade da Organização Mundial da Saúde (OMS)

As partículas com substância são direcionadas para outra corrente de água dentro da máquina, que é descartada posteriormente. Para que a energia seja ativada, a máquina é equipada apenas com uma bomba de baixa pressão, o que permite o tamanho portátil do dispositivo.

Além disso, os pesquisadores projetaram o dispositivo para que pessoas que não sabem como ativar o processo ICP utilizem a máquina com apenas um comando: apertar um botão que inicia a dessalinização. Assim que a água atinge o nível de salinidade esperado, o usuário é notificado de que a água é potável.

A máquina também pode ser controlada por meio de um aplicativo para smartphones, em que os níveis de salinidade e o consumo de energia são atualizados em tempo real. O desenvolvimento do dispositivo durou 10 anos e, agora, deverá ser vendido por cerca de US$ 50.

“Este é realmente o culminar de uma jornada de 10 anos em que eu e meu grupo estivemos. Trabalhamos durante anos na física por trás dos processos individuais de dessalinização, mas colocar todos esses avanços em uma caixa, construir um sistema e demonstrá-lo no oceano, foi uma experiência realmente significativa e gratificante para mim”, diz o autor sênior Jongyoon Han, professor de engenharia elétrica e ciência da computação e de engenharia biológica e membro do Laboratório de Pesquisa em Eletrônica (RLE).

Os cientistas contam que a facilidade do dispositivo pode propiciar que áreas remotas ou pobres do mundo possam utilizar a máquina, como comunidades em pequenas ilhas ou a bordo de navios de carga marítimos. Também é uma forma de ajudar refugiados que fogem de desastres naturais ou por soldados que estão em operações militares de longo prazo.


Produto foi testado em praia de Boston

Após apresentar resultados satisfatórios em testes dentro do MIT, os cientistas testaram o dispositivo em Carson Beach, em Boston. Eles colocaram a caixa perto da costa e jogaram o tubo que capta a água no mar. Em cerca de meia hora, a máquina encheu um copo de plástico com água potável.

“Foi um sucesso mesmo em sua primeira execução, o que foi bastante emocionante e surpreendente. Mas acho que a principal razão do nosso sucesso é o acúmulo de todas essas pequenas vantagens que fizemos ao longo do caminho”, diz Han.

Agora, os pesquisadores buscam tornar o dispositivo ainda mais fácil de usar, e pretendem melhorar a eficiência energética. Além da dessalinização, os cientistas querem também aprimorar a detecção de outras substâncias, como bactérias contaminantes na água potável.

“Este é definitivamente um projeto empolgante e estou orgulhoso do progresso que fizemos até agora, mas ainda há muito trabalho a fazer”, diz Han.

 

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