UNIVERSO

Lua de Saturno tem ambiente propício para encontrar vida

Cientistas conseguirem encontrar indícios de que o oceano que a lua Enceládo abriga está repleto de fósforo — um dos cinco elementos necessários para a vida e único que os cientistas não haviam identificado no satélite

Talita de Souza
postado em 21/09/2022 16:59 / atualizado em 21/09/2022 17:02
Oceanos atravessam todo o comprimento da Lua Enceladus, onde grandes áreas da superfície de Enceladus são caracterizadas por terrenos jovens (em escalas de tempo geológicas), enrugados -  (crédito: Nasa Cassini/Reprodução)
Oceanos atravessam todo o comprimento da Lua Enceladus, onde grandes áreas da superfície de Enceladus são caracterizadas por terrenos jovens (em escalas de tempo geológicas), enrugados - (crédito: Nasa Cassini/Reprodução)

Sexto planeta do Sistema Solar, Saturno pode deixar de ser conhecido, prioritariamente, pelos anéis densos que o envolve para ter a fama de ter uma lua que pode ser o primeiro local fora da Terra a ter vida. De acordo com cientistas do Southwest Research Institute, a lua Enceládo abriga condições perfeitas para abrigar organismos vivos. A descoberta foi publicada na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, na segunda-feira (19/9).

A constatação ocorreu após os cientistas conseguirem encontrar indícios de que o oceano que a lua abriga está repleto de fósforo. O elemento é um dos cinco necessários para a vida e era o único que os cientistas não haviam, até então, identificado no satélite natural. Os outros quatro — hidrogênio, oxigênio, carbono e nitrogênio — já haviam sido encontrados.

A partir de dados obtidos pela missão Cassini-Huygens, da Nasa, que lançou um satélite que orbitou Saturno e as luas dele por mais de 19 anos, a ciência já havia identificado, nas plumas que envolve Enceládo, a presença de gelos de amônia e metano, o que indica nitrogênio e carbono vindo do oceano da lua. Hidrogênio molecular também haviam sido identificados.

“Nos anos desde que a espaçonave Cassini, da Nasa, visitou o sistema de Saturno, ficamos repetidamente impressionados com as descobertas possibilitadas pelos dados coletados. O que aprendemos é que a pluma contém quase todos os requisitos básicos da vida como a conhecemos”, explicou Christopher R. Glein, autor sênior do estudo. O fósforo, no entanto, não foi encontrado.

  • Esta visão semi-iluminada da Enceládo tem uma semelhança passageira com visões semelhantes do próprio satélite natural da Terra, mas as semelhanças terminam aí. A lua rochosa da Terra é coberta por bacias vulcânicas escuras e terras altas montanhosas mais brilhantes - ambas extremamente antigas. A superfície da gelada Enceladus é uniformemente brilhante, muito mais brilhante do que a lua da Terra. NASA/JPL-Caltech/Space Science Institute
  • Oceanos atravessam todo o comprimento da Lua Enceladus, onde grandes áreas da superfície de Enceládo são caracterizadas por terrenos jovens (em escalas de tempo geológicas), enrugados Nasa Cassini/Reprodução

"O fósforo é essencial e sua disponibilidade muitas vezes é um fator limitante para a produtividade biológica", acrescentou. Para encontrar o último elemento, os cientistas olharam diretamente para o oceano de Enceládo e perceberam que a tração da água com as rochas poderia provocar um processo químico que dissemina o fósforo para dentro do oceano, como se fosse uma mistura de um pó de café solúvel em água fervente para produzir café.

Para verificar a validade da hipótese, os cientistas utilizaram um processo chamado modelagem geoquímica, especificamente a termodinâmica e cinética. O processo consistiu na modelação das interações entre o núcleo rochoso da lua e o oceano para determinar se os minerais de fosfato nas rochas seriam liberados no oceano.

A análise resultou na descoberta de que a temperatura, pressão e acidez do ambiente de Enceládo eram adequadas para tornar os fosfatos em elementos solúveis que se misturariam com a água do oceano — o formato do fósforo seria a de ortofosfato.

“A geoquímica subjacente tem uma simplicidade elegante que torna inevitável a presença de fósforo dissolvido, atingindo níveis próximos ou até superiores aos da água do mar da Terra moderna”, disse Glein.

Os cientistas modelaram as interações entre o núcleo e o oceano acima para determinar se os minerais de fosfato nas rochas seriam liberados no oceano. Eles descobriram que a temperatura, a pressão e a acidez eram adequadas para tornar os fosfatos particularmente solúveis, predominantemente na forma de ortofosfato (PO43-)

A presença do fosfato não significa, necessariamente, que há vida atualmente nas profundezas do oceano de Enceládo, mas afirma que o grande lago gelado pode ser habitável — “provavelmente poderíamos semear nele se quiséssemos”.

Agora, os astrobiólogos esperam uma nova missão para oficializar o que eles já acreditam. Precisamos voltar a Encélado para ver se um oceano habitável é realmente habitado”, pontua Glein.

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