ANTIGUIDADE

Múmia da rainha Nefertiti pode estar escondida em túmulo de Tutancâmon

Uma sobreposição de hieróglifos revelou que o túmulo em que Tutancâmon foi encontrado é, na verdade, de outra figura da nobreza egípcia. De acordo com os arqueólogos, tudo indica que é de Nefertiti, antecessora do rei

Talita de Souza
postado em 26/09/2022 17:35 / atualizado em 26/09/2022 17:39
(FILES) This file photo taken on September 10, 2014 shows Denmarks Queen Margrethe II looking at the Nefertiti Bust in Berlins Neues Museum.  Europes museums are full of items taken from Africa during colonialization, but many other objects on their shelves also carry an uncomfortable history. / AFP / John MACDOUGALL -  (crédito: JOHN MACDOUGALL)
(FILES) This file photo taken on September 10, 2014 shows Denmarks Queen Margrethe II looking at the Nefertiti Bust in Berlins Neues Museum. Europes museums are full of items taken from Africa during colonialization, but many other objects on their shelves also carry an uncomfortable history. / AFP / John MACDOUGALL - (crédito: JOHN MACDOUGALL)

Alvo de buscas assíduas de arqueólogos, a múmia da rainha egípcia Nefertiti parece estar prestes a ser descoberta, após hieróglifos escondidos na tumba de Tutancâmon apontarem que o túmulo dele é, na verdade, a câmara funerária que abriga o corpo da comandante egípcia. A descoberta foi compartilhada por arqueólogos nesta segunda-feira (26/9).

A constatação foi feita após o arqueólogo Nicholas Reeves, ex-curador do Departamento de Antiguidades Egípcias, identificar uma sobreposição de hieróglifos na parede norte do túmulo de Tutancâmon.

A sobreposição foi identificada em uma cartela — ou cartucho, que significa um círculo inscrito em locais sagrados para "proteger" o nome de um faraó — que envolve o nome de Ay, sucessor de Tutancâmon. Ela foi posicionada ao fim de uma cena de hieróglifos com figuras em que mostra Ay enterrando o rei que morreu precocemente aos 19 anos.

Na imagem, ele segura um enxó cerimonial e realiza o ritual de “abrir a boca” do falecido, para restaurar os cinco sentidos do morto — um ritual funerário dos egípcios. Ao lado da figura, há a cartela com o nome de Ay.

No entanto, Reeves conseguiu observar que embaixo do nome de Ay, há outro nome: o de Tutancâmon. A partir da análise das figuras e do nome original revelado, os pesquisadores acreditam que a cena mostrava, na verdade, o ritual funerário feito por Tutancâmon na morte de Nefertiti, sua antecessora direta, rainha do Egito na 18ª dinastia e esposa do rei Akhenaton.

“A inspeção minuciosa das cartelas de Ay revela traços claros e subjacentes de um nome anterior – o de Tutancâmon. Em sua versão original, esta cena mostrava Tutancâmon realizando o ritual funerário para o proprietário original da tumba , sua antecessora imediata... Nefertiti”, disse Reeves em entrevista ao The Guardian.

Após encontrar o nome, o arqueólogo fez uma análise nos “perfis faciais das figuras” da cena registrada, o que o ajudou a atestar que a cartela de hieróglifo mostra Tutancâmon e Nefertiti. “O nariz arrebitado e o queixo rechonchudo da figura atualmente rotulada como Ay, precisamente o contorno facial padronizado, eram vistos, na verdade, em Tutancâmon no início de sua realeza”, pontua.

A múmia registrada na parede também traz “traços indiscutíveis do rosto de Nefertiti”, diz o pesquisador. Os arqueólogos sabem as feições da rainha porque um busto altamente detalhado de Nefertiti foi encontrado em 1912.

A descoberta ajuda a encaixar uma grande dúvida dos arqueólogos: por que um rei egípcio foi enterrado em uma tumba tão pequena?. Desde a descoberta do túmulo, em 1922, os pesquisadores acreditavam que o local era apenas uma parte de algo maior.

  • A visitor wearing a face mask looks at the Bust of Queen Nefertiti from Tell el-Amarna, the most famous exhibit at the Neues Museum with its collection of Egyptian art, on March 16, 2021 in Berlin, as visits at some state museums were possible again amid the novel coronavirus / COVID-19 pandemic. / AFP / Tobias Schwarz TOBIAS SCHWARZ
  • Visitors wearing face masks look at the Bust of Queen Nefertiti from Tell el-Amarna, the most famous exhibit at the Neues Museum with its collection of Egyptian art, on March 16, 2021 in Berlin, as visits at some state museums were possible again amid the novel coronavirus / COVID-19 pandemic. / AFP / Tobias Schwarz TOBIAS SCHWARZ
  • A visitor wearing a face mask looks at the Bust of Queen Nefertiti from Tell el-Amarna, the most famous exhibit at the Neues Museum with its collection of Egyptian art, on March 16, 2021 in Berlin, as visits at some state museums were possible again amid the novel coronavirus / COVID-19 pandemic. / AFP / Tobias Schwarz TOBIAS SCHWARZ
  • (FILES) In this file photo taken on February 07, 2011 the bust of Queen Nefertiti of Egypt is on display in Berlin's "Neues Museum" (New Museum). Berlin museums might house the iconic Nefertiti bust, the Ishtar gate of ancient Babylon or Rembrandt masterpieces, but they still trail global counterparts in popularity -- and the coronavirus is making things worse. / AFP / John MACDOUGALL / TO GO WITH AFP STORY by Yannick PASQUET JOHN MACDOUGALL
  • (FILES) This file photo taken on September 10, 2014 shows Denmark's Queen Margrethe II looking at the Nefertiti Bust in Berlin's Neues Museum. Europe's museums are full of items taken from Africa during colonialization, but many other objects on their shelves also carry an uncomfortable history. / AFP / John MACDOUGALL JOHN MACDOUGALL
  • FILES Picture taken on February 7, 2011 shows the bust of Queen Nefertiti of Egypt on display in Berlin's "Neues Museum" (New Museum). Berlin's Egyptian Museum said Monday August 27, 2012 that it will celebrate the centenary of the discovery of the 3,400 year-old fabled bust of Egypt's Queen Nefertiti amid an ongoing feud with Cairo on its ownership.The Nefertiti Bust is a 3400-year-old painted limestone bust of Nefertiti, the Great Royal Wife of the Egyptian Pharaoh Akhenaton and is one of the most copied works of ancient Egypt. Due to the bust, Nefertiti has become one of the most famous women from the ancient world as well as an icon of female beauty. It is believed to have been crafted in 1345 BC by the sculptor Thutmose. Egypt's Supreme Council of Antiquities demands that Germany return the 3,400 year-old bust of fabled Queen Nefertiti, 98 years after it was uncovered on the banks of the Nile. AFP PHOTO / JOHN MACDOUGALL JOHN MACDOUGALL
  • FILES Picture taken on February 7, 2011 shows the bust of Queen Nefertiti of Egypt on display in Berlin's "Neues Museum" (New Museum). Berlin's Egyptian Museum said Monday August 27, 2012 that it will celebrate the centenary of the discovery of the 3,400 year-old fabled bust of Egypt's Queen Nefertiti amid an ongoing feud with Cairo on its ownership.The Nefertiti Bust is a 3400-year-old painted limestone bust of Nefertiti, the Great Royal Wife of the Egyptian Pharaoh Akhenaton and is one of the most copied works of ancient Egypt. Due to the bust, Nefertiti has become one of the most famous women from the ancient world as well as an icon of female beauty. It is believed to have been crafted in 1345 BC by the sculptor Thutmose. Egypt's Supreme Council of Antiquities demands that Germany return the 3,400 year-old bust of fabled Queen Nefertiti, 98 years after it was uncovered on the banks of the Nile. AFP PHOTO / JOHN MACDOUGALL JOHN MACDOUGALL

A teoria ganhou força em 2015, após inspeções computadorizadas do local — o túmulo é subterrâneo e não é explorado visceralmente para preservar a construção original — mostrarem linhas rebocadas nas paredes, o que sugeria portas escondidas pelos antepassados que levariam a outras câmaras.

O que Reeves e outros pesquisadores acreditam é que o túmulo era de outra pessoa e foi usado às pressas para conservar a múmia de Tutancâmon após uma morte prematura, em 1.324 a.C.. O que os arqueólogos não sabiam é que a câmara funerária poderia ser de Nefertiti.

“Menos de uma década depois da morte de Nefertiti, o túmulo dela seria reaberto e seus elementos mais externos esvaziados e o local adaptado para receber Tutancâmon”, pontuou Reeves. O local onde o rei foi encontrado seria, então, apenas uma seção externa, mas ainda da nobreza, para ocupar o corpo do comandante de menor reinado da 18ª dinastia.

“Longe de Tutancâmon ter sido enterrado em uma tumba expandida e não utilizada de um indivíduo particular qualquer, parece que ele era apenas um intruso dentro da seção externa de uma tumba da nobreza significativamente maior”, pontua o pesquisador. No entanto, ele alerta que a teoria não é unanimidade entre os arqueólogos.

Mas a descoberta de Reeves animou, ao menos, um dos principais especialistas em radas e investigações geofísicas de edifícios e estruturas, George Ballard. O pesquisador acredita, sim, que há uma parede falsa que bloqueia uma entrada para a tumba real, que seria de Nefertiti.

“As evidências que temos até agora não sugerem que existe uma estrutura feita pelo homem na parede norte, mas há evidência de construção feita pelo homem na parede leste — apesar de não ser admitido por algumas pessoas, o que é sempre o problema na ciência”, declarou ao The Guardian.

"Mas se houver uma estrutura, isso significa que alguém a construiu, e você não constrói coisas no ‘Vale dos Reis’ sem intenção", acrescentou.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação