Diante de pacientes com queixas de dores nos seios, presença de nódulos e/ou secreções mamárias, os médicos podem recorrer a uma combinação de exames: a tomossíntese mamária digital (DBT), uma mamografia avançada, seguida de uma ultrassonografia. Uma equipe de cientistas da Holanda decidiu investigar a possibilidade de simplificar essa etapa de investigação, a restringindo à segunda abordagem. Segundo eles, o protocolo é eficiente para casos de mulheres com mais de 30 anos e complicações confinadas a uma área específica da mama. Detalhes do trabalho foram apresentados, nesta semana, na revista Radiology, do Instituto de Radiologia Norte-Americano.
De acordo com os autores, a DBT fornece uma imagem geral das mamas. E o ultrassom, dados de áreas específicas. Para o estudo, eles investigaram o desempenho do ultrassom sozinho como um método de diagnóstico em mulheres atendidas em três hospitais da Holanda, entre setembro de 2017 e junho de 2019. Nódulos mamários e dor localizada nos seios foram os sintomas mais comuns relatados pelas 1.961 mulheres que participaram da pesquisa.
Em todas elas, a equipe inverteu a ordem do protocolo comum. Primeiro, as mulheres foram submetidas à ultrassonografia. Depois, à DBT. Dessa forma, os radiologistas que participaram do estudo não foram influenciados pelas imagens da tomossíntese digital ao interpretar o primeiro exame. Nos casos necessários, também foi realizada uma biópsia.
A análise revelou que, sozinho, o ultrassom levou ao diagnóstico preciso em 1.759 (90%) das 1.961 pacientes. Mais de 80% das queixas acabaram resultando em situações normais ou nódulos benignos, como cistos. Um total de 347 mulheres foram submetidas a uma biópsia baseada apenas no que foi encontrado nas ultrassonografias — o que resultou em 192 diagnósticos de câncer.
"Descobrimos que a precisão diagnóstica do ultrassom é alta em mulheres com queixas focais nas mamas", afirma, em nota, Linda Appelman, radiologista de mama no Departamento de Imagens Médicas do Radboud University Medical Center em Nijmegen. Para a pesquisadora, os resultados indicam que, sozinho, o ultrassom "pode efetivamente diagnosticar queixas focais de mama na grande maioria das mulheres".
Segundo Débora Sara de Almeida Cardoso Peiró, mastologista do Hospital das Clínicas, as pacientes jovens apresentam, em sua maioria, mamas densas, característica que pode dificultar a avaliação de lesões nodulares na mamografia. A característica, avalia, faz com que o exame defendido pela equipe holandesa seja uma escolha estratégica. "Não é incomum que, nessas mulheres, as alterações vistas na ultrassonografia não sejam vistas na mamografia", explica.
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Além disso, enfatiza a médica, o exame é indolor, de baixo custo e fornece dados em tempo real. "Ele permite diferenciar lesões císticas (conteúdo líquido) e sólidas, avaliar, de maneira precisa, a forma e as margens de cada achado, gerando informações que podem sugerir a natureza benigna ou maligna de cada lesão. Essa é uma das grandes vantagens da ultrassonografia no dia a dia do consultório", detalha.
Acessibilidade
A equipe holandesa indica outra vantagem: a ultrassonografia de queixas focais da mama pode ser especialmente importante em países de baixa ou média renda, onde está mais disponível do que a DBT. "Em um ambiente com recursos limitados ou em um programa de triagem já existente, o ultrassom inicial pode ser uma alternativa melhor, em comparação à mamografia", disse, em nota, Appelman.
Débora Sara lembra que o exame de ultrassom é eficiente também na complementação do rastreamento de mulheres com mamas densas — característica comum entre 45 e 50 anos de idade. "Além disso, ele tem grande utilidade nas biópsias mamárias, sendo o método mais simples e barato de guiá-las principalmente nos casos de nódulos não palpáveis", completa.
A médica também reforça a urgência da adesão de métodos mais acessíveis e precisos para o diagnóstico precoce de patologias, o que favorece o tratamento e os processos de cura. "Contudo, garantir o acesso à população, sobretudo a de baixa renda, parece ser mais difícil que o próprio desenvolvimento de tais tecnologias. A maioria da população demora muito para ser beneficiada por esses métodos mais evoluídos", lamenta.
Ativando drogas anticâncer
Ondas de ultrassom podem ativar uma das drogas mais usadas contra o câncer: os complexos de platina. O efeito foi observado por uma equipe internacional de pesquisadores liderada por Johannes Karges, da Ruhr University Bochum, na Alemanha. Pela abordagem proposta, esse medicamento se acumula no tecido doente e só passa agir quando é "ligado" pelo ultrassom, reduzindo os efeitos colaterais mesmo em casos de tumores grandes e profundos.
Efeito parecido é observado com luzes ultravioleta, azul ou vermelha. Mas, segundo Karges, elas só conseguem penetrar menos de um centímetro de profundidade no corpo. "Portanto, não atingem muitos tumores", explica. Outra vantagem, de acordo com o cientista, é que os hospitais geralmente estão equipados com os equipamentos necessários para o tratamento experimental, detalhado, nesta semana, na revista Angewandte Chemie International Edition.
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