Paleontologia

"Monstro" de 265 milhões de anos é encontrado no Rio Grande do Sul

Cientistas descobrem fóssil bastante preservado do Pampaphoneus biccai, um grande predador terrestre que dominou a América do Sul

Reconstrução artística do Pampaphoneus biccai: o mais sanguinário carnívoro da época -  (crédito: Márcio Castro/Divulgação )
Reconstrução artística do Pampaphoneus biccai: o mais sanguinário carnívoro da época - (crédito: Márcio Castro/Divulgação )
Correio Braziliense
postado em 13/09/2023 06:03

Há 265 milhões de anos, em uma região do planeta que hoje é a área rural de São Gabriel, no Rio Grande do Sul, vivia o mais sanguinário carnívoro de seu tempo. Quarenta milhões de anos antes do domínio global dos dinossauros, o Pampaphoneus biccai dominava a América do Sul. Em um estudo publicado, ontem, no Zoological Journal of the Linnean Society, uma equipe internacional de pesquisadores liderada por cientistas brasileiros revela a surpreendente descoberta de uma espécie fóssil primorosamente preservada do animal.

O fóssil inclui um crânio completo e alguns ossos do esqueleto, como costelas e partes do braço. O Pampaphoneus, que pertence ao clado dos primeiros terapsídeos chamados dinocéfalos, viveu pouco antes do maior evento de extinção na história da Terra, que eliminou 86% de todas as espécies animais em todo o mundo.

Antes disso, os dinocéfalos eram um dos principais grupos de grandes animais terrestres que prosperavam em terra. Eram criaturas de médio a grande porte, com representantes carnívoros e herbívoros. Eles tinham ossos cranianos grossos, o que deu origem ao nome do grupo, que se traduz como "cabeça terrível" em grego. Embora bem conhecidos na África do Sul e na Rússia, são raros em outras partes do mundo. O Pampaphoneus biccai é a única espécie conhecida no Brasil.

"O fóssil foi encontrado em rochas do médio Permiano, em uma área onde os ossos não são tão comuns, mas sempre guardam surpresas agradáveis", disse o autor principal, Mateus A. Costa Santos, aluno de pós-graduação do Laboratório de Paleontologia da Universidade Federal do Pampa (Unipampa). "Encontrar um novo crânio de Pampaphoneus depois de tanto tempo foi extremamente importante para aumentar nosso conhecimento sobre o animal, que antes era difícil de diferenciar de seus parentes russos."

Segundo a autora sênior Stephanie E. Pierce, do Museu de Zoologia Comparada de Harvard, o animal deveria ser apavorante. "Era uma fera de aparência retorcida e deve ter evocado pavor absoluto em qualquer coisa que cruzasse seu caminho", disse. "A sua descoberta é fundamental para dar uma ideia da estrutura comunitária dos ecossistemas terrestres pouco antes da maior extinção em massa de todos os tempos. Uma descoberta espetacular que demonstra a importância global do registro fóssil do Brasil."

Hábil predador

Os pesquisadores estimam que os maiores indivíduos do Pampaphoneus poderiam atingir quase 3m de comprimento e pesar cerca de 400kg. Era um predador habilidoso, capaz de se alimentar de animais de pequeno e médio portes. Na mesma localidade onde o fóssil foi encontrado, também foram identificadas algumas de suas potenciais presas, como o pequeno dicinodonte Rastodon e o anfíbio gigante Konzhukovia.

"Foi o maior predador terrestre que conhecemos do Permiano na América do Sul. O animal tinha dentes caninos grandes e afiados, adaptados para capturar presas. Sua dentição e arquitetura craniana sugerem que sua mordida era forte o suficiente para mastigar ossos, assim como as hienas modernas", descreve Felipe Pinheiro, pesquisador da Unipampa e autor do artigo.

O novo espécime é apenas o segundo crânio de Pampaphoneus já descoberto na América do Sul. Também é maior que o primeiro e fornece informações inéditas sobre sua morfologia devido à excepcional preservação de seus ossos.

 


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