CALOR

Recorde de calor em 2023 ocorreu em parte por processos "misteriosos"

O recorde de temperaturas de 2023 alarmou os cientistas, uma vez que os dados registrados não se ajustaram aos parâmetros

O recorde de temperaturas de 2023 alarmou os cientistas, uma vez que os dados registrados não se ajustaram aos parâmetros  -  (crédito:  Carlos Vieira)
O recorde de temperaturas de 2023 alarmou os cientistas, uma vez que os dados registrados não se ajustaram aos parâmetros - (crédito: Carlos Vieira)
postado em 13/01/2024 20:50

É de conhecimento geral que a atividade humana está aquecendo o planeta, provocando fenômenos meteorológicos extremos cada vez mais frequentes e intensos e transformando os ecossistemas em um ritmo extraordinário.

Mas o recorde de temperaturas de 2023 alarmou os cientistas, uma vez que os dados registrados não se ajustaram aos parâmetros conhecidos e apontam para novos processos "misteriosos", segundo o climatologista-chefe da Nasa, Gavin Schmidt. 

A seguir estão trechos de uma entrevista com Schmidt:

- É possível colocar em perspectiva o que foi visto em 2023? -

Não foi só um recorde. Foi um recorde que superou o anterior por uma margem nunca vista. Começamos com o La Niña, fenômeno que ocorre no Pacífico tropical. Esteve lá até março. E, posteriormente, em maio, começamos a ver o desenvolvimento do El Niño, a fase quente deste ciclo, que normalmente afeta as temperaturas do ano seguinte, o que nos leva para 2024.

Mas o que vimos em 2023 foi que as temperaturas em nível mundial pareceram aumentar com o evento do El Niño, de uma forma muito maior do que já havíamos observado. Compreendemos as tendências de longo prazo: estão sendo impulsionadas pelos gases do efeito estufa, pelos efeitos antropogênicos. Prevemos que continuarão, década após década, até deixarmos de emitir gases com efeito de estufa na atmosfera, o que ainda não fizemos. Mas o que aconteceu em 2023 foi isso e depois outra coisa. E esse "algo mais" é muito maior do que prevíamos, ou do que podemos explicar no momento.

-¿Quais são as hipóteses para explicar este "algo mais"? -

- Houve troca de e-mails e conversas entre cientistas em todo o mundo. Alguns dizem: "Vamos olhar para os desequilíbrios energéticos da Terra, para os aerossóis, o El Niño, o que acontece na Antártida, no Atlântico Norte". Todos têm muitas ideias, mas as contas não fecham (...)

Talvez o El Niño não seja suficiente (para explicar o recorde), mas se observarmos todos os episódios anteriores ao El Niño, nenhum provocou isso. Então, ou este é muito especial ou a atmosfera está reagindo de forma muito diferente. Ou algo mais está acontecendo.

A tendência no longo prazo continua alinhada ao que vinhamos prevendo há anos. Mas os detalhes do que aconteceu em 2023 são um pouco misteriosos. Por isso esperamos ansiosamente os dados futuros, porque talvez nos ajudem a entender o que aconteceu no ano passado. Mas também tentamos analisar o ano passado reunindo todas as observações e modelos. Realmente ainda não o fizemos, mas acho que isso acontecerá nos próximos meses.

- O que devemos prever para 2024? -

- É importante entender por que 2023 foi assim. Isso significa que continuará sendo assim? Significa que as consequências começarão a acelerar? Não se sabe! E isso é um problema.

(...) Nos deixa mais nervosos, porque não só as coisas vão piorar como era esperado. Existem outras coisas imprevisíveis e isso é desconcertante. E acho que esse é o motivo de preocupação em termos gerais.

O ano de 2023 não se ajustou aos parâmetros antigos. Se os parâmetros anteriores voltam, e 2023 foi só um problema passageiro, então 2024 estará muito próximo de 2023. Se não foi um problema passageiro, se há algo sistemático que mudou ou que está mudando, então podemos esperar um 2024 ainda mais quente. (...) E isso terá implicações no clima: ondas de calor, chuvas torrenciais, inundações costeiras e tudo mais.

Tags

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Ícone do whatsapp
Ícone do telegram

Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br

-->