Altas temperaturas

Calor extremo pode levar ursos polares à morte por fome

Mais tempo de verão significa menos comida disponível para os ursos polares, esses caçadores de águas congeladas. Uma pesquisa constatou que os animais perderam, em média, 1kg por dia, cada um

Machos adultos pesam cerca de 500kg e medem 3m de cumprimento, para sobreviver, tentaram, sem sucesso, diferentes estratégias  -  (crédito:  David McGeachy/Divulgação)
Machos adultos pesam cerca de 500kg e medem 3m de cumprimento, para sobreviver, tentaram, sem sucesso, diferentes estratégias - (crédito: David McGeachy/Divulgação)
postado em 14/02/2024 03:55 / atualizado em 14/02/2024 07:40

Com o aumento contínuo das emissões de gases de efeito estufa e a consequente elevação nas temperaturas globais, a previsão de cientistas climáticos é de que os verões se tornarão cada vez mais prolongados. Para os ursos polares, animais já em risco de extinção, isso pode significar morrer de fome, segundo um estudo publicado ontem na revista Nature Communications.

Para investigar a resiliência desses mamíferos do Hemisfério Norte, pesquisadores do Centro de Ursos da Universidade Estadual de Washington, nos Estados Unidos, observaram de perto um grupo de 20 animais durante três semanas do verão. No período, os ursos polares tentaram diferentes estratégias para manter as reservas de energia, incluindo descanso e busca por alimento em terra firme. No entanto, quase todos perderam peso rapidamente: em média, cerca de 1kg por dia.

Já se especulou que os ursos polares poderiam se adaptar às estações mais longas sem gelo, agindo como seus parentes ursos pardos e descansando ou comendo alimentos terrestres. No estudo, os animais tentaram ambas as estratégias — com pouco sucesso.

"Nenhuma das estratégias permitirá que os ursos polares existam em terra além de um determinado período. Mesmo os ursos que estavam em busca de alimento perderam peso corporal na mesma proporção que aqueles que se deitaram", disse Charles Robbins, diretor do Centro de Ursos da Universidade Estadual de Washington e coautor do estudo Os ursos polares não são ursos pardos 'vestidos de branco'.

Estilo

Geralmente maiores que os ursos pardos, os polares machos adultos podem atingir 3m de comprimento e pesar 500kg, em comparação com os 2,5m e 350kg dos primeiros. Para manter essa grande massa, os animais dependem da gordura rica em energia das focas, que capturam melhor quando a água está congelada.

Pouco se sabe sobre o gasto de energia e o comportamento dos ursos polares quando confinados em terra. Por isso, os pesquisadores usaram coleiras com câmeras de vídeo e GPS para rastrear os ursos polares no verão na região oeste da Baía de Hudson, em Manitoba, Canadá. Eles queriam ver o que esses animais especializados em caçar no gelo comiam e faziam durante o longo período em terra, quando sua presa preferida, a foca, estava fora de alcance.

Os pesquisadores pesaram os ursos antes e depois do período de observação e mediram seus gastos energéticos. "Encontramos uma grande diversidade de comportamentos de ursos e, como resultado, vimos uma gama diversificada de gastos energéticos", disse o autor principal do artigo, Anthony Pagano, biólogo pesquisador da vida selvagem do Programa de Pesquisa de Ursos Polares do US Geological Survey.

Muitos dos ursos polares machos adultos simplesmente se deitaram para conservar energia, queimando calorias em taxas semelhantes às da hibernação. Outros procuravam ativamente por comida, consumindo carcaças de pássaros e renas, bem como frutas vermelhas, algas e gramíneas.

Comparação

Ao todo, os pesquisadores descobriram uma variação cinco vezes maior no gasto energético, desde um macho adulto que descansava 98% do tempo até o mais ativo que percorreu 330km atrás de comida. Algumas fêmeas passavam até 40% do tempo forrageando. No entanto, toda essa atividade não valeu a pena. "Os alimentos terrestres proporcionaram-lhes alguns benefícios energéticos, mas, em última análise, os ursos tiveram de gastar mais energia para conseguir esses recursos", disse Pagano.

Três ursos polares nadaram longamente — um deles 175km na baía. Duas carcaças foram encontradas na água, uma beluga e uma foca, mas nenhum dos ursos conseguiu se alimentar de suas descobertas enquanto nadava, nem trazê-las de volta à terra. Apenas um dos 20 ganhou peso.

O estudo se concentrou na extensão mais a sul da área de distribuição dos ursos polares, no oeste da Baía de Hudson, onde o aquecimento climático, provavelmente, afeta os ursos a um ritmo mais rápido do que outras regiões do Ártico. A população da espécie na área já diminuiu cerca de 30% desde 1987.

Segundo os autores, a pesquisa indica que os ursos polares em todo o Ártico correm o risco de morrer de fome, à medida que o período sem gelo continua a aumentar. "Como os ursos polares são forçados a parar suas atividades mais cedo, isso reduz o período em que normalmente adquirem a maior parte da energia necessária para sobreviver", disse Pagano. "Com o aumento do uso da terra, a expectativa é de que provavelmente veremos um aumento na fome, especialmente entre adolescentes e fêmeas com filhotes."

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