Com o aumento do desmatamento nas florestas tropicais de Uganda, na África oriental, os animais estão ficando sem comida e passando a comer cocô de morcego para sobreviver. A descoberta foi feita por estudiosos da Universidade de Stirling, na Escócia, em parceria com a Universidade de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos e publicada num artigo recente na revista Communications Biology.
A pesquisa começou em 2017 quando os cientistas observaram que um chimpanzé na floresta de Budongo, na Uganda, estava consumindo guano — nome que se dá ao acúmulo de fezes de aves ou de morcegos — de um buraco em uma árvore.
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Os cientistas colocaram câmeras nas florestas para verificar se o comportamento era comum e descobriram ao longo de três anos de filmagens, que chimpanzés e outras espécies de macacos e antílopes foram registrados consumindo guano.
O consumo de guano está associado, para os pesquisadores, com o crescente desmatamento da região, isso porque as florestas locais estão diminuindo nos últimos anos devido à plantação de tabaco.
Um dos principais problemas no consumo de guanos pelos animais é que as fezes de morcegos são repletas de vírus. Um maior contato entre os animais selvagens e esses patógenos, então, aumenta as chances de um microrganismo se adaptar, passar a infectar mamíferos como chimpanzés e até 'chegar' aos seres humanos.
Por isso, amostras de guano foram recolhidas. Nelas, foram descobertos 27 vírus diferentes presentes nas fezes. Entre eles, estava, inclusive, um betacoronavírus — do mesmo gênero de vírus do Sars-Cov-2, o causador da covid-19.
A pesquisa reforça um fato já sabido pela ciência: desmatamento é grande fator de risco para a saúde pública, já que aumenta o contato dos humanos, direta ou indiretamente, com animais selvagens e, consequentemente, com novos patógenos.