
Movidos pela curiosidade e o espírito de aventura, grupos de caçadores-coletores isolados conseguiram desbravar, há 8,5 mil anos, o Mediterrâneo por pelo menos 100km de mar aberto, guiados pelos conhecimentos que tinham das correntezas e das constelações, utilizando embarcações frágeis feitas de madeira e pele de animal. Assim, no mesolítico (período da pré-história entre 10 mil e 6 mil a.C), eles chegaram a Malta — entre a Itália e a Tunísia. Essa aventura teria ocorrido 1 mil anos antes das práticas agrícolas. A revelação é de especialistas internacionais em um artigo científico, publicado na revista Nature.
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Para os arqueólogos, a descoberta é surpreendente porque, até, então, o que se sabia era que o arquipélago europeu tinha sido colonizado há 7,4 mil anos pelas populações neolíticas que compartilhavam com os agricultores do continente um estilo de vida centrado na agricultura e pecuária. A revelação muda a compreensão sobre a capacidade marítima dos primeiros povos do Mediterrâneo. É uma indicação de que essas populações eram capazes de explorar os recursos do litoral e avançar para conexões marítimas mais distantes.
Em Latnija, um pequeno vale próximo ao litoral da ilha de Malta, em uma caverna, os arqueólogos descobriram vestígios de lareiras cobertas de cinzas, datando a ocupação mais antiga de 8,5 mil anos atrás. Havia também ferramentas rudimentares feitas de calcário esculpidos. A autora principal do estudo, Eleanor Scerri, do Instituto Alemão de geo-antropologia Max Planck, afirmou que os caçadores-coletores foram bem-sucedidos. "Realmente se propuseram a alcançar estas ilhas", disse.
Curiosos
Diferentemente do que se acreditava, os caçadores-coletores tinham uma alimentação distinta da adotada pelos agricultores. A dieta deles se baseava em peixes, focas e crustáceos. Também consumiam, com moderação, pequenos animais, como veados vermelhos, raposas, tartarugas e pássaros. Já os agricultores apreciavam cabras, ovelhas, porcos e cereais.
Determinados a desbravar, esses caçadores-coletores seguiam em expedição guiados pelos conhecimentos naturais, como as estrelas e a correnteza. É o que afirma Dylan Gaffney, professor de Arqueologia Paleolítica em Oxford. "(Utilizavam) uma possível canoa de madeira ou uma jangada de juncos ou peles de animais para passar pelo menos um dia e uma noite no mar, com habilidades de navegação, como conhecimento de correntes e possivelmente constelações", enfatizou.
A partir de traços de DNA de caçadores-coletores europeus no pool genético de um agricultor do Magrebe, há 8 mil, os arqueólogos avançaram nas pesquisas. Pelas evidências e análises, a equipe do Instituto Max Planck e da Universidade de Malta acredita que os povos mediterrâneos primitivos tinham a capacidade de fazer "longas viagens de magnitude semelhante às viagens marítimas no Sudeste Asiático, Japão e Nova Guiné", de acordo com o professor Gaffney. Também foi analisado material genético de animais.
As competências surgiram pela necessidade de se adaptar muito antes devido ao aumento do nível do mar no final da última era glacial, entre 20 mil e 10 mil anos. Esse mesmo conhecimento poderia mais tarde ter beneficiado as populações agrícolas neolíticas. "Podemos nos perguntar se isso não favoreceu a rápida expansão da agricultura ao longo da costa mediterrânea", questionou Scerri.
Rinocerontes da pré-história
Os rinocerontes que prosperaram em grande parte da América do Norte há 12 milhões de anos se reuniam em enormes rebanhos, de acordo com um novo estudo da Universidade de Cincinnati, nos Estados Unidos. Pesquisadores estudaram os isótopos de dentes da espécie encontrados no nordeste do Nebraska. Lá, mais de 100 rinocerontes em um único poço de água morreram e foram sepultados em cinzas devido à erupção do supervulcão de Yellowstone.
Desde a descoberta de rinocerontes no Parque Histórico Estadual Ashfall Fossil Beds, em Nebraska, em 1971, pesquisadores se perguntam o que atraiu tantos animais para o mesmo lugar. A questão ainda está em aberto. Mas os cientistas descobriram, por exemplo, que muitos animais morreram em consequência da erupção do vulcão cujas lavas dominam tudo e os filhotes não teriam sobrevivido aos ataques de predadores, como as hienas.
O estudo foi publicado na revista Nature Scientific Reports. “Essas cinzas teriam coberto tudo: a grama, as folhas e a água”, disse autor principal e graduado pela UC, Clark Ward. “Os rinocerontes provavelmente não foram mortos imediatamente como os habitantes de Pompeia. Em vez disso, a morte foi muito mais lenta. Eles estavam respirando as cinzas. E provavelmente morreram de fome.”