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Vendas de carros crescem no Brasil, mas importações acendem sinal de alerta

Em entrevista ao CB.Poder, Igor Calvet, da Anfavea, diz que o setor automotivo teme o impacto da concorrência externa

Calvet defende a recomposição imediata da tarifa de importação, atualmente em 18% -  (crédito: Foto: ED ALVES/CB/D.A.Press)
Calvet defende a recomposição imediata da tarifa de importação, atualmente em 18% - (crédito: Foto: ED ALVES/CB/D.A.Press)

O setor automotivo brasileiro registrou alta de 7,2% nas vendas de veículos no primeiro trimestre de 2025, uma recuperação que se aproxima aos níveis pré-pandemia. No entanto, apesar do avanço, a indústria acende o alerta para o crescimento das importações, que subiram 25% no mesmo período, especialmente vindas da Argentina e da China.

Em entrevista ao CB.Poder — uma parceria entre o Correio Braziliense e a TV Brasília —, Igor Calvet, que assumirá a presidência da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) na próxima terça-feira (15/4), destacou que o excesso de importações pode comprometer a competitividade da produção nacional.

Calvet, que já presidiu a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), defende a recomposição imediata da tarifa de importação, atualmente em 18%, muito abaixo do teto de 35%. Países como Estados Unidos, Canadá e Índia adotam tarifas que variam entre 75% e 106% sobre automóveis importados. A Anfavea teme que, sem ajustes, a indústria nacional possa ser afetada pela concorrência estrangeira, que produz com custos significativamente menores.

“A Anfavea tem pedido para que essa recomposição seja feita imediatamente, sob risco de os produtores brasileiros serem não só prejudicados como aniquilados, no sentido de que suas produções diminuirão muito por conta dessa competição das importações que consideramos desleal", diz Calvet.

A discussão se intensifica em meio ao tarifaço anunciado pelo presidente norte-americano, Donald Trump, que elevou impostos de importação globalmente. Embora o Brasil não exporte veículos leves para os EUA, o efeito colateral pode vir do México. “Com a dificuldade de entrada de veículos mexicanos nos EUA, haverá uma capacidade ociosa no país. O efeito mais imediato é o de uma maior competição de veículos mexicanos no mercado brasileiro”, avaliou Calvet.

Sustentabilidade

Apesar da pressão externa, o presidente da Anfavea reforça que os veículos produzidos no Brasil estão em sintonia com os padrões globais, tanto em tecnologia quanto em sustentabilidade. Ele ressalta que um carro comprado hoje polui 20 vezes menos que um dos anos 2000, graças ao avanço dos biocombustíveis e da eficiência energética. Além disso, cerca de 9% dos veículos emplacados no país já são eletrificados — número que, mesmo pequeno, mostra crescimento expressivo em comparação com 0,5% de cinco anos atrás.

No entanto, Calvet afirma que a eletrificação no Brasil caminhará em um ritmo mais lento do que em países desenvolvidos, devido à renda média da população e à falta de infraestrutura. Para atingir uma rede robusta de veículos eletrificados nos próximos 15 anos, seriam necessários mais de 700 mil pontos de recarga — hoje, há menos de 10 mil. 

Com a COP 30 se aproximando, Calvet quer chamar atenção para o protagonismo da indústria brasileira na descarbonização. Ele destaca que o setor já tem resultados expressivos e que a combinação entre biocombustíveis e eletrificação será o caminho viável para o Brasil. “Quero que a indústria seja reconhecida pelos avanços que já tivemos e que continue produzindo de forma sofisticada no país”, afirmou.

Confira a entrevista completa

*Estagiária sob supervisão de Pedro Grigori

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FG
postado em 09/04/2025 19:02
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