
A empresa norte-americana Colossal Biosciences, conhecida por projetos de “desextinção”, admitiu que os chamados “lobos-terríveis”, recriados em laboratório, não passam de lobos-cinzentos submetidos a alterações genéticas. A informação foi confirmada por Beth Shapiro, cientista-chefe da companhia, ao periódico New Scientist.
Os animais — batizados de Romulus, Remus e Khaleesi — foram geneticamente editados com base em sequências de DNA extraídas de fósseis do verdadeiro lobo-terrível (Aenocyon dirus), extinto há cerca de 10 mil anos. Foram realizadas 20 modificações em 14 genes de lobos-cinzentos vivos com o objetivo de reproduzir características físicas do lobo extinto.
No entanto, a complexidade do genoma original e a grande distância evolutiva entre as duas espécies — que divergiram há cerca de 5,7 milhões de anos — tornam impossível a recriação completa do lobo-terrível. Cientistas apontam que o DNA disponível está extremamente fragmentado, o que inviabiliza a clonagem real da espécie.
“Não é possível trazer de volta algo idêntico a uma espécie que existia. Nossos animais são lobos-cinzentos com 20 alterações genéticas clonadas. Dissemos isso desde o começo. Colocaram o nome de ‘lobos-terríveis’ de forma coloquial, e isso irritou as pessoas”, disse Shapiro ao New Scientist. “Mantemos nossa decisão de nos referirmos a Romulus, Remus e Khaleesi, de forma coloquial, como lobos terríveis”, declarou a empresa anteriormente no X (antigo Twitter).
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A revelação levantou críticas de especialistas ouvidos pelo New Scientist, que acusam a empresa de promover uma versão distorcida da ciência. Para eles, os animais criados pela Colossal são apenas lobos-cinzentos com “roupagem” pré-histórica, e não verdadeiros representantes de uma espécie extinta.
“Leio isso como uma declaração clara do que eles fizeram e não fizeram — e o que eles não fizeram foi trazer de volta um lobo terrível da extinção”, afirmou Richard Grenyer, da Universidade de Oxford. “É transformador, é ciência inovadora — mas não é desextinção.”
Segundo a revista científica, essa discussão reacende o debate sobre os limites éticos e científicos dos projetos de desextinção, e sobre como tais iniciativas podem impactar a percepção pública sobre conservação ambiental.
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