
Chicago — A conhecida caneta de semaglutida, ao ser combinada com a cagrilintida, molécula análoga a um hormônio produzido pelo pâncreas, resulta na redução de duas grandes ameaças à saúde dos brasileiros: a obesidade e o pré-diabetes. É o que mostram os resultados de dois estudos — Redefine 1 e 2 — apresentados neste domingo no congresso científico da Associação Americana de Diabetes (ADA, sigla em inglês), em Chicago, nos Estados Unidos, e publicados, no mesmo dia, no periódico The New England Journal of Medicine (NEJM).
A nova abordagem, desenvolvida pela Novo Nordisk, tem o nome de CagriSema. No Redefine 1, voluntários com sobrepeso ou obesos receberam semanalmente uma dose injetável contendo 2,4mg de semaglutida e 2,4mg de cagrilintida. Após 68 semanas, a perda de peso média foi de 22,7%, sendo que 23% perderam ao menos 30% do peso inicial. Quanto à reversão do pré-diabetes, o índice foi de 93%.
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A estimativa é de que 30% dos brasileiros estão obesos e de que cerca de 40 a 50 milhões têm pré-diabetes. Entender as duas condições como doenças ainda é desafio no país. “O pré-diabetes não é uma pré-doença, já é uma doença, e a pessoa tem que perder peso para não ter o diabetes”, alerta João Eduardo Nunes Salles, presidente eleito da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD). A mesma lógica vale para o excesso de peso. “A obesidade gera doenças, e uma das doenças que ela mais gera é o diabetes tipo 2”, completa o também diretor do Departamento de Medicina da Santa Casa de São Paulo.
O Redefine 2 avaliou os efeitos da combinação das moléculas em adultos com excesso de peso ou obesos e diabetes tipo 2, submetidos à mesma dosagem. Nesse caso, a aplicação semanal de CagriSema associada a intervenções de estilo de vida resultou, após 68 semanas, em redução média de 15,7% do peso corporal, além de melhoras significativas em outros indicadores de saúde, como pressão arterial e taxas de colesterol. Em ambos os estudos, o efeito colateral mais comum foi a náusea, sendo mais incidente nos adultos com excesso de peso e obesidade (Redefine 1).
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Uma análise secundária desse mesmo grupo de participantes também revelou que a metade (50,7%) dos tratados com a nova caneta atingiu o limiar para não obesidade (IMC abaixo de 30). “No Redefine 1, o CagriSema proporcionou perda de peso na mais alta faixa de eficácia observada com intervenções de perda de peso existentes”, ressalta Timothy Garvey, professor de medicina e diretor do Centro de Pesquisa em Diabetes da Universidade do Alabama em Birmingham e pesquisador principal. A Novo Nordisk planeja submeter o uso da CagriSema à aprovação de agências regulatórias internacionais no primeiro trimestre de 2026.
*A jornalista viajou a convite da Novo Nordisk