EXPLORAÇÃO ESPACIAL

A descoberta japonesa que muda o entendimento sobre Vênus

Satélites meteorológicos japoneses, Himawari-8 e -9, revelam Vênus como nunca antes. Por quase uma década, eles preencheram lacunas de dados, corrigiram calibrações de missões e mostraram variações na atmosfera venusiana. Um uso inesperado com potencial contínuo para a ciência planetária

Vênus capturada no espaço adjacente à Terra. A porção inferior esquerda da imagem mostra o nosso planeta -  (crédito: Reprodução/Universidade de Tóquio)
Vênus capturada no espaço adjacente à Terra. A porção inferior esquerda da imagem mostra o nosso planeta - (crédito: Reprodução/Universidade de Tóquio)

Uma nova pesquisa revela o uso inovador de satélites meteorológicos japoneses, Himawari-8 e Himawari-9, para monitorar a atmosfera de Vênus. Os satélites, projetados para observar o tempo na Terra, capturam incidentalmente imagens de Vênus, transformando-se em valiosos "olhos adicionais" para a ciência planetária.

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Pela primeira vez, de acordo com estudo publicado nesta segunda-feira (30/6) pela Universidade de Tóquio, os satélites forneceram um conjunto de dados de infravermelho de Vênus que se estende por quase uma década. Isso preenche lacunas significativas deixadas por missões espaciais anteriores, que tinham cobertura temporal limitada. As imagens são do disco completo do planeta e capturadas a cada 10 minutos.

O estudo trouxe uma descoberta importante sobre a calibração de outras missões a Vênus. A câmera LIR da missão Akatsuki, por exemplo, parece ter subestimado a radiação infravermelha do planeta em 15-17%. Isso é crucial para a reanálise de dados passados da Akatsuki. Em contrapartida, a calibração do instrumento MERTIS da missão BepiColombo foi validada, mesmo para temperaturas tão baixas quanto 230 K.

Os dados do Himawari mostraram variações temporais significativas na temperatura do topo das nuvens de Vênus. Especificamente, as “marés térmicas diurnas”, padrões de temperatura fixos ao Sol, apresentaram mudanças notáveis, especialmente ao amanhecer. As observações de 2023-2025 indicam marés diurnas mais intensas do que em 2015-2016. Essas variações podem estar ligadas a alterações na velocidade do vento e na estabilidade estática da atmosfera de Vênus.

Os pesquisadores japoneses ressaltam que os resultados demonstram o imenso potencial dos satélites meteorológicos para o estudo de Vênus. Eles podem ser a única fonte contínua de dados infravermelhos de Vênus nos próximos anos. Além disso, futuras missões planejadas não cobrirão essas importantes faixas de comprimento de onda infravermelho médio.

O estudo também abre caminho para o monitoramento de longo prazo e multibanda de outros corpos do sistema solar, como a Lua e Mercúrio, auxiliando na compreensão da evolução desses corpos rochosos.

postado em 30/06/2025 12:28 / atualizado em 30/06/2025 12:32
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