
Um grupo de pesquisadores internacionais da França, Canadá, Estados Unidos e Brasil anunciou a descoberta de um novo planeta orbitando a estrela Gl 410, localizada a apenas 40 anos-luz de distância, na constelação de Leão. O achado foi possível graças ao espectógrafo SPIRou — instrumento utilizado para estudar a composição da luz —, instalado no Telescópio Canadá-França-Havaí (CFHT), no topo da montanha sagrada Maunakea, e confirmado com o apoio do espectógrafo SOPHIE, do Observatoire de Haute-Provence, na França.
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A estrela Gl 410 é uma anã vermelha, menor e mais fria que o Sol, categoria que costuma abrigar múltiplos planetas de baixa massa. Após anos de observações, os cientistas identificaram um planeta com período orbital de apenas seis dias e massa cerca de dez vezes maior que a da Terra. Além dele, há indícios de outros dois possíveis planetas, com "anos" de 3 e outro de quase 19 dias, que ainda precisam de confirmação. Se comprovados, formarão um sistema compacto e ressonante, valioso para estudos sobre formação e dinâmica planetária.
O astrofísico José Dias do Nascimento também esteve entre os cientistas envolvidos na descoberta do chamado "planeta-água", o TOI-1452b, localizado a cerca de 100 mil anos-luz da Terra. Descoberto em 2022, o achado chamou atenção da comunidade científica por suas dimensões semelhantes às da Terra, mas possivelmente coberto por um vasto oceano. TOI-1452b vem sendo classificado como um "planeta-oceano", devido à sua composição e densidade compatíveis com grande abundância de água em estado líquido.
Condições extremas
Com órbita tão próxima e curta, Gl 410b recebe 20 vezes mais energia de sua estrela do que a Terra recebe do Sol. Sua temperatura de equilíbrio pode atingir 300 °C, tornando-o semelhante a Netuno, porém muito mais quente. A estrela, cerca de duas vezes menos massiva que o Sol, é jovem, aproximadamente 500 milhões de anos, e apresenta um campo magnético 100 vezes mais intenso que o solar.
"Estudá-lo nos ajuda a entender como atmosferas se comportam sob radiação extrema e ventos estelares fortes. Isso é importante porque muitos planetas em torno de estrelas pequenas e ativas podem passar por processos semelhantes, e saber se eles conseguem manter ou perder sua atmosfera é essencial para avaliar se poderiam, no futuro, ter condições para a vida."
Essa intensidade magnética significa que o planeta está sujeito a tempestades estelares frequentes e violentas, capazes de gerar auroras gigantescas e até erodir sua atmosfera, alterar sua química ou expulsá-la para o espaço. "A maior parte das estrelas na vizinhança do Sistema Solar são anãs vermelhas, pequenas, frias e discretas. Justamente por isso, escondem seus segredos. Detectar planetas ao seu redor é um desafio, mas cada descoberta abre uma nova janela para entendermos a diversidade de mundos que podem existir tão perto de nós", afirmou Nascimento.
A descoberta integra o SPIRou Legacy Survey, um programa franco-canadense que acumulou 310 noites de observações ao longo de três anos, combinadas a dados do SOPHIE entre 2021 e 2023. Foi publicado em 4 de julho de 2025 na revista Astronomy & Astrophysics (A&A).
Confira animação da órbita do planeta
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